segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sinais da queda

Fonte: Revista Cristianismo Hoje
A queda de uma igreja passa por cinco estágios nem sempre fáceis de perceber

Um pouco antes de terminar meus estudos em teologia, fui convidado para pastorear uma congregação no sul do Illinois, nos Estados Unidos. Aquele foi meu primeiro grande despertamento para as realidades da liderança pastoral – e uma experiência um tanto desconfortável. As habilidades ou dons que levaram a congregação a me convidar a ser seu líder espiritual foram, provavelmente, meu entusiasmo, minha pregação e minha aparente habilidade – mesmo sendo ainda jovem – em alcançar pessoas e fazê-las sentirem-se cuidadas.

O que não havia sido mencionado era o fato de aquela congregação estar desiludida devido a uma terrível divisão provocada pelo pastor anterior, que encorajou um grupo de cem pessoas a sair com ele para formar outra congregação. E bastaram apenas alguns meses para que eu percebesse que entendia muito pouco sobre liderar uma organização com aquele tamanho e complexidade, e ainda por cima, tão ferida. Com meus 27 anos, eu estava completamente perdido. Passara meus anos no seminário pensando que tudo que alguém precisava para liderar era uma mensagem carismática e uma visão encorajadora, e tudo o mais na vida da igreja seria perfeito. Ninguém havia me falado sobre grupos a serem dirigidos, equipes esperando resultados e congregações precisando ser curadas. Há quem tenha bom conhecimento de como conduzir uma comunidade cristã. Eu não tinha.

Foi naqueles dias de angústia que fui apresentado ao meu primeiro livro de liderança organizacional, The Effective Executive (“O executivo eficiente”), de Peter Drucker. Ali, percebi como as pessoas estão dispostas a alcançar objetivos que não podem ser atingidos. Aquele livro, provavelmente, me livrou de um nocaute no primeiro round em minha vida como um pastor. Desde aquela época, mais de quarenta anos atrás, incontáveis outros autores tentaram aprimorar os insights de Drucker. E nenhum deve ter tido mais sucesso nessa tarefa quanto Jim Collins. Não sei se ele tinha pessoas como eu em sua mente quando ele escreveu seus livros, mas muitos de nós, engajados ou não no trabalho pastoral, aprendemos muito com ele.

Recentemente, Collins e seu grupo de pesquisadores escreveram uma obra menor, com o nome How the Mighty Falls (ainda sem titulo em português), que segundo ele começou como um artigo e terminou como um livro. Collins afirma que foi inspirado em uma conversa durante um seminário, no qual alguns poucos líderes de setores tão diversos como o militar e o de empreendimentos sociais reuniram-se para explorar temas de interesse comum a todos.  O tema era a grandeza da América e os riscos desse gigantismo. O receio geral era de que o sucesso encobrisse o perigo e os alertas do declínio. Saímos de lá pensando em como seria possível perceber que uma organização aparentemente saudável enfrentava sérios problemas.

Parece ser cada vez mais real o fato de que grande parte dos líderes desconhece o problema vivido na sua organização. Em seu livro, Collins identifica cinco estágios no processo de derrapagem de uma instituição. O primeiro é a autoconfiança como fruto do sucesso. “Prestamos um desserviço a nós mesmos quando estudamos apenas sobre o sucesso”, afirma Collins. Uma pesquisa e análise acerca de empreendimentos, até mesmo na literaturas de liderança eclesiástica, mostra que poucos livros investigam as raízes do fracasso. Parece que existe no segmento cristão a presunção de que o sucesso é inevitável, razão pela qual não se torna necessário considerar as possíveis consequências de uma queda.

A confiança exagerada em si mesmos, nos sistemas que criam ou na própria capacidade para resolver tudo faz com que os líderes não enxerguem seus pontos de fraqueza. Subestimar os problemas e superestimar a própria capacidade de lidar com eles é autoconfiança em excesso. A ganância e a busca desenfreada por mais é outra das principais situações que derrubam um grupo ou organização. Geralmente, quando se entra nesse processo descontrolado, abandonam-se os princípios sobre os quais a entidade foi constituída.
A busca pelo crescimento exagerado é o segundo estágio que antecede a derrocada, seja de uma organização secular ou de um ministério cristão. Muitos líderes tornam-se cegos pelo êxtase do expansionismo. Constantemente surge uma necessidade em tais líderes de mostrarem-se capazes, e eles não conhecem outra forma de fazer isso que não seja tornando seus empreendimentos maiores, independente das consequências.

