sábado, 18 de dezembro de 2010

Um Natal de Esperança

Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão Dez/2010
Ao chegar o mês de dezembro muitas coisas mudam, por exemplo, as lojas mudam a decoração, o comportamento das pessoas é alterado para um clima de harmonia e festa, e por aí vai. Dizem que as pessoas se deixam envolver pelo espírito do natal e, consequentemente, agem e sentem de modo diferente, mais fraterno e humano. Essas mudanças são tão marcantes e visíveis que já no início do século 20 o escritor Machado de Assis chegou a exclamar: "Mudaria o Natal ou mudei eu?" em seu poema Sonetos de Natal publicado em Poesias Completas em 1901. A grande questão é o porquê as pessoas comportam assim somente nessa época do ano? Parece que descobrem mais beleza na vida e vivem sorrindo para os outros e para suas próprias vidas, como se estivessem na vida a passeio. Não seria uma hipocrisia? Será que há mais esperança para as pessoas nessa ocasião? Afinal, o que muda, de fato, no dia 25 de dezembro?

Jesus, o nazareno

Para responder as perguntas acima, o primeiro fato que há de se considerar é o local e a data do dia 25 de dezembro para se comemorar o natal. Será que Jesus realmente nasceu dia 25 e em Belém? Os relatos bíblicos de Mateus e Lucas que trazem a infância de Jesus não informam a data do nascimento do Messias, mas nos dizem que a cidade que Jesus nasceu é Belém. Essa não é a versão do evangelista Marcos que aponta ser em Nazaré. O fato é que tanto Mateus como Lucas, na fase adulta de Jesus o chamam de “Jesus de Nazaré”, por exemplo, o fato narrado por Mateus quando Pedro nega a Jesus, ele conta que uma criada estava no Pátio e ao ver Pedro afirma: “Tu estava com Jesus, o Galileu (...) e saindo para o vestíbulo, outra criada o viu e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o nazareno” (Mt 26.69-71). Também percebemos o povo gritando em sua entrada triunfal em Jerusalém: “Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia” (Mt 21.11).

O mesmo acontece na narração lucana onde é mencionado que Jesus nasceu em Nazaré, embora o evangelista Lucas cite no capítulo 4 verso 16 que ele fora criado em Nazaré, sempre o chama de “Jesus de Nazaré”, por exemplo, ao realizar uma cura em Cafarnaum (Lc 4.34), ao curar o cego de Jericó (Lc 18.37), no caminho de Emaús no capítulo 24. No livro de Atos dos Apóstolos, também de autoria do evangelista Lucas, quando se refere a Jesus, o autor o trata da mesma forma (At 2.22; 3.6; 4.10; 10.38; 22.8).

Jesus, o belemita

Por que o local do nascimento de Jesus é considerado no mundo todo como sendo em Belém? O sacerdote e biblista argentino, Ariel Álvarez Valdéz, da Universidade Católica de Santiago de Esterro, Argentina, defende que isso é um fato histórico que precisa ser considerado, ou seja, os dois evangelistas, Mateus e Lucas, “quiseram afirmar que Jesus era o famoso Messias esperado pelo povo de Israel”, por essa razão eles citam que o nascimento de Jesus se deu em Belém, além do mais, segundo o biblista “o povo precisava entender que era necessário relatar a origem de Jesus levando em consideração a mentalidade judia, neste caso o futuro Messias deveria ser um descendente da família de Daví. Por volta do ano 500 a.C., apareceu em Jerusalém um profeta anônimo dizendo que o Messias viria de Belém. Essa profecia se encontra hoje no livro de Miqueias” (5.1-3), disse.

Se levarmos em conta a profecia de Natan (2Sm 7.4-16), Álvarez tem razão, pois a profecia diz que Deus havia garantido a Davi que nunca iria faltar um descendente seu como sucessor no trono de Jerusalém. O profeta Miqueias, segundo Álvarez, quis dizer que “Deus não olhava com bons olhos a cidade de Jerusalém porque era uma cidade que havia prostituído tantos reis com o poder e não era um bom lugar para nascer o Messias Ungido, e Davi, o rei mais humilde que houve em Israel, havia nascido em Belém. Portanto, se os judeus quisessem um novo rei deveriam preparar o ambiente como Belém”. Álvarez acrescenta ainda que a profecia “não pretendia fixar um lugar geográfico para o nascimento do sucessor do rei, o Messias Ungido, mas era uma proposta para aos governantes de voltarem à humildade e sensibilidade de suas origens. Ela era uma advertência do que Deus queria para os reis de Israel”.

Como surgiu o dia 25 de dezembro?

Para os cristãos, o local onde nasceu Jesus é indiferente, pode ser em Belém ou Nazaré. O que importa, de fato, é que Jesus é o Messias. O que dizer, então, do dia 25 de dezembro? Pois os evangelhos não mencionam a data exata do nascimento de Jesus. O pastor metodista, Edson Cortásio Sardinha, em matéria publicada no Jornal Avante, afirma que “a data do dia 25 de dezembro foi fixada pelos pagãos para celebrar o nascimento do sol Natalis solis invicti. Os pagãos só começaram a celebrar essa data no ano 274 d.C. Nesse período, a igreja estava passando pelos seus últimos e terríveis dias de perseguição. O paganismo estava ainda forte, e esta foi uma estratégia para apagar as raízes do Cristianismo e formar raízes religiosas nos pagãos”.

No ano 336, a Igreja de Roma assimilou essa festividade pagã como data do nascimento de Jesus Cristo, prática essa que começou a ser difundida a partir de Roma para as demais igrejas cristãs. Finalmente, em 440 d.C., o dia 25 de dezembro foi oficialmente estabelecido como data do nascimento de Jesus, o que, até hoje, é aceito por toda cristandade.


O que muda para as pessoas nessa época do ano?

Começamos esse texto dizendo sobre as mudanças significativas na vida das pessoas nessa época do ano, aliás, parece que todo mundo fica calibrado pelo espírito natalino fazendo germinar algumas características humanas benéficas que, durante todo o ano estiveram arquivadas lá no fundo da personalidade de uma grande maioria das pessoas.

Quando chega o Natal, as pessoas começam a ser mais sensíveis, elas abrem seus corações, muitas vezes, cheios de mágoas, ódios e tristezas para dar lugar à solidariedade estendendo as mãos como um gesto acolhedor de bondade, paz, alegria, festa e comunhão.

Nota-se no mês de dezembro uma nova energia que paira no ar, um espírito de otimismo se preparando para celebrar o nascimento de Jesus, mesmo que a pessoa não foi à Igreja com freqüência durante o ano, mas ela está envolvida nessa magia celestial. Uma grande maioria das igrejas cristãs prepara seus corais para exibirem as vozes dos tenores, contrautos e baixos em diversas apresentações, dentro e fora das igrejas como uma forma de anunciar a chegada do esperado Messias.

Não há dúvida, há uma nova esperança nesse mês! O comércio por sua vez, aproveita a ocasião fazendo a inversão dos valores ao afirmar que um Natal feliz é aquele que você ganha e doa presentes. Como cristãos, não podemos cair nessa cilada do comércio e gastar, sem um planejamento, pois no início do ano as despesas aumentam, por exemplo, IPVA, material escolar, IPTU, matrículas entre outras, além de embutir na cabeça das crianças que no Natal elas têm que ganhar presente. E as crianças de baixa renda? Como ficam nessa época do ano?


Quem ganha com o Natal?

Várias campanhas surgem nessa época do ano para beneficiar crianças carentes, por exemplo, alguns Supermercados são postos de arrecadação de brinquedos usados, e instituições como a UNIMED em João Pessoa que arrecadou toneladas de alimentos desde 2004. A Campanha está em sua 11ª edição, e a ideia é mobilizar todos os anos clientes, funcionários e cooperados na arrecadação de alimentos para doar a famílias carentes da Grande João Pessoa. De acordo com o site da instituição, O Natal pela Vida é promovida pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome Pela Vida (COEP) e pelo Sistema Correio de Comunicação, em parceria com a Unimed João Pessoa e demais entidades participantes.

A iniciativa, que já arrecadou mais de 3 mil toneladas de alimentos para este ano, faz parte das ações que buscam alcançar os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que devem ser atingidas por 191 países, inclusive o Brasil, até 2015.

