Papa defende ampliação do conceito de defesa do ambiente
Fonte: www.agenciasoma.org.br
11/1/2010 - 18h36m
Já corre o mundo a notícia da declaração do papa Bento XVI sugerindo que os projetos de lei que oficializam o casamento entre pessoas do mesmo sexo é ameaça à Criação। Disse o líder católico, numa reflexão buscando evidenciar "a complexidade da problemática do ambiente", em discurso de "bons votos de início de ano" para o Corpo Diplomático do Vaticano, nesta segunda-feira, 11/1, na Santa Sé: "As criaturas são diferentes umas das outras e podem ser protegidas ou, pelo contrário, colocadas em perigo de diversas maneiras, como no-lo demonstra a experiência diária. Um destes ataques provém das leis ou dos projetos que, em nome da luta contra a discriminação, atentam contra o fundamento biológico da diferença entre os sexos. Refiro-me, por exemplo, a países europeus ou do continente americano". Ele disse ainda: "a liberdade não pode ser absoluta, porque o homem não é Deus, mas imagem de Deus, sua criatura. Para o homem, o caminho a seguir não pode ser fixado pelo que é arbitrário ou apetecível, mas deve, antes, consistir na correspondência à estrutura querida pelo Criador". O contexto da declaração do papa foi um balanço de realizações e discursos de 2009. Ele abordou outros temas de importância social. Por exemplo, fez um convite a todos para protegerem a criação. Lembrou que "a Santa Sé e a Federação da Rússia estabeleceram relações diplomáticas plenas"; "a visita do Presidente da República Socialista do Vietnam, país caro ao meu coração"; e "a crise dramática que atingiu a economia mundial, provocando uma instabilidade social grave e generalizada. Na encíclica Caritas in veritate, convidei a procurar as raízes profundas desta situação: em última análise, encontram-se numa mentalidade egoísta e materialista corrente, esquecida dos limites inerentes a toda a criatura". Referindo-se a Conferência do Clima da ONU, o papa lembrou que esta mentalidade ameaça igualmente a criação: "compartilho a preocupação crescente causada pelas resistências de ordem económica e política na luta contra a degradação do ambiente. Trata-se de dificuldades que se puderam constatar ainda ultimamente, em Copenhague de 7 a 18 de Dezembro passado. Espero que no decurso deste ano, primeiro em Bona e depois no México, seja possível chegar a um acordo para enfrentar de maneira eficaz esta questão. Trata-se de uma aposta tanto mais importante quanto em jogo está o próprio destino de algumas nações, nomeadamente alguns Estados insulares". O religioso chamou a atenção para a necessidade de uma abordagem mais ampla da defesa do meio ambiente: "como se poderia separar ou mesmo contrapor a proteção do ambiente e a da vida humana, incluindo a vida antes de nascer? É no respeito da pessoa humana por ela mesma que se manifesta o seu sentido da responsabilidade pela criação"; "como recordei na recente Cimeira Mundial da FAO sobre a Segurança Alimentar, "a terra é capaz de alimentar suficientemente todos os seus habitantes", desde que o egoísmo não leve ao açambarcamento por alguns dos bens destinados a todos"; e "a salvaguarda da criação implica uma gestão correta dos recursos naturais dos países e, em primeiro lugar, daqueles que se encontram economicamente desfavorecidos. Penso no continente africano, que tive a alegria de visitar por ocasião da minha viagem aos Camarões e a Angola no passado mês de Março". Neste caso, Bento XVI manifestou preocupação com "a erosão e a desertificação de amplas extensões de terra cultivável, por causa da exploração selvagem e da poluição do ambiente" na África: "é necessário adotar opções políticas e econômicas capazes de assegurar "formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos". O papa mencionou também o receio de uma crescente passividade das autoridades com as drogas: "eu queria pedir, uma vez mais, à comunidade internacional que não se resigne com o tráfico da droga nem com os graves problemas morais e sociais que a mesma gera". O problema do aumento das despesas militares e também o da manutenção e desenvolvimento dos arsenais nucleares foi outro tópico do balanço anual do papa. "Enormes recursos econômicos são absorvidos por tais finalidades, quando poderiam ser destinados para o desenvolvimento dos povos, sobretudo dos mais pobres. Por este motivo, espero firmemente que, por ocasião da Conferência para o exame do Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, que se realizará no próximo mês de Maio em Nova Iorque, sejam tomadas decisões eficazes em ordem a um desarmamento progressivo, que vise libertar o mundo das armas nucleares. Alargando mais o horizonte, deploro que a produção e a exportação das armas contribuam para perpetuar conflitos e violências, como no Darfour, na Somália ou na República Democrática do Congo. À incapacidade das partes diretamente implicadas para saírem da espiral de violência e sofrimento gerada por estes conflitos, junta-se a aparente impotência dos outros países e das organizações internacionais para restabelecerem a paz, sem contar a indiferença quase resignada da opinião pública mundial". Sobre o terrorismo, afirmou: "como não mencionar o terrorismo, que põe em perigo tantas vidas inocentes e provoca uma difusa ansiedade?" As migrações mundiais foram alvo de outro apelo: "As graves violências que acabo de evocar, associadas aos flagelos da pobreza e da fome e também às catástrofes naturais e à destruição do ambiente, contribuem para engrossar as fileiras daqueles que abandonam as suas próprias terras. Face a tal êxodo, desejo exortar as Autoridades civis a diversos títulos nele interessadas para que trabalhem com justiça, solidariedade e clarividência". Enfim, defendeu a maior participação cristã na educação do povo: "as raízes da situação, que está à vista de todos, são de ordem moral e a questão deve ser enfrentada no quadro de um grande esforço de educação, para promover uma real mudança das mentalidades e estabelecer novos modos de vida. A comunidade dos crentes pode e quer participar nisso, mas, para o fazer, precisa que o seu papel público seja reconhecido. Infelizmente em certos países, sobretudo ocidentais, difundiu-se nos meios políticos e culturais, bem como nos mass media, um sentimento de pouca consideração e por vezes de hostilidade, para não dizer menosprezo, para com a religião, particularmente a religião cristã. É claro que, se se considera o relativismo como um elemento constitutivo essencial da democracia, corre-se o risco de conceber a laicidade apenas em termos de exclusão ou, mais exatamente, de recusa da importância social do fato religioso. Mas uma tal perspectiva gera confronto e divisão, prejudica a paz, perturba a ecologia humana e, rejeitando por princípio atitudes diversas da sua, torna-se uma estrada sem saída. Por isso, é urgente definir uma laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favoreça uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada".
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