segunda-feira, 12 de setembro de 2011

História da Beleza

Me aventurei a ler um livro sobre a História da Beleza do italiano, Humberto Eco. Saí um pouco do "padrão" teológico dos textos aqui postados. O autor é conhecido pelos romances, como por exemplo, "O Nome da Rosa". Espero que as mais de 400 páginas possam ser uma verdadeira viagem pela História da Beleza percorrendo a Grécia e Roma antigas, sobretudo, desfrutando de textos de Platão, Kant, Dante, Engel e outros clássicos para entender a história do homem, da arte, sobretudo, do olhar. Esse livro foi uma inspiração para escrever  o texto abaixo.
Desde a antiguidade que existem padrões de estética que, de certa forma, foram se adaptando com o passar dos anos. Sem dúvida alguma, no século XX, houve uma evolução da beleza e do bem-estar. Neto (1996) chega afirmar que “o corpo é à base da percepção e organização da vida humana nos sentidos biológico, antropológico, psicológico e social”[1]. Desta forma, podemos considerar os sentidos do agir, sentir, pensar, falar que representam os modos e estilos de vidas diferentes se levarmos em consideração determinado grupo social.
A História da Beleza de Humberto Eco é uma das obras clássicas que tratam o tema. O escritor italiano conhecido por romances, como por exemplo, O Nome da Rosa, descreve um improvável explorador do futuro que retorna ao recém terminado século XX para descobrir o que era acatado belo em nosso tempo, Eco declara: “(o explorador) Será obrigado a render-se diante da orgia de tolerância, de sincretismo total, de absoluto e irrefreável politeísmo da Beleza”[2]. O que mais cativa na leitura da obra, é a erudição de Eco sem ser pedante em momento algum.
Antes de chegar ao século XX, ele passeia pela Grécia e Roma antigas, pela Idade Média, Renascimento, pela estética vitoriana do século XIX, se apoiando, sobretudo, nas obras de Platão, Kant, Dante, Hegel e Kafka. Uma verdadeira viagem pela história do homem, da arte e, principalmente, do olhar.
Diante desse fenômeno explorado, principalmente no século XX e XXI, o corpo é socialmente construído como parte da cultura que nos leva a interpretá-lo, seja para embelezar ou marcar uma determinada classe social como pertencimento ou exclusão a determinado grupo na sociedade. O corpo é, e sempre será submetido a vários tipos de transformações, mesmo que para isso seja preciso ocorrer algumas alterações de valores para o meio em que vive.
Ao abordar o século XX em A História da Beleza, Eco pesquisa temas como a estética do consumo (a beleza atrelada ao valor comercial dos produtos) tão presente na primeira década do século XXI. Será o corpo uma máquina em ação? Segundo Mendes e Nóbrega[3] (2004. P.25) o corpo humano recebe uma instrução que o analisa apenas em sua aparência mecânica, ou seja, abre-se a possibilidade para uma remodelação e reconstrução transformando-o em um objeto rentável.

Nunca se falou tanto do corpo como hoje, nunca se falará tanto dele amanhã. Um novo dia basta para que se inaugure outra academia de ginástica, alongamento, musculação; publiquem-se novos livros voltados ao autoconhecimento do corpo; descubram-se novos preconceitos quanto à sexualidade, outras práticas alternativas de saúde; em síntese, vivemos nos últimos anos perante a incontestável re-descoberta do prazer, voltamos a dedicar atenção ao nosso próprio corpo[4]. (Codo e Senne 1985.)