Mais de 40 mil famílias espalhadas em 60 comunidades da Grande João Pessoa e de cidades do interior do Estado serão beneficiadas. A meta da cooperativa, para este ano, é de arrecadar 100 toneladas de alimentos, sendo 30 toneladas de fubá, 25 de açúcar, 20 de arroz, 15 de feijão e 10 de macarrão. A proposta de priorizar a arrecadação dos cinco tipos de alimentos é levar em conta não só a quantidade, mas o valor nutricional dos alimentos arrecadados para a Campanha Natal pela Vida. Esse é apenas um exemplo de instituições que fazem ações concretas para beneficiar famílias nessa época do ano.


Como contribuir?

Que tal começar a praticar agora mesmo, espalhando alegria, entusiasmo pela vida e felicidade para as pessoas? Um sorriso amigo, um abraço, um elogio, um carinho, algumas palavras cordiais ou de amor durante todo o ano não custam nada, você os tem dentro de si em fonte inesgotável! Existem outras formas de garantir um Natal feliz para as crianças, como por exemplo, o “adote uma criança” que pode ser desenvolvido com as crianças carentes de sua comunidade. Mas, não basta dar o presente, tem que dar amor, atenção, o importante é apresentar uma visão participativa, inclusiva e presencial no momento de entregar um presente, o casaco ou fazer uma refeição junto com as crianças; o retorno será sempre um sorriso dobrado.


Neste Natal, vamos produzir mais esperança. Isso é tudo que o povo precisa, apenas de esperança! O biblista, Dr. Milton Schwantes, professor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista e no programa de Pós Graduação em Ciências da Religião na mesma Universidade, diz em seu livro Sofrimento e esperança no exílio que “os moradores das periferias urbanas viraram imensos acampamentos. As pessoas foram ficando sem nada, a não ser a escravidão ou o salário. Os povos latino-americanos foram transformados em exilados em seus próprios países. Aqui são habitantes. Mas aqui não são cidadãos” (p. 9). No exílio havia esperança! Esses imensos acampamentos é que precisam ser alcançados por cada um de nós.


Termino essa reflexão desejando um Natal com muita paz e alegria e que este ano que se inicia, não seja apenas um começo de ano, mas uma nova história em sua igreja, na sua família, em seus projetos pessoais e, principalmente, permita que o espírito natalino te envolva todos os dias do ano com a solidariedade, amor e compaixão do próximo.


Boas festas!

Pr. José Geraldo Magalhães Jr.

Veja também:

Rede Nacional de Mobilização Social http://www.coepbrasil.org.br  

Objetivos do Milênio http://www.objetivosdomilenio.org.br/  

Organização das Nações Unidas Brasil http://www.onu-brasil.org.br/  

Instituto de Responsabilidade Social de João Pessoa


Site da Sede Nacional da Igreja Metodista www.metodista.org.br
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cai número de novas infecções com HIV

O relatório anual sobre a situação da epidemia de Aids em 182 países trouxe boas notícias sobre a redução no número de casos de mortos e infectados pela doença. Segundo o documento publicado no início desta semana, 23 de novembro, pelo Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids, Unaids, e a Organização Mundial da Saúde, OMS, houve uma redução de 20% nos novos casos de contaminação, se comparada com a situação de 10 anos atrás. Somente em 2009, 2,6 milhões de pessoas contraíram o vírus e a Aids matou 1,8 milhão, 300 mil a menos que em 2004. O índice de contaminação é de 10,5% e o de homens que não têm relações homossexuais é de 0,8%. No Brasil, a prevalência entre adultos continua menor que 1%, por causa do tratamento com antiretrovirais e campanhas de prevenção.

Tratamento e prevenção
O avanço nos tratamentos com anti-retrovirais, medicamentos que reduzem a carga viral do HIV e, consequentemente, diminuem a probabilidade de progressão da doença, foram apontados como os responsáveis pelo prolongamento da vida das pessoas que vivem com HIV. No final de 2009, foi constatado que 33,3 milhões de pessoas estão conseguindo viver mesmo estando infectadas.

De acordo com o diretor-executivo do Unaids, Michel Sidibe, os investimentos em prevenção e tratamento estão dando certo, mas segundo ele, ainda há muito trabalho a ser feito. O Unaids informou que a quantidade de pessoas tratadas com antiretrovirais passou de 700 mil em 2004 para 5 milhões em 2009. Outra razão para a redução de casos é o uso de preservativos nas relações sexuais. Para Sidibe, “os investimentos na resposta à Aids estão dando resultados, mas os avanços ainda estão frágeis - o desafio agora é como trabalharmos todos juntos para acelerar o progresso".

É possível observar que os programas de prevenção estão gerando resultados positivos ao analisar dados como a redução, em cerca de 20%, nos casos de novas infecções em pelo menos 56 países, incluindo 34 da África subsaariana. Ainda assim, esta região continua sendo a mais afetada do mundo por novos casos. 69% de todas as novas infecções.
De acordo com o relatório das Nações Unidas, Etiópia, África do Sul, Zâmbia e Zimbábue também vêm reduzindo suas taxas de novas infecções por HIV em mais de 25%. Na Nigéria, por exemplo, o número de infecções se estabilizou. Na contramão dessa tendência de redução estão os países da Europa oriental e da Ásia central, cujas taxas de novas infecções subiram 25%.

África Subsaariana
Em todo o mundo, cerca de 33,3 milhões de pessoas estão vivendo com o HIV. O índice de novas infecções diminuiu ou estabilizou-se em pelo menos 56 países. A África Subsaariana continua sendo a área mais afetada pelo vírus, com cerca de sete em cada 10 novas contaminações. O caso de contaminação ainda é pior no Brasil para os homens que fazem sexo com outros homens, pois o risco de contrair a doença é ainda maior, pelo menos é o que diz estudo realizado em 2009. Por outro lado, o número de novas contaminações citadas no relatório caiu em mais de 25% em Moçambique e na Guiné-Bissau; o quadro permanece estável na Angola. Já nos países da Ásia Central e Leste Europeu acontece o inverso, houve um aumento de 25% de novos casos de contaminação do vírus HIV.

Pr. José Geraldo Magalhães Jr.

Veja também:
http://www.onu-brasil.org.br/

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

As mulheres nas Cartas Paulinas

Para perceber a questão do papel das mulheres no início do cristianismo, estaremos datando os escritos do Novo Testamento da seguinte forma: cartas autênticas de Paulo: I Ts, Gl, Fp, Fl, I e II Co e Rm, alguns autores concordam que são datadas entre os anos de 50-64 d.C.; as Deuteropaulinas de Cl, II Tm, I Pd, Tg e Mc entre os anos 67 a 90 d.C.. As cartas de II Ts, Ef, I Tm, Jd, Hb, Mt, Lc, At são datadas entre 90 a 100 d.C. e, por último as cartas de Tt, as Epístolas Joaninas e Ap datadas entre 100 a 110 d.C.

Ao analisar a carta de I Coríntios nos capítulos 7.1ss (casamento e virgindade), 11.2ss (cabelo das mulheres) e 14.33ss (mulheres caladas na assembleia) com mais intensidade, pode-se concluir que um número considerável de mulheres, pertenceu a comunidade coríntia. No entanto, Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann em sua obra, afirmam que, a grande maioria das mulheres citadas por Paulo, ao que tudo indica, “é não-casada”. Mas há de considerar uma preocupação preconceituosa em relação às mulheres casadas no capítulo 14.33b-35 [1], pois no capítulo 11, quando solteiras, elas têm total liberdade no culto. Por outro lado, (cap.14) a mulher casada deve permanecer calada na assembleia.

Crossan, além de considerar o trecho do capítulo 14 uma inserção, o autor também compreende que a liderança feminina foi “cruelmente denegrida com a finalidade de instituir o controle exclusivamente masculino das assembleias cristãs”. Se por um lado, no capítulo 11.2-16 a mulher (solteira) poderia orar e profetizar, no capítulo 14.33b-35 elas, as casadas, deveriam permanecer caladas. Se tivessem dúvidas, deveriam perguntar ao marido em casa, portanto, uma posição muito preconceituosa em relação às mulheres.