É a incessante idéia de que tudo tem que crescer e crescer. Todavia, impressiona o fato de que acobrança de Jesus aos seus discípulos estivesse relacionada à necessidade de fazer novos discípulos, e não de construir grandes organizações. Ele parecia saber que discípulos bem treinados em cada cidade e povoado dariam conta de conduzir o movimento cristão de forma saudável. Talvez Jesus temesse exatamente o que está acontecendo hoje: a sistematização do movimento cristão, sua centralização e expansão tão somente para causar uma impressão.

O terceiro estágio de declínio identificado por Collins é desencadeado quando líderes e organizações ignoram ou minimizam informações críticas, ou se recusam a escutar aquilo que não lhes interessa. A negação dos riscos é um perigo iminente – e riscos não levados a sério são justamente aqueles que, posteriormente, causam grandes estragos na organização. É preocupante, para Collins, quando organizações que baseiam suas decisões em informações inadequadas. Em meu ministério de liderança, cedo aprendi a temer conselhos que começam com expressões como “Estão dizendo” ou “O pessoal está sentindo”. Prefiro valorizar dados precisos, vindas de pessoas confiáveis, sábias, que se engajam na tarefa de liderar a comunidade com sensatez. Isso nos possibilitou caminhar ao lado de gente que jamais imaginávamos que caminharia conosco. Nada me foi mais valioso do que receber, delas, informações que me ajudaram a conduzir minha congregação.

O estágio quarto começa, escreve Jim Collins, “quando uma organização reage a um problema usando artifícios que não são os melhores". Ele dá como exemplo uma grande aposta em um produto não consolidado, o lançamento de uma imagem nova no mercado, a contratação de consultores que prometem sucesso ou a busca de um novo herói – como o político que vai salvar a pátria ou o executivo que em três meses vai tirar a empresa do buraco. Eu me lembro de épocas nas quais eu estava desesperado por vitórias que fariam com que minha igreja deixasse de caminhar na direção em que estava caminhando – para o abismo. Ao invés de examinar o que nossa congregação fazia nas práticas essenciais de serviço ao povo, centrada no serviço a Cristo, fui tentado a me concentrar em questões secundárias: cultos esporádicos de avivamento, programações especiais, qualificação de nossa equipe de funcionários. Hoje eu vejo o que tentei fazer: promover salvação de vidas através de publicidade, uma grande apresentação o um excelente programa. Graças a Deus, aprendi – assim como aqueles ao meu redor – que artifícios assim não funcionam. O que funciona é investir em pessoas, discipulá-las, conduzi-las a Jesus e adorá-lo em espírito e em verdade, fazendo com que as coisas estejam em seu devido lugar.

Collins menciona ainda o estágio cinco da decadência, que é o da rendição. Se as coisas saem do eixo organizações como igrejas tendem a perder a fé e o espírito. Penso que o templo em Jerusalém deve ter ficado dessa forma quando Jesus se retirou de lá e disse que não voltaria àquele lugar. Ele estava antecipando o dia, que estava por vir, quando não restaria pedra sobre pedra ali. Não muito tempo atrás, eu estava em frente ao templo de uma igreja no País de Gales. Na porta, estava a seguinte placa: "Vende-se". Uma outra placa indicava que aquele prédio havia sido construído no período do grande avivamento britânico, no século 18. Agora, o prédio estava escondido entre a vegetação, completamente abandonado.

Quando começa a morte de uma organização? Quem perdeu os sinais que indicam vida? Quem abandonou os princípios essenciais? Quem não entendeu as informações? Quem está correndo, completamente perdido no meio da multidão, sem saber pra onde ir? Essas são boas perguntas. Se ignoradas, a igreja cairá.
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Lausanne III busca respostas das igrejas ao mundo globalizado

fonte: ALC Notícias
Cristãos só podem provar ao mundo a verdade por meio da transformação de suas vidas, disse o teólogo chinês Carver Yu no III Congresso Lausanne de Evangelização Mundial, reunido de 17 a 25 de outubro na Cidade do Cabo, África do Sul.