 Frente a essa relação instituída com o corpo, que traçamos nosso parecer sobre a cultura atual e a inquietação com a estética, pois além da busca inconstante pelo belo há, de acordo com Neto (1996), um "narcisismo e um individualismo exacerbados que levam as pessoas a acreditar no elixir da vida, em poções mágicas, na juventude eterna".
A busca por um determinado “padrão” estético tem levado ao consentimento público de desiguais, recursos para se chegar a esse tipo ideal de corpo exigido ou idealizado pela sociedade. A filósofa norte-americana, Susan Bordo (1993), advoga que a fantasia de estabelecer um corpo perfeito e esteticamente belo, é nutrida pelo capitalismo consumístico. Ela aponta ainda que uma indústria e uma ideia alimentada pela fantasia da reconstituição corporal sem limites, também representa uma provocação à moralidade, à historicidade, e à própria materialidade do culto ao corpo[5] (Bordo, 1993).
As sociedades modernas impõem às pessoas uma responsabilidade pelo belo, ou seja, pela plasticidade do seu corpo. Logo, tanto os homens como as mulheres buscam uma aparência desejável mesmo que para isso, elas precisam sofrer alguns transtornos à saúde provocados, por exemplo, pela bulimia e o uso impróprio de anabolizantes.


[1] NETO, Samuel de Souza. Corpo, cultura e sociedade. In: NETO, Samuel de Souza. Corpo para malhar ou corpo para comunicar? São Paulo: Cidade Nova, 1996, p. 09-37.
[2] Eco, Umberto. História da Beleza; trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2004. Pág. 428. 
[3] MENDES, Maria Isabel Brandão de Souza; NÓBREGA, Terezinha Petrucia. Corpo, natureza e cultura: contribuições para a educação. Revista Brasileira de Educação, n.27, p. 125-137, set/out/nov/dez 2004.
[4] CODO, W; SENNE, W. O que é corpo(latria)? São Paulo: Brasiliense, 1985.
[5] BORDO, Susan. Il peso del corpo. Milano: Feltrine, 1993.
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sábado, 10 de setembro de 2011

Uma interpretação exegética do Salmo 37

Entrega teu caminho ao Senhor...
O Salmo 37 tem sido usado para justificar a teoria da prosperidade. Segundo essa teoria, o justo, isto é, o crente fiel não passará fome. Eu já vi e ouvi pessoas abastadas justificarem suas recusas em ajudar o semelhante com este texto.

Será que este texto pode ser tomado para essa finalidade? Esta é uma questão importante para o testemunho da igreja. Vamos entender e interpretar o Salmo 37?




Eis que!
Javé apoiará sua mão.
Jovem já fui,
também envelheci;
mas não vi um justo ser abandonado,
e sua descendência procurar pão (Sl 37,25).

Vamos interpretar o verso 25.

(1) Não se pode isolar o verso 25 dos demais versos do Salmo 37.
(2) É preciso entender o momento de vida que o salmista passava ao compor esta poesia.
(3) Havia um conflito entre justos e injustos nos dias do salmista. Esse conflito trazia-lhe muita preocupação. Este assunto é muito comentado em outros textos:

... invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos malvados (Sl 73,3).

Por que prospera o caminho dos malvados?
Por que os apóstatas estão em paz? (Jr 12,1b).
Socorro, Javé! Não há mais homem fiel!
A lealdade desapareceu dentre os filhos de Adão (Sl 12,2).
O autor do Salmo 37 também estava preocupado com a aparente vida vitoriosa dos arrogantes, presunçosos e orgulhosos de sua condição social.

Não te irrites por causa dos maus,
Nem invejes os que praticam injustiça (Sl 37,1).

O conflito, que o salmista está descrevendo, tem dois grupos em duelo:

(1) De um lado, o salmista usa, doze vezes, um adjetivo para caracterizar o grupo adversário: raxa´, malfeitor. menciona (v. 1a e 9) a existência dos mere´im, imprestáveis, ruins, nocivos, perigosos, mesquinhos (da raiz ra´a´); ele também menciona a presença dos que ´asah ´awelah, os que fazem perversidade ou produzem o erro (v.b) e daquele que fabrica plano vil, mezimah (v. 7b).