Carlos Mesters advoga que é preciso fazer um equilíbrio entre os quatro textos que tem levantado diferentes opiniões: I Co 11.2-16; I Co 14.34-35; Ef 5.21-24 e I Tm2.9-15 (I Timóteo datado no final do primeiro século) que, para o autor, é “o resumo das palavras de Paulo contrárias à participação da mulher” [2]; com outros textos que enfatizam a participação da mulher na comunidade, como por exemplo, Priscila, Maria, Júnia, Trifena e Trifosa, a “querida Pérsida” (Rm 15.12), Júlia e “sua irmã”, Olímpias entre outras. Mesters considera que “as palavras duras de Paulo, contrárias à participação da mulher, não podem ser interpretadas como um ensinamento geral, válido para todos os tempos e situações”.

Nas cartas paulinas as mulheres são mencionadas várias vezes por Paulo (Rm 16), algumas delas podendo ser identificadas como judias, por exemplo, Priscila, Herodiana e Júnia (Rm16.3,7,11) ou de um modo mais genérico, mas elas estão ali, no meio das comunidades do I Séc.. Essas mulheres são lembradas por Paulo, entre outros, escravos e escravas ou aos demais membros de uma economia doméstica (Rm 16.11). A mulher Apóstolo.

Ser apóstolo, segundo a Epístola aos Romanos, não era difícil, e uma mulher poderia alcançar este status. O Novo Testamento indica somente Júnia, que é judia, considerada sob o título de “apóstolo” (Rm16.7). É verdade que muitos estudiosos interpretam “Júnia” ser “Júnias”, isto é, um homem, pois seu nome é “grafado em grego no acusativo, Junian. Por causa disso, o nome passou a ser identificado como masculino – argumentava-se que Junian era o caso do acusativo do nome masculino Junia (nu)s” [3]. Paulo a considera juntamente com Andrônico seus parentes e companheiros de prisão, como apóstolos exímios que o precederam na fé em Cristo.

Em relação à Júnia, Fiorenza afirma que tanto Andrônico como Júnia, realizam todos os critérios para um verdadeiro apostolado e, eram apóstolos mesmo antes de Paulo [4]. Duncan Alexander Reily afirma que um dos comentários mais antigos que apontam ser Júnia uma mulher, está o de Crisóstomo que, “na sua homilia nº XXXI fala com entusiasmo de Júnia e Andrônico”.

A- As mulheres cooperadoras na missão

Com o conceito de Synergós, companheiro(a) de trabalho, colaborador(a), Paulo cita as pessoas que corroboravam com ele na propagação do evangelho. Tanto é verdade que Priscila e Áquila, além de serem mencionados nas Cartas Paulinas de Coríntios e Romanos, também são mencionados nas Cartas Deutero-Paulinas de II Timóteo e Atos, ou seja, 40 ou 50 anos mais tarde. Priscila ou Prisca foi uma mulher que desempenhou um papel missionário importante do lado de Paulo, juntamente com Áquila, seu marido. Prisca precedeu a Paulo no trabalho missionário, colaborou com ele, mas, sem ficar subordinada [5]. Nas Epístolas há, ainda, menção escassa de outros casais missionários como Filólogo e Júlia, e Nereu e sua irmã (Rm 16.7). Mas, há mulheres, como Febe, que são aludidas sem nenhum homem como: Maria, Trifena, Trifosa e Pérside (Rm 16. 6,12).

Essas mulheres são consideradas por Crossan, como “as mulheres que realizaram uma difícil missão”, pois a expressão grega usada por Paulo para designar atividades apostólicas especiais é kopiao, que tem o significado de “trabalhar com empenho exaustivo”. Nesse sentido, Paulo emprega o termo grego duas vezes para si mesmo em Gl 4.11 e I Co 15.10, e quatro vezes em Romanos exclusivamente para as mulheres: Maria, Trifena, Trifosa e Pérside. Tudo indica que essas mulheres colaboraram exaustivamente com a missão.

B- As mulheres na assembleia

A participação das mulheres na assembleia parece acontecer mais na comunidade de Corinto. Elas do mesmo modo oravam e profetizavam nas reuniões da comunidade (ver o item “o papel das mulheres na Ekklesía de Corinto” com mais profundidade), além da participação na glossolalia e sua interpretação e, no orar ou cantar de salmos (I Cor 14.2,26). Para Stegemann, a participação de mulheres na função de liderança, era também a forma comunitária da Ekklesía, equivalente à economia doméstica antiga. Essa função de liderança, segundo os pesquisadores Stegemann, atingiu seu ápice quando “no séc. III d.C. as comunidades cristãs pararam de reunir-se em casas e começaram a reunir-se na esfera pública, na polis”.

Em Corinto, Paulo discute normas culturais aceitas referentes ao cabelo (11.13-15) e adorno da cabeça da mulher em público (11.5-6), como afirma Elliott, “não porque quer impor seus próprios padrões culturais (judaicos? gregos? romanos?) às mulheres coríntias, mas para estabelecer um princípio que considera basicamente incontroverso”, pois estes costumes trazem honra ou desonra para a “cabeça” social da pessoa.

Este estudo é parte integrante do trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista apresentado por José Geraldo Magalhães Júnior. Todos os direitos reservados.
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Notas:

[1] Este texto é considerado por muitos exegetas uma interpolação, além de ser um texto mais antigo. Por essa       razão a mulher deveria permanecer calada na Assembléia, em caso de dúvidas que questionasse seu marido em casa.

[2] MESTERS, Carlos. Paulo Apóstolo um trabalhador que anuncia o Evangelho. São Paulo, SP. Paulus, 11ª Ed. 2008. p.96 a 105. Mesters considera o trecho do capítulo 14.34-35 como autêntico. Por essa razão, o autor leva em consideração que é preciso considerar que Paulo “sofreu críticas por partes das comunidades conservadoras (I Co 11.16 e 14.36-38). Por isso, naqueles quatro textos [I Co 11.2-16; II Co 14.34-35; Ef 5.21-24 e I Tm2.9-15] ele estaria pedindo moderação às mais apressadas”. Mesters quis dizer que o exagero de algumas mulheres poderia colocar em risco o processo de abertura à participação das mulheres dentro da comunidade. p.105.

[3] CROSSAN, John Dominic, 2007. “Em busca de Paulo...” p.114. Para a tristeza dos que defendem essa tese, Crossan defende que há mais de 250 casos na antigüidade do emprego do nome Júnia para as mulheres e, nunca o uso da mesma forma (Júnia) como abreviação para o nome masculino Junianus. “O problema, naturalmente surgiu, por causa da saudação calorosa de Paulo para os dois membros desse casal e, especialmente, para a mulher, Júnia”.

[4] FIORENZA, 1992, “As origens Cristãs a partir da mulher...” p.206. Reily aponta em sua obra: REILY, Duncan A.. Ministérios femininos em perspectiva histórica. 2ª Ed. Campinas, CEBEP; São Bernardo do Campo, EDITEO, 1997. p.37  que “discípulas e discípulos foram designados como membros do movimento de Jesus”. Nesse sentido, é o texto de Atos 9.36: “E havia em Jope uma discípula (mathétria) chamada Tabita...”. O destaque dado a Tabita ou Dorcas sugere que ela exercia real liderança na congregação de Jope.

[5] Ao pesquisar os textos que aparece Prisca e Áquila, constatamos que o nome de Prisca é mencionado sete vezes, juntamente com o marido, das quais quatro vezes é nomeada em primeiro lugar (1 Cor 16.19; Rm 16.2-5; 2 Tm 4.19; At 18.18; 26). Pelas indicações dos trechos, Prisca foi missionária separada e mais conhecida do que Áquila. Parece, inclusive, segundo Atos dos Apóstolos 18.26, que era doutrinada, porque interveio no ensino cristão de Apolo, que é apresentado no segmento como homem culto. Isso evidencia que ela desempenhou um papel importante na comunidade. No discurso de Fiorenza, contrariando essa posição, a autora defende que Prisca é reduzida à “dona de casa de Áquila e conseqüentemente esquecida” FIORENZA, 1992, “As origens Cristãs a partir da mulher...” p.209.
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sinais da queda

Fonte: Revista Cristianismo Hoje
A queda de uma igreja passa por cinco estágios nem sempre fáceis de perceber

Um pouco antes de terminar meus estudos em teologia, fui convidado para pastorear uma congregação no sul do Illinois, nos Estados Unidos. Aquele foi meu primeiro grande despertamento para as realidades da liderança pastoral – e uma experiência um tanto desconfortável. As habilidades ou dons que levaram a congregação a me convidar a ser seu líder espiritual foram, provavelmente, meu entusiasmo, minha pregação e minha aparente habilidade – mesmo sendo ainda jovem – em alcançar pessoas e fazê-las sentirem-se cuidadas.

