quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Desafio do Mundo Moderno


O presente artigo trata da questão da ética cristã a partir do século XVI que, era obrigada a confrontar dois grandes desafios: os novos modos e possibilidades de conhecimento; e a noção generalizada a qual os valores fundamentais da vida só podiam ser determinados pela razão, livre da tutela da revelação. Do ponto de vista da razão, quase tudo que o cristianismo afirmava sobre Deus e a vida humana era inevitável e, portanto, duvidoso.
Já no século XVIII a ética cristã passou por uma fase de retratação frente ao avanço das tendências racionalistas e procurou simplesmente preservar certo respeito às classes superiores. Nessa mesma época, essas classes estavam empenhadas em criar um novo sistema políco-econômico: a sociedade industrial, que revelaria um total desrespeito a dignidade humana.
Os séculos XIX e XX foram fecundos em realizações e teorias em todos os setores da vida humana. No entanto, quanto ao seu progresso moral da sociedade humana, foi ambivalente e contraditório.
Hoje o conhecimento do mundo natural é imenso e continua crescendo; mas a possibilidade de destruirmos a nós mesmos e o planeta Terra é mais real do que nunca. O desafio que o mundo moderno lança a fé e a vida cristã é contundente e incontornável. Neste caso, é uma prova de fogo para que a ética cristã redefina suas verdadeiras prioridades.
O autor afirma que a partir do interesse pelas ciências, que Descartes escreveu o Discurso sobre o método, publicado em 1637, para expor seu modo de pesquisa da verdade. Apesar de reconhecer a importância da experiência científica, o interesse primordial de Descartes não era estudar o universo como tal, mas a maneira como método científico, objetivo, permite acesso ao conhecimento da realidade.
Descartes argumenta em favor de certo ceticismo básico como condição preliminar da reflexão sobre a realidade. Propõe que toda investigação seja acompanhada de “dúvida metódica” e que a reflexão seja feita somente na base daquilo que for incontestavelmente certo e acima de dúvida.
Na opinião de Descartes, somente dessa forma, se poderia avançar, por meio de sucessivas deduções, até se chegar a um conhecimento mais profundo da realidade. Portanto, Descartes, constata que em qualquer percepção do mundo requer não somente experiência sensorial, mas também reflexão.
Já em 1748 o filósofo escocês David Hume publicou Ensaio sobre a compreensão humana, que ele se coloca na posição de uma pessoa razoável e cordata que deseja honestamente saber se os frutos do seu pensamento podem ser considerados conhecimento seguro. Hume rejeita o método cartesiano.
Hume, então, propunha um método mais simples para desencravar a filosofia moral: admitir que todas as nossas idéias dependessem de sensações ou de lembranças de sensações; são parcas reproduções da realidade.
Na filosofia de Hume, fica evidente seu desinteresse em experimentos científicos. Ele não esperava que esses contribuíssem para ampliar o conhecimento humano. Hume subestimava a importância da pesquisa como meio de se chegar à certeza científica. Hume, como afirma J. R. Lucas, acreditava que o ser humano apenas desempenhava um papel passivo no processo do conhecimento. Ele não leva em conta que é preciso agir, fazer certas coisas, para descobrir conexões de causalidade no mundo que nos envolve e especialmente entender o que pode ser verdade e o que não pode.
Apesar disso os argumentos de Hume causaram um impacto definitivo na maneira de pensar do nosso tempo. O nosso raciocínio sobre as realidades do mundo não traz nenhuma garantia de certeza absoluta; e que a razão humana não pode fornecer um fundamento absoluto para as afirmações da ciência, e muito menos da moral da religião. Nesse sentido, Hume foi quem estabeleceu, segundo o autor, a relatividade do pensamento moderno.
Em sua conclusão, o autor defende a idéia que vários avanços da ciência física levantam inevitavelmente duas questões que tem óbvias implicações teológicas e éticas. Uma é saber se ainda faz sentido falar de ordem no universo, e outra se o universo encerra algum significado personalista.
A primeira questão merece uma resposta afirmativa. O princípio da incerteza, ou da casualidade, não compromete a ordem do universo, embora a torne mais complexa. Alguns cientistas assinalam que, a partir dos primeiros instantes da expansão do universo, as energias em jogo teriam de operar em limites muito rígidos se um dia a vida inteligente deveria surgir.
É verdade que a ordem do universo é ao mesmo tempo complexa e bela. Se nosso conhecimento atual do universo físico comporta a idéia da livre cooperação de seres racionais com um suposto desígnio criativo superior, que noção de Deus isso implica? Nesse sentido, o autor enfatiza o falar de um universo governado por um Deus pessoal.
Por outro lado, segundo o autor, há pelo menos um teólogo de envergadura que pensa o contrário: James M. Gustafson, que consagrou a maior parte de sua vida à ética teológica, chegou à conclusão que os cristãos ainda não levam suficientemente a sério aquilo que hoje conhecemos sobre a realidade do universo e, que continuamos a usar a Palavra de Deus como referência aos poderes do universo que consideramos necessário para explicar a existência humana.
Existe, no entanto, [afirma o autor] uma alternativa radical à posição de Gustafson: não há nada ilógico em imaginar um relacionamento entre Deus e o universo, e afirmar que todos os fatos do universo são resultado direto da vontade criadora de Deus, que o universo como um todo existe em virtude dessa vontade e que cada movimento ou impulso no universo opera segundo essa vontade.
Tal linha de pensamento não seria não seria necessariamente determinista desde que se leve em conta que a vontade divina inclui também a liberdade dos seres humanos; e nem seria panteísta, no sentido de identificação entre Deus e a Criação, considerando-se que o Deus que exerce sua vontade absoluta na criação permanece senhor da criação.
Este pensamento nos permite afirmar que, se a vida humana tem um propósito, ele só faz sentido no quadro geral do propósito de Deus para a criação como um todo; ou teologicamente, se a vida obedece a um propósito redentor, este só fará sentido se a vida estiver em um propósito de redenção.
Obviamente que o autor enfatiza ao dizer isso, uma afirmação de fé, articulada da perspectiva de uma teologia da salvação em Cristo, ou seja, à luz de uma experiência salvífica pessoal. Somente a experiência da redenção pessoal pode corroborar de que a redenção é também o alvo de toda a criação.

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