(2) Do outro lado estão os sadikim, justos (v.12.16.25.29.32.39), o `ebion, empobrecido (v.14), o yaxar, correto, honesto (v.14. 37), os hasidim, bondosos, piedosos (v.28) e o tam, íntegro (v.37). O salmista descreve a ação dessas pessoas desta forma:

- confiam em Javé, fazem o bem e apascentam a fidelidade (v.3);
- depositam alegria em Javé (v.4);
- deleitam com paz abundante (v.11)
- recebem apoio de Javé (v.17);
- Javé conhece os dias dos íntegros (v.18);
- os justos não se envergonharão nos dias maus/fome, porque Javé os saciará (v.19);
- os justos se compadecem e dão (v. 20);
- Javé firma os passos do jovem geber (v.23);
- Javé sustenta os jovens pela mão (v.24);
- Javé não deixa sua descendência mendigar o pão (v.25);
- a descendência do jovem é uma bênção (v. 26);
- Javé dará habitação para sempre (v.27);
- Javé jamais abandona os seus fiéis (v. 28);
- os justos possuirão a terra e habitarão nela para sempre (v.29);
- a boca do justo medita sabedoria e fala o direito (v.30);
- o justo tem no coração a instrução e os seus passos nunca vacilam (v.31);
- há uma posteridade para o homem pacífico (v.37);
- a salvação e a fortaleza nos tempos de angústia vêm de Javé (v.39);
- Javé ajuda e liberta os justos (v.40).

Assim, a afirmação - não vi um justo ser abandonado, e sua descendência procurar pão (Sl 37,25) - tem que ser lida, entendida e interpretada à luz do sustento, apoio, cuidado e ajuda de Deus ao justo.

Conseqüentemente,

(a) ser justo não é um título conquistado através do cumprimento de certas formalidades;
(b) ser justo é conseqüência da prática de fé; não importa a riqueza ou a posição social.
(c) o justo não é abandonado ou mendiga pão por seus próprios méritos, mas porque Deus o sustenta.


Assim afirma Isaías:

Ele faz forte ao cansado,
E multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
Os jovens sse cansam e se fatigam,
e os moços de exaustos caem,
mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças,
sobem como águias,
correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam (Is 40,29-31).

Colaboração das aulas de exegese na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista co o professor, Dr. Tércio Siqueira.
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Quatro diferentes reações para enfrentar situações na vida

Pensando no pouco que há / Traços de nanquim
I. A experiência na vida mostra que, ao enfrentar as aflições da vida, o ser humano tem, pelo menos, quatro diferentes reações:

Primeira reação:
Fugir e recusar-se a lutar pela superação dos problemas.

Contexto histórico: Por razões lingüísticas, provavelmente, o livro de Jonas foi escrito durante o período persa (século V ou IV a.C). Os que retornaram do exílio babilônico trouxeram uma boa experiência com os estrangeiros. Portanto, por que não falar, para eles, dos grandes atos de Deus? Entretanto, crescia, em Jerusalém, um grupo radical que insistia na identidade do povo da Aliança. Daí, a história de Jonas, o recalcitrante.

No AT, os relatos do chamado de Deus, para uma missão, mostram uma tendência repetitiva:

1. Deus chama;
2. A pessoa recusa aceitar a convocação;

3. Deus insiste no chamado;

4. A pessoa decide aceitar o chamado de Deus, e

5. Deus envia para uma missão a pessoa chamada.

Observação: O desafio dirigido a Jonas era anunciar a palavra de Deus aos ninivitas, porém ele fugiu, abandonando a missão.


Segunda reação:
Mentir com medo de ameaças.

Contexto histórico: Jesus encontrava-se no Sinédrio, o tribunal supremo do povo judeu (anciãos, sumos sacerdotes e escribas), com poderes para prender, contando com uma polícia própria. Havia uma tensão, dentro e fora do recinto, a espera do resultado da pena que seria imposta sobre Jesus. Pedro, diante da pergunta de uma criada sobre sua identidade, ele nega três vezes que seja um discípulo de Jesus (Mt 26,30-35. 69-75).