O que não havia sido mencionado era o fato de aquela congregação estar desiludida devido a uma terrível divisão provocada pelo pastor anterior, que encorajou um grupo de cem pessoas a sair com ele para formar outra congregação. E bastaram apenas alguns meses para que eu percebesse que entendia muito pouco sobre liderar uma organização com aquele tamanho e complexidade, e ainda por cima, tão ferida. Com meus 27 anos, eu estava completamente perdido. Passara meus anos no seminário pensando que tudo que alguém precisava para liderar era uma mensagem carismática e uma visão encorajadora, e tudo o mais na vida da igreja seria perfeito. Ninguém havia me falado sobre grupos a serem dirigidos, equipes esperando resultados e congregações precisando ser curadas. Há quem tenha bom conhecimento de como conduzir uma comunidade cristã. Eu não tinha.

Foi naqueles dias de angústia que fui apresentado ao meu primeiro livro de liderança organizacional, The Effective Executive (“O executivo eficiente”), de Peter Drucker. Ali, percebi como as pessoas estão dispostas a alcançar objetivos que não podem ser atingidos. Aquele livro, provavelmente, me livrou de um nocaute no primeiro round em minha vida como um pastor. Desde aquela época, mais de quarenta anos atrás, incontáveis outros autores tentaram aprimorar os insights de Drucker. E nenhum deve ter tido mais sucesso nessa tarefa quanto Jim Collins. Não sei se ele tinha pessoas como eu em sua mente quando ele escreveu seus livros, mas muitos de nós, engajados ou não no trabalho pastoral, aprendemos muito com ele.

Recentemente, Collins e seu grupo de pesquisadores escreveram uma obra menor, com o nome How the Mighty Falls (ainda sem titulo em português), que segundo ele começou como um artigo e terminou como um livro. Collins afirma que foi inspirado em uma conversa durante um seminário, no qual alguns poucos líderes de setores tão diversos como o militar e o de empreendimentos sociais reuniram-se para explorar temas de interesse comum a todos.  O tema era a grandeza da América e os riscos desse gigantismo. O receio geral era de que o sucesso encobrisse o perigo e os alertas do declínio. Saímos de lá pensando em como seria possível perceber que uma organização aparentemente saudável enfrentava sérios problemas.

Parece ser cada vez mais real o fato de que grande parte dos líderes desconhece o problema vivido na sua organização. Em seu livro, Collins identifica cinco estágios no processo de derrapagem de uma instituição. O primeiro é a autoconfiança como fruto do sucesso. “Prestamos um desserviço a nós mesmos quando estudamos apenas sobre o sucesso”, afirma Collins. Uma pesquisa e análise acerca de empreendimentos, até mesmo na literaturas de liderança eclesiástica, mostra que poucos livros investigam as raízes do fracasso. Parece que existe no segmento cristão a presunção de que o sucesso é inevitável, razão pela qual não se torna necessário considerar as possíveis consequências de uma queda.

A confiança exagerada em si mesmos, nos sistemas que criam ou na própria capacidade para resolver tudo faz com que os líderes não enxerguem seus pontos de fraqueza. Subestimar os problemas e superestimar a própria capacidade de lidar com eles é autoconfiança em excesso. A ganância e a busca desenfreada por mais é outra das principais situações que derrubam um grupo ou organização. Geralmente, quando se entra nesse processo descontrolado, abandonam-se os princípios sobre os quais a entidade foi constituída.
A busca pelo crescimento exagerado é o segundo estágio que antecede a derrocada, seja de uma organização secular ou de um ministério cristão. Muitos líderes tornam-se cegos pelo êxtase do expansionismo. Constantemente surge uma necessidade em tais líderes de mostrarem-se capazes, e eles não conhecem outra forma de fazer isso que não seja tornando seus empreendimentos maiores, independente das consequências.

É a incessante idéia de que tudo tem que crescer e crescer. Todavia, impressiona o fato de que acobrança de Jesus aos seus discípulos estivesse relacionada à necessidade de fazer novos discípulos, e não de construir grandes organizações. Ele parecia saber que discípulos bem treinados em cada cidade e povoado dariam conta de conduzir o movimento cristão de forma saudável. Talvez Jesus temesse exatamente o que está acontecendo hoje: a sistematização do movimento cristão, sua centralização e expansão tão somente para causar uma impressão.

O terceiro estágio de declínio identificado por Collins é desencadeado quando líderes e organizações ignoram ou minimizam informações críticas, ou se recusam a escutar aquilo que não lhes interessa. A negação dos riscos é um perigo iminente – e riscos não levados a sério são justamente aqueles que, posteriormente, causam grandes estragos na organização. É preocupante, para Collins, quando organizações que baseiam suas decisões em informações inadequadas. Em meu ministério de liderança, cedo aprendi a temer conselhos que começam com expressões como “Estão dizendo” ou “O pessoal está sentindo”. Prefiro valorizar dados precisos, vindas de pessoas confiáveis, sábias, que se engajam na tarefa de liderar a comunidade com sensatez. Isso nos possibilitou caminhar ao lado de gente que jamais imaginávamos que caminharia conosco. Nada me foi mais valioso do que receber, delas, informações que me ajudaram a conduzir minha congregação.

O estágio quarto começa, escreve Jim Collins, “quando uma organização reage a um problema usando artifícios que não são os melhores". Ele dá como exemplo uma grande aposta em um produto não consolidado, o lançamento de uma imagem nova no mercado, a contratação de consultores que prometem sucesso ou a busca de um novo herói – como o político que vai salvar a pátria ou o executivo que em três meses vai tirar a empresa do buraco. Eu me lembro de épocas nas quais eu estava desesperado por vitórias que fariam com que minha igreja deixasse de caminhar na direção em que estava caminhando – para o abismo. Ao invés de examinar o que nossa congregação fazia nas práticas essenciais de serviço ao povo, centrada no serviço a Cristo, fui tentado a me concentrar em questões secundárias: cultos esporádicos de avivamento, programações especiais, qualificação de nossa equipe de funcionários. Hoje eu vejo o que tentei fazer: promover salvação de vidas através de publicidade, uma grande apresentação o um excelente programa. Graças a Deus, aprendi – assim como aqueles ao meu redor – que artifícios assim não funcionam. O que funciona é investir em pessoas, discipulá-las, conduzi-las a Jesus e adorá-lo em espírito e em verdade, fazendo com que as coisas estejam em seu devido lugar.

Collins menciona ainda o estágio cinco da decadência, que é o da rendição. Se as coisas saem do eixo organizações como igrejas tendem a perder a fé e o espírito. Penso que o templo em Jerusalém deve ter ficado dessa forma quando Jesus se retirou de lá e disse que não voltaria àquele lugar. Ele estava antecipando o dia, que estava por vir, quando não restaria pedra sobre pedra ali. Não muito tempo atrás, eu estava em frente ao templo de uma igreja no País de Gales. Na porta, estava a seguinte placa: "Vende-se". Uma outra placa indicava que aquele prédio havia sido construído no período do grande avivamento britânico, no século 18. Agora, o prédio estava escondido entre a vegetação, completamente abandonado.

Quando começa a morte de uma organização? Quem perdeu os sinais que indicam vida? Quem abandonou os princípios essenciais? Quem não entendeu as informações? Quem está correndo, completamente perdido no meio da multidão, sem saber pra onde ir? Essas são boas perguntas. Se ignoradas, a igreja cairá.
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Lausanne III busca respostas das igrejas ao mundo globalizado

fonte: ALC Notícias
Cristãos só podem provar ao mundo a verdade por meio da transformação de suas vidas, disse o teólogo chinês Carver Yu no III Congresso Lausanne de Evangelização Mundial, reunido de 17 a 25 de outubro na Cidade do Cabo, África do Sul.

Carver Yu reconheceu a pluralidade, mas combateu o pluralismo. A pluralidade, definiu, faz parte da cultura humana. Já o pluralismo “é uma ideologia que proclama que a verdade é uma construção cultural válida somente para a cultura que a construiu”.

O Congresso de Lausanne III partiu para a defesa da verdade, diante de um diagnóstico absoluto de que o pluralismo, a secularização e o mundo globalizado são os males sobre os quais as igrejas devem responder, informou o jornalista Lisânder Dias, da Rede Mãos Dadas, e que participa do encontro.