Carver Yu reconheceu a pluralidade, mas combateu o pluralismo. A pluralidade, definiu, faz parte da cultura humana. Já o pluralismo “é uma ideologia que proclama que a verdade é uma construção cultural válida somente para a cultura que a construiu”.

O Congresso de Lausanne III partiu para a defesa da verdade, diante de um diagnóstico absoluto de que o pluralismo, a secularização e o mundo globalizado são os males sobre os quais as igrejas devem responder, informou o jornalista Lisânder Dias, da Rede Mãos Dadas, e que participa do encontro.

O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) enviou delegação à Cidade do Cabo liderada pelo secretário geral, pastor Olav Fykse Tveit. Ao longo das décadas, o CMI e líderes do movimento de Lausanne têm se engajado no diálogo sobre a natureza da missão cristã, na evangelização e na ação social.

Tveit é o primeiro secretário geral do CMI a ser convidado para participar de Congresso do movimento de Lausanne. Em sua saudação, ele falou da visão comum dos cristãos sobre a missão integral de Deus. “Vamos manter a estrada aberta, deixar o diálogo fluir, de modo que aprendamos uns com os outros sobre como participar na missão de Deus, com o respeito aos outros como um corpo em Cristo", disse.

O ano 2010 foi escolhido para este III Congresso Lausanne porque marca o 100º aniversário da Conferência Missionária Mundial de 1910, realizada em Edimburgo, na Escócia. O encontro de Edimburgo foi um evento marcante para os séculos seguintes, sua expansão missionária foi identificada por historiadores do cristianismo como o início do moderno movimento ecumênico.

Vários eventos de 2010 estão sendo realizados em todo o mundo em homenagem a este centenário, incluindo uma consulta realizada em junho, em Edimburgo, na qual Tveit fez e observações introdutórias.

Ele disse aos 4.200 congressistas reunidos na cidade sul-africana, procedentes de 200 países, que a reconciliação "é toda sobre o que significa ser cristão". E lembrou: "Somos chamados a ser um, para se reconciliar, para que o mundo creia que Deus reconcilia o mundo em Cristo".

Na abertura do congresso, no domingo, 17, o reverendo S. Douglas Birdsall, presidente executivo do Movimento Lausanne, também enfatizou o tema da reconciliação. Ele deu as boas-vindas aos participantes, dizendo que a reconciliação é "nosso foco, nossa vocação e a nossa paixão. É este evangelho da conciliação que nos une."

Birdsall chamou os delegados a se aproximarem uns dos outros, assim como eles chegavam perto de Deus. "Este é um congresso de trabalho com uma tarefa específica. Seus resultados estarão na forma como todos nós olhamos para Deus, e como isso pode ajudar a mudar o curso da evangelização do mundo para as próximas décadas", disse.

A diversidade do congresso na Cidade do Cabo é ecoado pelos grupos de estudo bíblico, no qual os delegados se reúnem todas as manhãs para refletir em conjunto sobre um texto de Efésios. Os participantes partilham suas próprias observações e aplicam o que leram em seu próprio contexto. Cada grupo é como um microcosmo da igreja global, proporcionando a oportunidade de se sentarem juntos, aprender uns com os outros, mostrar preocupação com o outro, estimular, desenvolver parcerias e também orar uns pelos outros.

Lausanne é um movimento organizado numa rede global de "profissionais reflexivos", que partilham uma visão para o trabalho de evangelização mundial. Começou em 1974 quando o pastor batista Billy Graham e o clérigo anglicano John R. W. Stott convocaram o Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne, na Suíça, informou Loro Lerefolo.