Observação: A negação de Pedro tem sua razão no medo do clima desfavorável promovido pelo Império Romano e pela comunidade judaica. Confessar que Jesus é o Cristo e Senhor pode ser fácil na teoria e nas horas de paz; porém, é muito difícil quando se está diante da perseguição ou outras formas de conseqüências desvantajosas.


Terceira reação:
Revoltar-se contra Deus.

Contexto histórico: O livro de Números narra um episódio da passagem de Moisés e o povo israelita pelo deserto de Parã. A caminhada pelos desertos, desde o Egito, trouxe, para parte do povo, muita insegurança e desconforto. A narrativa de Nm 14,1-4 reproduz essa revolta: Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e Aarão (...) “Antes tivéssemos morrido na terra do Egito (...) e por que Javé nos traz a esta terra para nos fazer perecer (...) (v. 2-3).

Observação: A revolta do povo contra a decisão de Deus libertar os escravos hebreus atingiu de cheio a liderança de Moisés. Os livros de Êxodo e Números contam que o povo se revoltou várias vezes diante das dificuldades que a missão exigia enfrentar (Ex 14,11; 16,19-21; 17,3; Nm 11,4-6).


Quarta reação:
Reagir em fé.

(4) Reagir em fé, colocando-se nas mãos de Deus para enfrentar as vicissitudes da vida.

A Bíblia narra vários tipos de reações em fé diante das dificuldades:

1) Ser forte e firme
Contexto histórico: Após o falecimento do grande líder, Moisés, Javé escolhe Josué para substituí-lo. É tempo de dúvida e incerteza em vista da tragédia que envolveu a perda do querido comandante Moisés. É um tempo perigoso para o cumprimento da missão. E Javé adverte ao novo líder:

Sê firme,
e sê forte!

        Eis que!

                   Tu farás este povo herdar a terra que eu jurei dar-lhes a seus pais.

                   (...)

        Eis que! Então,

                  Tu prosperarás teus caminhos,

                  e tu triunfarás.

       Não te ordenei?

Sê firme
e sê forte!

                  Tu não estremeças,

                  e tu não abales.

         Eis que!

                       Contigo (está) Javé

                                  teu Elohim, em tudo que tu andares (Js 1,6.8b-9).

Observação: Para Javé, a arrancada final para a chegada e estabelecimento em Canaã era o sonho dos hebreus e, muito mais do que isso: era o cumprimento da promessa feita quando eles eram escravos de Faraó. Em primeiro lugar, Javé recomendava a Josué e ao povo: sê firme e sê forte! Não pode haver medo diante dos desafios.


2) Não deixar de ler a Tora do Senhor
Contexto histórico: Os 40 anos de caminhada pelo deserto deram aos escravos hebreus uma preciosa munição. Durante a longa caminhada, eles trouxeram uma história rica de sentido e valiosa para o projeto de construir uma nova sociedade. Não se constrói nada na vida em cima de bravatas, euforias e emoções vazias. É preciso lembrar e celebrar os grandes atos de Javé em favor dos hebreus escravos. É preciso também estudar e obedecer os preceitos de Javé para construir uma comunidade feliz.


Tão somente,
                  Sê firme

                  e sê muito forte para cuidar de fazer

                  conforme toda a Tora que ordenou Moisés, meu servo.

                  Tu não desvies dela para a direita, para a esquerda,

                  para que tu tenhas sucesso em tudo onde andares.

                  Tu não apartarás este livro Torá de tua boca,

                  e tu monologarás nele dia e noite para cuidar de fazer

                  conforme tudo que está escrito nele (v.7-8 a).

Observações: Posteriormente, o compositor do Salmo 19 observou que a Torá de Javé é, realmente, o fundamento da prometida e desejada sociedade. Essa comunidade não deve ser estruturada na riqueza, no poder político e na arrogância religiosa, mas baseada na recuperação dos valores da vida plena, na restauração dos incapacitados, da valorização dos pobres e da perpetuação da alegria de todos e todas. Todavia, para que tudo isso aconteça, é preciso cuidar de fazer conforme o Ensino que o Senhor deixou.