O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) enviou delegação à Cidade do Cabo liderada pelo secretário geral, pastor Olav Fykse Tveit. Ao longo das décadas, o CMI e líderes do movimento de Lausanne têm se engajado no diálogo sobre a natureza da missão cristã, na evangelização e na ação social.

Tveit é o primeiro secretário geral do CMI a ser convidado para participar de Congresso do movimento de Lausanne. Em sua saudação, ele falou da visão comum dos cristãos sobre a missão integral de Deus. “Vamos manter a estrada aberta, deixar o diálogo fluir, de modo que aprendamos uns com os outros sobre como participar na missão de Deus, com o respeito aos outros como um corpo em Cristo", disse.

O ano 2010 foi escolhido para este III Congresso Lausanne porque marca o 100º aniversário da Conferência Missionária Mundial de 1910, realizada em Edimburgo, na Escócia. O encontro de Edimburgo foi um evento marcante para os séculos seguintes, sua expansão missionária foi identificada por historiadores do cristianismo como o início do moderno movimento ecumênico.

Vários eventos de 2010 estão sendo realizados em todo o mundo em homenagem a este centenário, incluindo uma consulta realizada em junho, em Edimburgo, na qual Tveit fez e observações introdutórias.

Ele disse aos 4.200 congressistas reunidos na cidade sul-africana, procedentes de 200 países, que a reconciliação "é toda sobre o que significa ser cristão". E lembrou: "Somos chamados a ser um, para se reconciliar, para que o mundo creia que Deus reconcilia o mundo em Cristo".

Na abertura do congresso, no domingo, 17, o reverendo S. Douglas Birdsall, presidente executivo do Movimento Lausanne, também enfatizou o tema da reconciliação. Ele deu as boas-vindas aos participantes, dizendo que a reconciliação é "nosso foco, nossa vocação e a nossa paixão. É este evangelho da conciliação que nos une."

Birdsall chamou os delegados a se aproximarem uns dos outros, assim como eles chegavam perto de Deus. "Este é um congresso de trabalho com uma tarefa específica. Seus resultados estarão na forma como todos nós olhamos para Deus, e como isso pode ajudar a mudar o curso da evangelização do mundo para as próximas décadas", disse.

A diversidade do congresso na Cidade do Cabo é ecoado pelos grupos de estudo bíblico, no qual os delegados se reúnem todas as manhãs para refletir em conjunto sobre um texto de Efésios. Os participantes partilham suas próprias observações e aplicam o que leram em seu próprio contexto. Cada grupo é como um microcosmo da igreja global, proporcionando a oportunidade de se sentarem juntos, aprender uns com os outros, mostrar preocupação com o outro, estimular, desenvolver parcerias e também orar uns pelos outros.

Lausanne é um movimento organizado numa rede global de "profissionais reflexivos", que partilham uma visão para o trabalho de evangelização mundial. Começou em 1974 quando o pastor batista Billy Graham e o clérigo anglicano John R. W. Stott convocaram o Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne, na Suíça, informou Loro Lerefolo.

O objetivo era buscar acordo em "uma declaração bíblica sobre o evangelismo" e dizer "qual é a relação entre evangelização e responsabilidade social". O Pacto de Lausanne, aprovado no I Congresso, foi um grito de guerra para muitos cristãos, e para alguns, definiu o que se entende por "evangelicais".
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sábado, 23 de outubro de 2010

Mulheres na Bíblia

Antes do episódio em Nova York algumas mulheres precisam ser lembradas e, a Bíblia pode nos ajudar nisso. Sara foi uma delas, mãe de Isaque aos cem anos, teve um papel fundamental para se cumprir à promessa na vida de Abraão. Débora ocupou um lugar de destaque nas Escrituras. Foi uma profetisa. Também era mulher casada e juíza em Israel. Débora condenou, pelo menos, a negligência dos homens (Jz 4:4-10). Uma profetiza que julgava Israel. Seus dons proféticos lhe deram grande influência em um tempo de desespero e confusão (Jz 4.6, 14; 5.7), sendo uma verdadeira “mãe de Israel”. Através do seu glorioso cântico de triunfo (cap. 5), sendo uma das mais antigas e preciosas poesias hebraicas, Israel teve paz por quarenta anos (Jz 5.32).

Hadassa era uma mulher guerreira, valente, perdeu seus pais sendo muito jovem. Talvez esse nome não nos seja desconhecido. Foi criada por seu tio Mordecai e teve seu nome mudado para Ester ao ser consagrada Rainha. Ela não tinha medo das ameaças, tanto que arriscou a sua vida em favor do seu povo, os judeus. “Se perecer, pereci” dizia ela (Et 4.16). Através da oração e intercessão livrou os judeus da morte. Instituiu juntamente com Mordecai a festa do Purim entre os judeus, que significa festa da sorte até os dias de hoje.

Quando nos aproximamos do Novo Testamento, descobrimos a posição das mulheres piedosas, honradas e belas no mais alto grau. A virgem Maria "agraciada”, "bendita entre as mulheres”; sua prima Isabel, mãe de João Batista; Ana, idosa viúva de oitenta e quatro anos, dedicada ao serviço de Deus, são as mais belas personagens conectadas ao nascimento de Cristo.

Maria, a irmã de Lázaro, assentava-se aos pés do Senhor para ouvir a Sua palavra. Foi ela que O ungiu para o Seu sepultamento, uma ação que jamais perderá a sua fragrância: "onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” diz o texto de Mateus (26:13; Jo 12.1-8). Ela recebeu um elogio que não poderia ser mais elevado: "Esta fez o que podia” (Mc 14:8).

A Maria Madalena? Aquela que “dela saíra sete demônios” (Lc 8.2) e era rejeitada pela sociedade, foi acolhida por Jesus e, a ela foi concedida a alta honra de transmitir a maravilhosa mensagem da ressurreição de Cristo aos Seus discípulos: "Dize-lhes que eu subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”(Jo 20:17).

Pensem nas mulheres que serviam ao Senhor Jesus relatado no capítulo 8 de Lucas: “Joana, Suzana e muitas outras que prestavam assistência com seus bens” (Lc 8:3). Que honra!

As mulheres anônimas. Uma é chamada por Jesus de “Mulher” (Jo 4.21), para nós a “Mulher Samaritana”, que teve coragem e ousadia de pedir a Jesus a “água da vida” (Jo 4.15) e, largando seu cântaro junto ao poço, partiu em direção à cidade para anunciar aos outros sobre o Cristo e, “muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito” (Jo 4.28-29, 39).

Em outra ocasião a Bíblia chama de: “uma mulher da cidade, pecadora” (Lc 7.36). Mas teve a coragem de ir a casa do fariseu Simão, com um vaso de alabastro com ungüento e, “estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com ungüento” (Lc 7.38). Pela sua atitude audaciosa, recebeu de Jesus a Salvação pela sua fé.

E quando chegamos ao tempo quando Cristo já havia subido aos céus, e o Espírito Santo já havia sido enviado, somos lembrados das "mulheres gregas da classe nobre” de Beréia, “que examinavam as Escrituras todos os dias, ao receberem a palavra pregada por Paulo e Silas, para ver se as coisas, de fato, eram assim” (At 17. 10-12).

Também aquelas que o apóstolo Paulo elogiou, que trabalharam no Senhor (Rm 16). Ou Priscila, que sob a liderança de seu marido, teve o privilégio de instruir o eloqüente Apolo, declarando-lhe "mais pontualmente o caminho de Deus” (At 18:26). Que belo e honrado caminho foi esse trilhado pelas mulheres cristãs!
Pr. José Geraldo Magalhães Júnior
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Teologando com duas teologias

José Geraldo Magalhães Júnior

Essa reflexão pessoal tem como objetivo destacar as duas linhas teológicas: a teologia da libertação e a teologia integral. Primeiramente precisamos entender que a teologia estuda o discurso, a imagem sobre Deus, pois ela não pode discutir Deus porque quando se discute sobre Deus, obviamente está discutindo sobre algo e, se transformarmos Deus em algo, isto é idolatria. Portanto, a maioria das teologias cai na idolatria.

