quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sacramentos como Graça de Deus

Batismo recepção de novos membros na comunhão da Igreja

Depende unicamente da graça de Deus para que os homens encontrem o caminho da fé e para a comunidade cristã, a graça que antecede a toda ação humana e cria a possibilidade de receber a salvação. Essa salvação que está fundamentada na reconciliação em Cristo (2 Co 5.19-21) – e que liberta das cargas e cura das feridas do pecado pelo qual o homem foi afastado da comunhão com Deus – é oferecida a todos os homens no anúncio do Evangelho e apropriada pessoalmente no Batismo, pelo qual o homem é recebido na comunhão da nova vida com Deus, se exprime o aspecto objetivo e visível do evento da salvação. O fim do Batismo que a Igreja realiza por incumbência de Cristo, é tornar visível a justificação e aceitação dos que estavam separados de Deus, o que só se realiza pela graça. Deus que nos deu a vida terrena, quer dar-nos também a vida eterna, na aquisição da qual nossos próprios esforços não são necessários, nem teriam qualquer sentido. No Batismo o homem pecador é entregue como propriedade a Cristo crucificado e ressurreto e uma nova vida lhe é conferida pelo poder de Cristo e de seu Espírito.

Tal como a Ceia, o Batismo é “palavra visível de Deus”, sinal válido, instituído por Cristo, da nova comunhão, em que ele recebe os batizados. A esta recepção deve corresponder o sim da fé nos batizados, pelo qual se recebe a salvação de Deus. Batismo, fé e comunidade pertencem, portanto, objetivamente, um ao outro; nenhum dos três pode existir dentro da compreensão da tradição neo-testamentária, sem os dois outros.

O Batismo é “penhor e sinal eficaz de que a ação salvadora de Deus se aplica pessoalmente ao batizado”. Alem disso, ele deve ser respondido com o sim da fé do homem, o qual assim faz valer livremente para si o que Deus fez em seu favor. Assim ele afirma, ao mesmo tempo, a sua nova identidade de filho de Deus, que lhe foi conferida no Batismo. Juntamente com os nomes do Deus trino, é pronunciado o nome do batizando, com o que fica claro que pertence a Deus, que em sua fidelidade vai atrás do homem, e com amor paciente espera ser correspondido neste seu amor.

Na tradição metodista, neste conceito é vista a aliança de Deus que coloca o fundamento de uma comunhão renovada entre Deus e homens, tanto na aliança antiga com Israel como na aliança nova para todos os povos. O Batismo é o sinal dessa nova aliança da graça de Deus, da qual não são excluídas nem mesmo as crianças.

Já em seu tratado “Sobre Batismo”, Wesley chamara de “entrada da aliança de Deus” um dos efeitos do Batismo; mais tarde, em conexão com o “culto de renovação da aliança”, esta relação foi intensificada. Neste sentido, o culto (de renovação da aliança) com a Santa Ceia é entendido como certificação da graça do Batismo e como um novo compromisso de viver para Cristo e não para si mesmo.

O culto de renovação da aliança com Deus é para a atualização da palavra salvífica de Deus recebida no Batismo (das crianças) e para a renovação das promessas do Batismo, e ainda para a satisfação da necessidade dos cristãos, que receberam o Batismo infantil, de experimentarem a grande alegria nesta, como que, repetição do Batismo, pois aí se trata da integração, vivida pessoalmente, na salvação; tudo confessado publicamente numa reunião festiva da comunidade. Tal cerimônia é ainda hoje em dia, frutuosamente celebrada nas igrejas metodistas, e chamada de “renovação da aliança batismal” durante a qual jovens e adultos são batizados e recebidos na Igreja. Com isso se cria um remédio contra o perigo da desvalorização do Batismo, que surge na praxe batismal pouco diferenciada – o que, aliás freqüentemente é aduzido para um argumento de um segundo Batismo. Quando Batismo e fé, bem como a integração compromissada na comunidade, são tomados a sério – então o Batismo deixará de ser algo que não tem referência ao compromisso da fé.

Embora o Batismo faça parte da recepção na Igreja, não o consideramos necessário para a salvação. Quanto ao valor de salvação, atribuído a ele pela Palavra de Deus, este não depende de uma “correta” doutrina da fé, nem de determinadas concepções doutrinárias ou dogmáticas (que frequentemente restringem a fé através de intelectualizações).

O fundamento decisivo da salvação é o amor incondicional de Deus, que no Batismo é atribuído a cada indivíduo e que o crente (mais tarde) aceita livremente, e assim reconhece a sua natureza de filho de Deus.

Baseados nessa compreensão do Batismo – apesar das duas práticas de Batismo infantil e Batismo de adultos – podemos falar de um só Batismo, pois “o que Deus faz no Batismo não só se torna válido, só posteriormente, pela fé subjetiva, nem recebe caráter daí de verdadeiro”. Por isso podemos concordar com a observação de F. Herzog: as crianças não pertencem à Igreja porque seus pais são membros da mesma; mas, certamente foi uma “intuição correta” da Igreja compreender que a renovação do homem não depende do fato de que alguém é dono de razão desenvolvida, ou de capacidade madura de raciocínio; não é preciso ser adulto para participar naquilo que acontece no Batismo.