3) Temer e servir ao Senhor.
Contexto histórico: Josué enfrentava um conflito que se estendeu por séculos: a unidade do povo em torno de Javé. Essa crise não diz respeito somente ao âmbito do culto, mas a unidade em torno da fé tem importância capital para a unidade política de Israel. Como a sociedade israelita tinha sua base no bayit, casa, Josué dirigiu-se à família como a mais antiga forma de comunhão, quer religiosa, quer política.

E agora,
          Temei a Javé e
          servi-o na perfeição e

          na fidelidade.

          Lançai fora os deuses aos quais serviram os vossos pais (...).

          E se é mal aos vossos olhos servir a Javé,

          Escolhei hoje a quem sirvais:

          Se aos deuses a quem serviram vossos pais (...), ou

          aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais.

          Mas, eu e a minha casa serviremos a Javé (Js 24,14-15).

Observação: Quando o imperador romano Constantino declarou-se cristão, ele buscou a unidade cultual dos/as seguidores/as de Cristo. Entretanto, sua intenção foi colocar o povo cristão sob a sua liderança política. O projeto de Josué foi mais abrangente: ele procurou colocar os israelitas sob a liderança de Javé.


4) Não ter medo

Contexto histórico: No ano de 701 a.C, o temível Império Assírio cercou Jerusalém. Sua tática era sufocar os moradores, impedindo que eles recebessem água, especialmente. Entretanto, o rei Ezequias (716-687 a.C), prevendo o cerco da cidade, mandou abrir um túnel para conduzir água, da fonte Gion, para dentro dos muros de Jerusalém. Os assírios não tinham idéia dessa fabulosa obra de engenharia. O Salmo 46 é fruto da superação dessa situação perigosa que poderia trazer graves conseqüências para o povo de Jerusalém.

Eloim é para nós um refúgio,
                         uma força,

                         uma ajuda na angústia muito encontrado.

Assim, não temeremos no transtornar da terra

                                 no vacilar das montanhas no coração dos mares.

                                 Bramam e

                                 espumam suas águas;

                                 estremecem as montanhas em sua altivez. Selah

                                 Há um rio,

                                 seus canais alegram a cidade de Eloim,

                                 santas moradas de Elion.

                                                                                 Eloim está no meio dela,

                                                                                 ela não será abalada;

                                                                                 Eloim a ajuda tomar a direção da manhã (v. 2-6).


Observações: O salmista interpretou a desistência de invadir e destruir Jerusalém como uma ação salvífica de Javé. Em decorrência disso, ele declara que ter medo, diante das angústias e transtornos, é uma atitude contrária à fé em Deus. O profeta Isaías reforça esta posição, falando para o rei Acaz (736-716 a.C): Se não o crerdes, não vos mantereis firmes (Is 7,9). E o poeta popular diz: “Quem anda com Jesus Cristo não tem medo de assombração”.


5) Esperar com confiança.

Contexto histórico: Cada salmo bíblico contém uma história de vida. No Salmo 40, o compositor tinha passado por uma grave situação. Em meio à sua tribulação, ele pediu a ajuda de Javé, foi ouvido e, agora, vem agradecer Seu socorro.


Eu esperei ansiosamente por Javé:
                                    Ele se inclinou para mim e

                                    Ele ouviu o meu grito de socorro;

                                    Ele me fez subir da cova desolada

                                                            do lamaçal de barro;

                                  e Ele colocou meus pés sobre uma rocha,

                                    Ele deu estabilidade a meus passos.

                                    Ele pôs em minha boca uma nova canção,

                                                                      louvor a nosso Deus.

          
                                                                      Muitos verão
                                                                      e temerão

                                                                      e confiarão em Javé (Sl 40,2-4).