Para entender a teologia é preciso de três elementos: a revelação, fé e razão. A teologia nasce de uma prática concreta de fé. Isso é Teologia da Libertação. Para se entender essa teologia, é preciso enxergar, refletir e agir (VER, JULGAR e AGIR); é uma prática da vida real das pessoas. Não se desenvolve ou se faz teologia desconectado da vida real. Em outras palavras o teólogo tem que ter experiência e não discurso.

A Teologia da Missão Integral é a comunicação e presença do Evangelho. Queremos dizer com isso que, essa teologia correlaciona comunicação e presença, sem colocar um sinal de igualdade entre essas realidades. A comunicação na Teologia da Missão Integral, tem seus desdobramentos sociais porque convoca as pessoas e comunidades ao arrependimento e ao amor pelos outros em todas as áreas da vida, além de ver o compromisso social como comunicação e presença, ela é a proclamação da boa nova que se dá por meio do testemunho da graça de Deus.

Um de seus pilares é a diaconia, que em seu sentido cristão significa serviço ao próximo. Diante da alegria pelo que Deus tem feito, ao abençoar as vidas, a Missão Integral propõe como resposta a promoção da diaconia. Nesse sentido, Missão Integral e diaconia são expressões que não podem vir separadas.

Percebemos a diaconia nas primeiras comunidades cristãs, que reflete os testemunhos de fé por meio da vida solidária (At 2.44-45; 4.32-35), já que, como disse Paulo, "se um membro sofre todos sofrem com ele" (1Co 12.26). O fundamento dessa ação solidária repousa nos ensinos e prática de Jesus Cristo. Por isso, para a Missão Integral, o amor a Deus só é possível se este alcança o próximo (1Jo 4.20).

Na prática, amar ao próximo consiste em propiciar dignidade humana e reintegração na sociedade (Mt. 9.35ss). Por seu ministério e morte, Cristo assumiu a fraqueza humana e sofreu o poder de morte do mundo para, então, superá-los. Assim, a Teologia da Missão Integral desafia ao testemunho do amor de Deus, enquanto ação solidária.

Essas duas linhas teológicas nos ajudam a refletir sobre as realidades das igrejas locais que padecem por uma falta de originalidade e criatividade. Para se trabalhar e desenvolver propostas reais na comunidade, o pesquisador Richard Niebuhr detaca:

Ser responsável é ser capaz e ser requerido a prestar contas de alguma coisa a alguém. A idéia de responsabilidade, com a liberdade e a obrigação que ela implica, tem seu lugar no contexto das relações sociais. Ser responsável é ser um ser na presença de outros seres, em quem se está vinculado e para quem se é capaz de responder livremente; responsabilidade inclui serviço ou cuidado com as coisas que pertencem à vida comum dos seres.

O homem terá de prestar contas a Deus, tanto das coisas boas como das más (Rm 14.12). Por essa razão, é necessário incluir nos membros das igrejas a mentalidade que a igreja é responsável. Segundo o pensamento de Niebuhr a comunidade universal tem membros, e a igreja universal está dentro dessa comunidade que deve prestar contas a Deus. A igreja só é igreja porque é de Cristo. Niebuhr aponta os três tipos de igrejas: Mundana, Isolada e Apostólica ou Pioneira.

Desta descrição geral da responsabilidade da Igreja nós nos movemos agora para a consideração de sua prestação de contas da sociedade. A natureza da última deve ser iluminada para nós de alguma forma se nós consideramos, antes de tudo, os caminhos nos quais a Igreja tem sido e pode ser socialmente irresponsável. Dois tipos de tentações parecem prevalecer especialmente na história: a tentação do mundanismo e a do isolacionismo.

As igrejas Mundanas e Isoladas são aquelas que o autor as chama de irresponsáveis, que se isolam em seus mundos sem prestar contas à sociedade. A mundana é calada, muda e recebe benefícios para si próprios. O que ele chama de igreja responsável é a Apóstola, Pastora e Pioneira. Porque apóstola é enviada a falar a pessoas e grupos. Já pioneira é aquela que vai à frente mostrando ao mundo as coisas a cerca de Deus. E Pastora é a que vê e cuida dos sofrimentos da sociedade. Esse seria um modelo adequado de igreja na sociedade.

Não podemos distorcer ou interpretar a missão da Igreja. Padilla trata questões em O Que É Missão Integral? Sobre o Evangelho de Jesus Cristo como sendo uma mensagem pessoal e, ao mesmo tempo, um Deus que se revela a cada indivíduo chamando-os pelo nome e um Deus com um propósito de abarcar todo o mundo. Existe uma falta de valorização das dimensões mais amplas do evangelho o que, de certa forma, tem gerado uma distorção da missão da igreja. O autor defende que “a obra de Deus em Cristo Jesus tem a ver diretamente com o mundo em sua totalidade, não meramente com indivíduo”.

Acreditamos que a ação social é o caminho e, o propósito da evangelização é conduzir o homem a uma reorientação de sua vida. E a salvação não é exclusivamente o perdão dos pecados, mas a transferência do domínio das trevas à esfera onde Jesus é reconhecido como Kyrios (Senhor) de todo o universo.

Temos percebido que essas atividades têm motivado os membros com atitudes concretas, pois não estamos indo à igreja somente para adorar a Deus, mas para promover a vida aqueles e aquelas que não tinham esperança. Isso é fazer teologia!


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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Acidente em Mina no Chile

Presidente do Chile reitera que irá investigar os responsáveis pelo acidente na mina
Essa foi uma semana histórica para todo o mundo. Os olhos da maioria estavam voltados para a história sobre os 33 mineiros que saíram vivos, depois de ficarem dois meses presos na mina de cobre e ouro, em São José, no Chile. Mesmo com o cenário positivo, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, reiterou que vai investigar o ocorrido. Segundo ele, é fundamental apurar o que houve e punir os responsáveis.

O acidente ocorreu no dia 5 de agosto, em uma mina localizada perto da cidade de Copiapó.Os mineiros trabalhavam a uma profundidade de cerca de 700 metros quando uma rocha desabou. Desde então, as autoridades chilenas não mediram esforços para resgatá-los, mesmo em meio a uma série de dificuldades geradas pelo terreno, pela vegetação e pelas condições climáticas da região.

Piñera fala dos próximos passos
Logo na primeira semana em que aconteceu o acidente o presidente Sebastián Piñera demitiu altas autoridades da agência reguladora do setor de mineração do Chile e prometeu uma grande reforma por causa do acidente na pequena mina de ouro e cobre, a 450 quilômetros da capital, Santiago.
Desde o início, Piñera deixou claro seu posicionamento: "Temos dito que, nesta matéria, não haverá impunidade, e eu quero enfatizar que as investigações, em matéria penal e civil já começaram, e nós vamos investigar as responsabilidades e punir os culpados", disse Piñera.
Segundo estatísticas, acidentes graves de mineração são raros no Chile, mas o governo disse que a mina de San José, que pertence à empresa privada local Compania Minera San Esteban Primera, já sofreu uma série de acidentes e 16 trabalhadores já morreram no local nos últimos anos.

Problemas
No início de agosto, a equipe técnica responsável pelo resgate dos mineiros já levantava  alguns questionamentos sobre o funcionamento da mina, que já tinha sido fechada três anos atrás por problemas de segurança.
Anton Hraste, ex-diretor regional do Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) --que fiscaliza o trabalho de mineração-- disse que a jazida "nunca devia ter sido reaberta", depois que seu fechamento foi determinado em 2007 após a morte de um trabalhador.Em 2006, outro mineiro já tinha morrido trabalhando e no começo deste ano um trabalhador sofreu um acidente grave no qual perdeu uma das pernas.
O promotor Sabas Chahuán ordenou uma investigação para esclarecer como aconteceu o desmoronamento que deixou os 33 mineiros presos.
Só este ano, morreram 31 pessoas em acidentes de mineração, segundo dados oficiais do Sernageomin. De janeiro do ano 2000 a julho de 2010, faleceram em acidentes 403 mineiros no Chile.