“Decisiva para o Batismo de crianças é somente a certeza de que mesmo a palavra divina não entendida age sobre a consciência – sobretudo no âmbito da comunidade cristã”.

Foi de maneira muito feliz que teólogos e leigos metodistas da França – depois de muitas conversações e diálogos sobre concepções concorrentes de Batismo – assim formularam o sentido a ser dado tanto no Batismo de crianças como de adultos:

“É certo que a fé é sempre a resposta à ação salvadora de Deus; mas o momento da resposta da fé pode ser adiada. Os que foram batizados como crianças dão a resposta no momento em que o Espírito de Deus lhes abre os olhos e o coração à salvação, que já lhes foi oferecida. Também os batizados na idade adulta devem, segundo Romanos 6, ser sempre de novo exortados a darem a sua resposta de fé em obediência. Não é necessário que a fé primeiro crie as bases sobre as quais Deus possa atuar, porque o fundamento foi posto em Jesus Cristo, de uma vez para sempre. Visto sobre este fundo, também o Batismo de crianças é Batismo no sentido bíblico. É evidente que os seus efeitos devem ser recebidos sempre de novo na fé”.

Esta conexão característica e polar entre a palavra de salvação (no anúncio do Evangelho e no Batismo) e aceitação de salvação (na fé e na confissão pessoal dos batizados), também aparece na estrutura da Igreja Metodista: a recepção na Igreja pressupõe não só o Batismo mas também a profissão de fé – o Batismo como afirmação visível e válida do amor de Deus; a profissão como amor audível e pessoal da resposta de fé do homem.

“O Batismo – afirmamos juntos com as outras Igrejas – é o fundamento irrenunciável para se tornar membro da Igreja; é conferido uma só vez e para sempre, sem repetição, assim como Cristo morreu uma só vez, e para sempre”.

Quem foi batizado em criança e se decidiu pela confissão pessoal da fé, está apto para a recepção na comunidade dos crentes; quem, sem ter sido batizado, encontra o caminho para a fé em Cristo, receberá o santo Batismo, como primeiro passo para entrar na Igreja.

“Por isso, Batismo e recepção como membro da Igreja constituem basicamente um só evento, mesmo quando separados pelo tempo, como no caso do Batismo infantil. O Batismo não pode, por si só, ser considerado suficiente, mas em união com fé, vida e anúncio, na comunidade”.

O sim da fé encontra a sua expressão visível e constatável na solenidade da recepção como membro da Igreja. Quem encontrou a Deus e a si mesmo novamente, agora encontra nos outros cristãos a comunidade daqueles que estão unidos na caminhada para chegar à meta de suas vidas, isto é, a comunhão plena e perfeita com Deus.

A institucionalização da recepção de cristãos adultos na Igreja é um aspecto essencial com que se auto-define a Igreja Evangélico- Metodista. Base para essa recepção não é submeter a sua fé à prova –coisa impossível a homens – mas manifestar a aceitação da salvação, dada em Cristo de forma visível no Batismo e audível na confissão de fé, para que sua credibilidade seja testemunhada pela comunidade.

Os que foram recebidos como membros da Igreja se comprometem a levar uma vida sob a condução do Espírito de Deus e a participar na vida e no serviço da Igreja. Os outros membros da Igreja se comprometem a aceitar os recém-professos como irmãos e irmãs e levá-los “a experimentar o amor e o companheirismo cristão, em comunhão cordial”. Cada batizado é assim responsabilizado

“a reconhecer e atestar, por toda a sua vida, a salvação atribuída no Batismo, de amar a Deus e conduzir-se como quem pertence a Cristo e à sua Igreja”.

A conclusão, por um culto divino, do processo de educação religiosa de crianças da idade de 12-14 anos – freqüentemente chamado “consagração” – não deve ser identificada com recepção como membros da Igreja, pois se trata de dois processos diferentes, embora festejados solenemente. Entretanto, no mesmo culto divino podem ser “consagrados” jovens que terminaram sua instrução religiosa e outros, homens e mulheres, jovens ou adultos, podem ser recebidos como membros plenos da Igreja, ficando assim claro a todos os participantes que quem recebe o diploma da instrução religiosa não é por isso, ainda, recebido na Igreja. Neste culto fica igualmente evidente que a comunidade cumpriu a promessa, feita por ocasião do Batismo das crianças, de instruí-las na fé cristã. Ao mesmo tempo, a comunidade espera em oração pela decisão pessoal e se prontifica a oferecer a esses jovens, em seu meio, espaço para viver e se desenvolver, até pedirem a sua recepção como membros plenos e responsáveis, por decisão livre pessoal. Desta forma, ficam satisfeitos os dois lados da ação salvadora de Deus: o amor incondicional, que em Cristo reconcilia todo o mundo com Deus e oferece salvação a todos os homens, bem como a capacitação e a plena e livre escolha dos crentes para um sim próprio e pessoal, em que fazem valer para si o amor de Deus e a aceitação sua como filhos e filhas amadas.


Bibliografia:

KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça de Deus: Um Compêndio de Teologia Metodista / Walter Klaiber e Manfred Marquardt; [Tradução: Helmuth Alfredo Simon]. São Bernardo do Campo, Editeo, 1999. pg. 353-357.

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