Observações: Este salmo é a reportagem da superação de um grande conflito. Ele faz lembrar a narrativa de Êxodo 3,7-9 onde Javé, em resposta aos insistentes pedidos dos angustiados escravos hebreus, aproxima dos queixosos e atende-os, tirando-os daquele “lamaçal de barro” para conduzi-los à Canaã, uma terra de mana leite e mel. O segredo é ter esperança no Senhor.

II. Na Bíblia, quando o povo de Deus enfrentava um problema, ele reunia com a sua comunidade, no culto. Como comunidade, o povo crente tinha duas cerimônias bastante citadas na história bíblica.


(5) Lamentar perante o Senhor (não sacrificar);

Contesto histórico: De fato, as lamentações não dependeram do espaço aberto na liturgia do culto público. Entretanto, os salmos de lamentação foram recolhidos a partir do culto no Templo. Esses salmos são provas históricas que a vida nos tempos bíblicos não menos angustiosa do que em nossos dias. Todavia, um detalhe é bastante saliente nessas lamentações: o povo crente queixava, porque confiava na pronta ação de Javé. Eis o exemplo do Salmo 12.

Salva Javé!
               Eis que! 
                          O leal está no fim.
               Eis que!
                          Desaparecem os fiéis dentre os filhos de Adam.
                          Falsidade eles falam cada um ao seu amigo:

                          Lábios bajuladores e duplo coração eles falam.

                         Javé corta todos os lábios dos bajuladores,

                         a língua do que fala grandezas,

                         que dizem: por nossas línguas seremos fortes,

                         nossos lábios (são) nossos.


Quem (é) senhor para nós?
                                    Da violência dos miseráveis,
                                    do gemido dos empobrecidos,

                                   
agora, eu levantarei, diz Javé:
                                    Eu porei em salvação. Ele respirará para ele.
                                    As palavras de Javé (são) palavras puras,

                                    prata refinada na entrada para a terra

                                    que é purificada sete vezes.


Tu, Javé, nos guardarás,
Tu os protegerás dessa geração para sempre.
Por toda parte, os malvados andam,
quando é exaltada a vileza para os filhos de Adam (Sl 12).

Observações: Este é uma lamentação comunitária, em vista de uma situação muito grave na comunidade. O salmista pede urgência na solução desse conflito. A ocorrência de, pelo menos, 40 composições com esse tipo literário, leva a crer que havia um espaço na liturgia do culto para as pessoas expressarem suas lamentações. No Salmo 12, o grupo queixa de pessoas más, da sua comunidade, que agridem, especialmente, com palavras. Apesar de sua angústia e decepção, os lamentadores confiam na atuação de Javé.


B. Trazer à memória a história da salvação (Páscoa).

Contexto histórico: A celebração da Páscoa é amplamente registrada do AT e NT. Não se trata de uma mera churrascada. A carne assada, para todos os familiares e agregados tinha um caráter significativo. Eles reuniam para trazer à memória a história da salvação do povo hebreu. Era preciso lembrar intensamente para que a nova geração soubesse que Javé está sempre pronto a ouvir o grito de angústia do povo oprimido, e libertá-lo de todo tipo de opressão.

(...) Quando vossos filhos vos perguntarem: “Que rito é este?”
            Respondereis:

                               É o rito da Páscoa para Javé que passou adiante das casas
                               dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios, mas livrou

                               as nossas casas (Ex 12,26,28).

Observações: Ao longo dos séculos, o povo bíblico celebrou a Páscoa como um memorial da libertação dos hebreus do Egito. É um sinal, isto é, anuncia o milagre da transformação de um povo escravizado em comunidade liberta pela intervenção milagrosa de Deus. A celebração da Páscoa, assim, nutre os celebrantes para a caminhada, enfim, para os embates próprios do dia-a-dia do povo crente. Antes de enfrentar os episódios da “paixão” e “morte”, Jesus prepara os discípulos para os desafios da vida, e diz: (...) no mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo (Jo 16,33).