Donos de mina no Chile vão responder a ação penal
A esposa de um dos 33 mineiros soterrados já anunciou que a família apresentará uma ação penal contra os donos do local e o organismo público que fiscaliza a segurança. "Não estou pensando na recompensa monetária, estou pensando nas pessoas responsáveis, não apenas os donos da mina, mas também as pessoas que não fizeram seu trabalho de fiscalizar", disse Carolina Narváez, esposa do mineiro Raúl Bustos, sobre as motivações do processo.
A demanda será apresentada contra dois sócios donos da empresa San Esteban, proprietária da jazida San José, onde no dia 5 de agosto um desabamento sepultou os trabalhadores vivos. Os empresários serão acusados de lesões, informou o advogado Remberto Valdés.
A ação judicial também inclui o Serviço Nacional de Mineração e Minas (Sernageomin), que autorizou a reabertura da mina um ano depois de um acidente com um trabalhador em 2007. O Sernageomin será acusado de prevaricação por "ter divulgado, em 2008, uma resolução injusta que significou a reabertura da mina San José", que havia sido fechada no ano anterior, disse Valdés.
Por Diana Gilli com informações da BBC News e Agência Brasil
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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Religião: chave para dialogar com o povo - Frei Betto

Uma das principais referências da teologia da libertação no Brasil e com larga trajetória de lutador social ocupa lugar privilegiado para versar sobre o tema. Não por acaso, seu livro "Fidel e a Religião" (1986) teve importante papel, segundo próprio bispo cubano, para "tirar o medo dos cristãos e o preconceito dos comunistas". Indubitavelmente, a reconciliação entre a Igreja Católica e o governo revolucionário cubano deve algo a Frei Betto.

No Brasil, militante dominicano desde sua juventude na época da ditadura (1964-1985), contribuiu para a realização de acontecimentos históricos. Entre eles a fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, governo do qual chegou a formar parte em seu início com a eleição de Lula a presidência da república, em 2002.

Política, religião e comunicação. Na entrevista que segue Frei Betto, recorre a esses três pilares para nos deixar sua impressão sobre o atual momento político por que passa a América Latina.

- Como frei dominicano e militante junto às bases populares na época da ditadura brasileira, como avalia a importância da Igreja Católica para as lutas sociais na América Latina, especialmente no combate às ditaduras que assolaram a região durante a década de 60? De lá para cá, mudou o perfil da atuação social da Igreja?

- Nos anos 1960 e 1980 a Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II e pela conferência episcopal latino-americana em Medellín (1968), teve papel preponderante nas lutas sociais na América Latina. Através das Comunidades Eclesiais de Base e do advento da Teologia da Libertação, decorrentes da "opção pelos pobres", muitos militantes foram formados pela Igreja segundo o método Paulo Freire. Em países sob ditadura, como Brasil e Nicarágua, essa formação resultou em opção revolucionária. Diria que, de certo modo, as eleições recentes de Lula, Correa, Evo, Funes e outros têm a ver com esse processo pastoral. Com o pontificado de João Paulo II e a queda do Muro de Berlim, iniciou-se a "vaticanização" da Igreja latino-americana. A Teologia da Libertação foi censurada; os bispos progressistas afastados; padres conservadores nomeados bispos etc. Hoje a Igreja Católica, embora abrigando grupos progressistas comprometidos com as causas populares, reflui na opção pelos pobres e busca situar-se numa suposta neutralidade frente aos conflitos sociais.

- Qual a ponte entre o cristianismo e a luta armada?
- Hoje, na América Latina, a luta armada só interessa a dois setores: fabricantes de armas e extrema direita. Governos como Lula, Chavez, Mujica etc demonstram ser possível realizar reformas estruturais pelas vias pacífica e democrática. Porém, a questão da relação cristianismo e luta armada está, em tese, equacionada desde o século XIII por meu confrade Tomás de Aquino. Em caso de opressão prolongada e sem outro recurso para se evitar um mal maior fora da resistência armada, então esta é justa e legítima. Nos anos 1960 e 80 isso se aplicava a países da América Latina sob ditaduras, o que explica os testemunhos de Frei Tito de Alencar Lima, Camilo Torres e tantos outros cristãos que participaram da luta armada. Esse mesmo princípio tomista levou João Paulo II a comemorar os 50 anos da vitória da resistência europeia contra o nazifascismo. E, como sabemos, a resistência atuou com armas.

- As lutas sociais latino-americanas incorporaram símbolos e princípios do catolicismo (como a Nossa Senhora de Guadalupe no México, as místicas do MST, etc.). É possível falar em alguma luta que seja genuinamente popular na América latina e que desconsidere a força do catolicismo e da religião?

- Que eu saiba não há nenhuma força política progressista na América Latina que apregoe o ateísmo e seja anti-religiosa. Desde que Fidel acentuou, na entrevista que lhe fiz em 1985 (livro "Fidel e a Religião") a importância da religião como fator de libertação, o preconceito praticamente terminou. Jamais haverá participação popular nos processos políticos latino-americanos sem incorporar a religiosidade do povo. Aqui a porta da razão é o coração e a chave do coração é a religião.

- Considerando essas questões, como interpretar o caso da revolução cubana? Como avalia a situação por que passa o país hoje?

- A Revolução cubana incorporou os valores religiosos do povo, tanto que teve líderes assumidamente cristãos, como Frank Pais e José Antonio Echeverría, bem como capelão, o padre Guillermo Sardiñas, que após a vitória mereceu o título de Comandante da Revolução. Hoje Cuba passa por um período de excelentes relações entre Igreja e Estado, a ponto deste permitir que a Igreja Católica faça a mediação que possibilita a libertação de presos de consciência.

- Que papel os movimentos sociais desempenham hoje na política latinoamericana? No Brasil, pode-se dizer que foram a maior herança de resistência e organização da época da ditadura?

- Sem os movimentos sociais a América Latina não estaria vivendo essa primavera democrática representada por Lula, Chávez, Funes, Mujica, Evo, Correa, Lugo etc. No entanto, ocorre hoje um refluxo dos movimentos sociais, muitas vezes porque suas lideranças foram cooptadas para aqueles governos. A queda do Muro de Berlim, a influência do neoliberalismo e das novas tecnologias, o advento da pós-modernidade, são alguns dos fatores que explicam a desmobilização dos movimentos sociais, embora alguns permaneçam ativos, como o movimento indígena e, no caso do Brasil, o MST. O movimento indígena, graças à eleição de Evo Morales, o primeiro indígena presidente, ganha autoestima e, devido ao tema ambiental estar em pauta, também relevância, sobretudo na proposta do BEM VIVER, nos ensinando que devemos aprender a considerar o necessário como suficiente.


- Quanto aos governos com origem na esquerda partidária e nos movimentos sociais que vêm se consolidando no cenário latinoamericano, é possível classificá-los como governos de esquerda?

- Não, são governos progressistas e, alguns, como é o caso da Venezuela, até explicitam o socialismo como projeto político. Mas também estão longe de serem governos de direita ou conservadores. Dentro de possibilidades reais, e não ideais, atuam em favor dos mais pobres e, sobretudo, desarticulam o poder político das oligarquias tradicionais, embora elas prossigam com muito poder econômico.

- Tendo acompanhado o partido e colaborado com o PT desde sua fundação, como o senhor avalia os 8 anos de governo Lula em relação à proposta inicial do partido? Como o senhor define sua relação atualmente com o PT e com Lula?

- Lula fez o melhor governo de toda a história republicana do Brasil. Permitiu que 19 milhões de pessoas saíssem da miséria. Estabilizou a economia. Mas não fez nenhum reforma estrutural e nem qualificou a saúde e a educação. Escrevi dois livros de avaliação do governo Lula: A MOSCA AZUL e CALENDÁRIO DO PODER (editora Rocco). Apesar das limitações, penso que é importante dar continuidade do governo do PT.

- Como jornalista e escritor, qual o papel da comunicação para a transformação social? A comunicação ainda é o Quarto Poder? Como enfrentar esse poder?

- A comunicação não é mais o quarto poder, é o primeiro. Vide o papel do marketing eleitoral nas campanhas políticas. Ocorre que os grandes veículos de comunicação se encontram em mãos da elite conservadora. Um dos desafios a serem enfrentados pelos setores progressistas é o de encontrar alternativas à comunicação controlada pelos monopólios poderosos.

- Esteve preso por 4 anos. Como essa experiência interferiu na sua vontade de lutar contra a ditadura e as injustiças sociais?

- Ao contrário, foi a minha militância por justiça social e contra a ditadura que me levou à prisão. Esta apenas reforçou minha decisão de estar sempre ao lado dos oprimidos, ainda que aparentemente eles não tenham razão.

- O senhor já escreveu mais de 50 livros, em quantas línguas já foi traduzido? Qual dos seus livros recomenda para nossos leitores que queiram conhecer melhor o Frei Betto?