Contribuição nas aulas de exegese do Dr. Tércio Machado Siqueira, professor na Fauldade de Teologia da Igreja Metodista






















































































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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Avivamento e santificação: as marcas do Bispo José Carlos Peres

Ao lado da esposa, Maria da Penha, o Bispo Peres compartilha sua visão de ministério e como deseja atuar na 3ª Região
José Carlos Peres, o novo Bispo da Igreja Metodista, mostra cautela e personalidade meses antes de assumir a presidência da 3ª Região Eclesiástica. Em  entrevista ao Expositor Cristão, o Bispo Peres reafirma as marcas de seu ministério: avivamento e  santificação. Ele quer seguir os passos do atual Bispo Adriel Maia, mas, promete imprimir um ritmo particular nos próximos anos e incentivar o crescimento da Região.

Quais serão os primeiros passos como Bispo presidente da 3ª Região Eclesiástica? 
 A ideia inicial é ver o encaminhamento que o Concílio Regional vai dar em relação ao Plano Nacional, para depois definir como será a contribuição episcopal. Minha pretensão é dar seqüência em projetos iniciados pelo Bispo Adriel. Se mudar alguma coisa, será na condução pastoral, já que temos estilos diferentes. Como dizem os jovens, temos “pegadas” diferentes. Desde 1988 e 1989, quando comecei como liderança de igreja, escolhi o caminho de avivamento e santificação que tem tudo a ver com metodismo.  O avivamento é como que trazer à essência tudo aquilo que foi o metodismo da época de Wesley.

O sr.  acredita que vai enfrentar dificuldades na 3ª Região, onde nos deparamos com Igrejas e pastores/as mais conservadores/as, ecumênicos, inclusive? 
Como reverter esse quadro? O problema não é a opção teológica que a pessoa faz. Mas é se a pessoa é crente ou não. Tenho convivido com pessoas conservadoras, tradicionais, mas profundamente cristãs que tem a essência da palavra no coração. Nunca tive problemas com essas pessoas. Tenho problemas com quem tem dificuldades com a santificação, com novidade de vida, que tem a santidade como discurso, mas a prática está bem distante disso. Diria que não sou eu que tenho problemas com elas, mas elas que tem comigo porque a resistência está nelas em relação a mim. 
 
Na prática da santidade, tenho incentivado as pessoas a buscarem o princípio wesleyano de santificação. Isso não passa pelo fato da linha teológica, mas pelo compromisso com a Igreja, Palavra de Deus e opção pelo cristianismo. A pessoa pode ser tradicional, conservadora, carismática ou progressista, mas se for crente e envolver com os princípios da missão e do evangelho, dificilmente se tem problemas. Até porquê uma das marcas do metodismo é a unidade na diversidade. Não precisa ser igual a ninguém para se dar bem comigo, apenas me respeitar e eu respeitá-lo/a. Pontos que não podemos negociar da nossa fé, são os princípios cristãos e, como metodista, o princípio da santificação é inegociável.

O sr. passou por quatro Igrejas em 18 anos: Guarulhos, Catedral de São Paulo, Santos e Tucuruvi. Como avalia a itinerância pastoral?  
A itinerância é uma marca nossa. Da forma como ela se encontra estabelecida na cabeça de muitas igrejas, ou seja, a cada dois, três ou quatro anos tem que trocar o/a pastor/a, creio que não é a melhor itinerância. É preciso discutir isso para se ter uma itinerância mais contextualizada com nossa realidade. As estatísticas apontam que o pastorado mais longo é o que mais faz a igreja crescer. Isso será preciso pensar, até porquê tem-se um projeto aprovado no Concílio Regional que o pastoreio pode chegar até 12 anos; três períodos de quatro. A intenção é não mexer onde há projetos, sonhos, casamento pastoral entre igreja e pastor/a. 
 
Não vejo com bons olhos a mudança simplesmente por mudar, principalmente se está dando certo. Devo manter um pouco mais esse pastoreio para a igreja local porque é a partir da confiança da igreja no/a pastor/a que ela vai desenvolver os projetos. Às vezes a Igreja não cresce justamente por causa da mudança rápida de pastores/as, além de gerar insegurança na vida da comunidade.