- Minhas obras já foram traduzidas em 32 idiomas e 23 países. Para o leitor latinoamericano sugiro obras em espanhol editadas em Cuba: Fidel y la religión; La obra del artista - una visión holística del Universo; Un hambre llamado Jesús (novela). E deve sair em breve La mosca azul.

(Publicado em Brasil de Fato, Edição 394 - de 16 a 22 de setembro 2010)
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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Dr. Eddie Fox conta um pouco de sua trajetória


O melhor evangelista de todos os tempos cedeu uma entrevista ao Expositor Cristão e disse que não pensa tão cedo em aposentadoria.


O Expositor Cristão entrevistou com exclusividade o Dr. H. Eddie Fox durante sua passagem pelo Brasil (17 a 24 de agosto). Fox ministrou no Seminário Metodista Internacional de Evangelização, promovido pelo Instituto Mundial de Evangelização da Igreja Metodista.


Dr. H. Eddie Fox tem atuado desde 1989 como Diretor de Evangelismo Mundial, o Conselho Metodista Mundial e como o Diretor Executivo (1992) do Instituto Metodista de Evangelismo Mundial. Ele é responsável por liderar 16 Secretarias Regionais de Evangelismo Mundial no desenvolvimento de evangelização indígena em todos os continentes.


As pessoas lhe conhecem como o melhor evangelista da Igreja Metodista. Qual é o seu sentimento sobre isso?


Bom, eu penso que esse é um comentário que as pessoas fazem, talvez seja porque eu seja um dos mais conhecidos. Eu tenho tido o privilégio nesta igreja de estar com o nosso povo em vários países. Então eu realmente conheço o povo metodista e eles me conhecem. E isso é muito, muito maravilhoso. Poder dividir o Evangelho com as pessoas pelo mundo inteiro. Por exemplo, aqui no Brasil, eu não sei quantas vezes já estive aqui, mas é um lugar muito especial em meu coração. Eu já estive em São Paulo, claro, Manaus e no Rio de Janeiro um monte de vezes.



Você está no comando de 16 Secretarias Regionais de Evangelismo Mundial no desenvolvimento de evangelização indígena em todos os continentes. Como é esse trabalho?


Nós criamos uma rede de liderança pelo mundo. Três são da África, três da Europa, três da Ásia, três da Oceania, três das Américas e na América do Sul, quem comanda é o bispo Paulo Lockmann e está servindo de forma maravilhosa. Ele é muito capacitado. Ele com certeza é um dos maiores líderes que nós temos no mundo todo. Essas 16 secretarias se encontram ano a ano para planejar como irmãos os próximos trabalhos no mundo todo, afinal de contas o Metodismo trata-se de duas coisas: uma obra e uma família.



Então a melhor notícia ainda é Jesus Cristo?


Nós acreditamos que Jesus é a Boa Nova e que o Cristianismo tem a ver com Cristo e nós estamos aqui para compartilhar essa boa notícia, especialmente para os mais jovens. Nós acabamos de ter uma Conferência de Evangelismo na Coreia e nós tivemos a presença de 450 jovens na faixa de 20 anos. Tivemos a presença de pessoas jovens de 43 países diferentes. Foi uma tremenda experiência e pessoas foram salvas.


Eu fico tão empolgado quando vejo esses jovens adultos interessados em pregar as Boas Novas e em Jesus Cristo. Eu e eles somos realmente apaixonados por Jesus e por esse trabalho.



Você pensa em aposentadoria?


Aposentadoria não está na Bíblia. Você não tem esse tipo de assunto lá. Eu me sinto tão bem fazendo o que faço. Claro que eu nem sempre terei uma disposição física, mas eu sempre serei uma testemunha sobre o que Jesus Cristo fez na minha vida. Enquanto eu tiver fôlego, eu pregarei a todos sobre a salvação. Eu usarei minha boca para pregar as boas novas.


Diana Gilli e José Geraldo Magalhães Jr.
Foto arte: José Geraldo Magalhães Jr.

Fonte: Expositor Cristão / setembro 2010 / p.14
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O "Sim" de Deus

Por José Geraldo Magalhães Jr.

Ontem, 21, aconteceu no Espaço Metodista 24h, o culto Evangelístico com a participação de membros de várias Igrejas. Na ocasião, evangelistas, pastores e pastoras realizaram às 15h, nas proximidades da Rua Major Diogo, o evangelismo pessoal convidando pessoas para o culto da noite às 19h30. A mensagem com o Dr. Eddie Fox (na foto acima a direita, e o intérprete, Dr. L. Wesley de Souza à esquerda) impactou várias pessoas que visitaram e decidiram entregar suas vidas à Jesus.

Fox leu o texto de II Co 1.18-22 e enfatizou em sua mensagem que “em Cristo Jesus, todas as promessas de Deus tem um sim anexado. Eu não prego para uma decisão, Deus é quem decidiu e a resposta é sim. Não votamos isso nos Concílios Gerais, essa parte não é negociável”. Com seu jeito bem humorado, Fox contou a seguinte parábola: “Três caipiras iam para um Seminário e quando chegaram ao hotel não tinham suas reservas. Mas como? Eles pagaram antecipado e não realizaram suas reservas? Eles falaram, então, com o gerente do hotel. A organização do seminário chegou seguinte conclusão: ‘vamos colocar esses três caipiras na Suíte Presidencial’, que ficava no 50º andar. Na suíte eles encontraram, TV’s grandes, lustres, comida de toda qualidade, banheiros com hidromassagem... Não conformados, eles ligaram para as esposas e disseram: ‘nós estamos bem. Estamos na Suíte Presidencial’.

Depois que ligaram para as esposas, eles resolveram sair para dançar e se divertirem na noite. Ao retornarem ao hotel, o porteiro disse aos caipiras: ‘Não tenho uma notícia muito boa para dar a vocês. O elevador quebrou, mas tenho duas opções: ou vocês podem dormir aqui na recepção ou terão que ir pelas escadas mesmo’. Eles olharam um para o outro e disseram juntos: ‘pelas escadas’.

Um deles teve uma brilhante idéia: o primeiro iria contar piadas até o 17º andar; o segundo iria contar histórias de horror do 18º até o 34º andar e, por fim, o terceiro iria contar histórias tristes até o 50º. Tudo estava indo bem! Eles riram bastante até o 17º, sentiram medo até o 34º e também ficaram tristes, mas quando estavam no último andar, o terceiro caipira disse: ‘para terminar vou contar essa última que é pequenininha, mas é boa... ESQUECI A CHAVE LÁ EM BAIXO’”.

Fox, além de arrancar risos dos congressistas, enfatizou que “a chave tem nome e é Emanuel, Messias, Jesus e Senhor. A história mais triste hoje em São Paulo é ter esquecido a chave quando as pessoas vão para suas casas. As pessoas gostam da graça, mas não gostam da verdade. Em Cristo Jesus todas as promessas de Deus têm um sim. A última promessa de Jesus feita aos discípulos foi pedir que eles voltassem para Jerusalém e aguardassem a descida do Espírito Santo”. E completou: “Se a Igreja Metodista no Brasil é viva, ela precisa estar aberta para o poder e unção do Espírito Santo de Deus. Sem unção não há testemunho e conversão”.

O Dr. Fox também compartilhou sua experiência vivenciada em Cuba, pois a Igreja Metodista se multiplicou em apenas 10 anos. O governo cubano não queria que os metodistas construíssem templos. “Então a solução foi construir casas para os irmãos se reunirem. Eles tem 900 casas que são utilizadas para as reuniões e cultos”. Certo pastor, também telefonou para Fox solicitando ajuda para comprar bicicletas para os pastores usarem em suas visitas pastorais. “Consegui 500 bicicletas e a maioria delas foi doada às crianças. Fui, então, convidado para ir à Cuba no Natal para dedicar as bicicletas. Primeiro demos um nome: evangebyke. Tive que procurar muito para encontrar um texto bíblico que falasse de bicicletas. Meu texto foi o de Ezequiel: ‘O Espírito está nas rodas’”, disse arrancando risos da plenária. Segundo Fox, essa história também foi contada na BBC de Londres. Ele conta que “o Espírito esta nas rodas, mas também nos pastores e pastoras, nos leigos e leigas e por isso eu oro para que o Espírito de Deus habite em você” finalizou.
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