O que pensa fazer para levantar as Igrejas com mais de 30 ou 40 anos que estão no Programa de Revitalização de Igrejas - PRI? 
Penso que dentro da revitalização, precisamos conversar com essas Igrejas. Não acredito que uma decisão regional vai mudar a cabeça das pessoas. É preciso conversar para saber o que elas pensam e qual a razão de tantos anos sem crescimento. O diagnóstico está na Igreja local. Creio que regionalmente vamos encontrar uma fórmula que vai dar uma ajeitada, até porquê quando se observa os documentos, cada igreja tem suas características, seu jeito de ser. 
 
As Igrejas que estão no PRI devem ter suas dores, doenças, enfermidades e é conversando que vamos diagnosticar e saber como resolver o problema. Temos muitas ideias, planos aprovados e, um sentimento muito pessoal, é que nos falta uma metodologia segura para colocar tudo isso na prática. Nossa maior crise pela falta de crescimento da Igreja é a falta de metodologia. As ideias estão aí, mas ninguém sabe como colocá-las em prática. Um dos trabalhos que tenho em mente é como desenvolver a metodologia do crescimento saudável na vida da Igreja.

O Bispo Adriel está passando o bastão, embora não esteja se aposentando do ministério. O que lhe marcou e o que leva para o início de seu mandado episcopal?
Creio que há muitas coisas em dez anos, mas três delas tem uma marca bastante significativa, tomando como experiência o cuidado dele comigo e minha família. A primeira marca foi a presença dele nos momentos que mais precisamos, como por exemplo, a morte de meu pai, meu sogro, a enfermidade de minha esposa e o casamento de meus filhos. Ele sempre esteve presente pastoreando. Isso é uma marca significativa. A segunda marca que tenho que me espelhar é a capacidade de dialogar com os diferentes. É difícil você encontrar uma pessoa que não se relaciona bem com o Bispo Adriel. Ele conversa, se posiciona, escuta e, para quem se relaciona com o público, isso é uma marca que precisa ser considerada. A terceira é a qualidade administrativa. 
 
Quando olho para a 3ª Região, há dez anos ela estava meio desencontrada, saindo de algumas crises episcopais que foram acontecendo. Nem gosto de relembrar isso, mas com ele a poeira se assentou. A Região conheceu um projeto de longo prazo, se encaminhou, tem um horizonte pela frente e a gente enxerga nosso alvo. Tem outras, mas essas três são fundamentais, basilares no ministério dele que eu quero levar.

Aproveite a oportunidade e deixe uma mensagem para as pessoas que já passaram em seu ministério pastoral. 
Uma mensagem a elas? Se hoje estou onde estou eu devo a cada uma delas. Aquelas que foram bênçãos no meu ministério, que oraram, acreditaram em mim num período que eu nem sabia o que era ser pastor, aquelas que viram em mim a figura de um líder, e divido com elas a alegria desse momento. Sei que algumas pessoas podem ter se entristecido com minha forma de pastoreio. Também aprendi muito com elas. Aprendi que alguns caminhos a gente poderia ter evitado, outros poderíamos ter passado por eles, mas também aprendi ser tolerante, orar mais por elas, buscar mais a face de Deus. 
 
Todas as vezes que elas endureciam o coração eu buscava mais a confiança em Deus para ter o discernimento pelo Espírito. Acredito que essas pessoas também contribuíram muito para a formação do meu ministério pastoral. Divido com todas elas a alegria desse momento. No pastorado, não foram somente os membros que me deram suporte, alguns pastores também foram amigos importantíssimos, companheiros, conselheiros que deram direcionamento e creram que eu poderia fazer a diferença no pastorado. Minha oração é que Deus possa cobrir todas as pessoas com as mais ricas bênçãos.
 
Pr. José Geraldo Magalhães Jr.
Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão edição de setembro
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