O objetivo era buscar acordo em "uma declaração bíblica sobre o evangelismo" e dizer "qual é a relação entre evangelização e responsabilidade social". O Pacto de Lausanne, aprovado no I Congresso, foi um grito de guerra para muitos cristãos, e para alguns, definiu o que se entende por "evangelicais".
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sábado, 23 de outubro de 2010

Mulheres na Bíblia

Antes do episódio em Nova York algumas mulheres precisam ser lembradas e, a Bíblia pode nos ajudar nisso. Sara foi uma delas, mãe de Isaque aos cem anos, teve um papel fundamental para se cumprir à promessa na vida de Abraão. Débora ocupou um lugar de destaque nas Escrituras. Foi uma profetisa. Também era mulher casada e juíza em Israel. Débora condenou, pelo menos, a negligência dos homens (Jz 4:4-10). Uma profetiza que julgava Israel. Seus dons proféticos lhe deram grande influência em um tempo de desespero e confusão (Jz 4.6, 14; 5.7), sendo uma verdadeira “mãe de Israel”. Através do seu glorioso cântico de triunfo (cap. 5), sendo uma das mais antigas e preciosas poesias hebraicas, Israel teve paz por quarenta anos (Jz 5.32).

Hadassa era uma mulher guerreira, valente, perdeu seus pais sendo muito jovem. Talvez esse nome não nos seja desconhecido. Foi criada por seu tio Mordecai e teve seu nome mudado para Ester ao ser consagrada Rainha. Ela não tinha medo das ameaças, tanto que arriscou a sua vida em favor do seu povo, os judeus. “Se perecer, pereci” dizia ela (Et 4.16). Através da oração e intercessão livrou os judeus da morte. Instituiu juntamente com Mordecai a festa do Purim entre os judeus, que significa festa da sorte até os dias de hoje.

Quando nos aproximamos do Novo Testamento, descobrimos a posição das mulheres piedosas, honradas e belas no mais alto grau. A virgem Maria "agraciada”, "bendita entre as mulheres”; sua prima Isabel, mãe de João Batista; Ana, idosa viúva de oitenta e quatro anos, dedicada ao serviço de Deus, são as mais belas personagens conectadas ao nascimento de Cristo.

Maria, a irmã de Lázaro, assentava-se aos pés do Senhor para ouvir a Sua palavra. Foi ela que O ungiu para o Seu sepultamento, uma ação que jamais perderá a sua fragrância: "onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” diz o texto de Mateus (26:13; Jo 12.1-8). Ela recebeu um elogio que não poderia ser mais elevado: "Esta fez o que podia” (Mc 14:8).

A Maria Madalena? Aquela que “dela saíra sete demônios” (Lc 8.2) e era rejeitada pela sociedade, foi acolhida por Jesus e, a ela foi concedida a alta honra de transmitir a maravilhosa mensagem da ressurreição de Cristo aos Seus discípulos: "Dize-lhes que eu subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”(Jo 20:17).

Pensem nas mulheres que serviam ao Senhor Jesus relatado no capítulo 8 de Lucas: “Joana, Suzana e muitas outras que prestavam assistência com seus bens” (Lc 8:3). Que honra!

As mulheres anônimas. Uma é chamada por Jesus de “Mulher” (Jo 4.21), para nós a “Mulher Samaritana”, que teve coragem e ousadia de pedir a Jesus a “água da vida” (Jo 4.15) e, largando seu cântaro junto ao poço, partiu em direção à cidade para anunciar aos outros sobre o Cristo e, “muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito” (Jo 4.28-29, 39).

Em outra ocasião a Bíblia chama de: “uma mulher da cidade, pecadora” (Lc 7.36). Mas teve a coragem de ir a casa do fariseu Simão, com um vaso de alabastro com ungüento e, “estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com ungüento” (Lc 7.38). Pela sua atitude audaciosa, recebeu de Jesus a Salvação pela sua fé.

E quando chegamos ao tempo quando Cristo já havia subido aos céus, e o Espírito Santo já havia sido enviado, somos lembrados das "mulheres gregas da classe nobre” de Beréia, “que examinavam as Escrituras todos os dias, ao receberem a palavra pregada por Paulo e Silas, para ver se as coisas, de fato, eram assim” (At 17. 10-12).

Também aquelas que o apóstolo Paulo elogiou, que trabalharam no Senhor (Rm 16). Ou Priscila, que sob a liderança de seu marido, teve o privilégio de instruir o eloqüente Apolo, declarando-lhe "mais pontualmente o caminho de Deus” (At 18:26). Que belo e honrado caminho foi esse trilhado pelas mulheres cristãs!
Pr. José Geraldo Magalhães Júnior
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Teologando com duas teologias

José Geraldo Magalhães Júnior

Essa reflexão pessoal tem como objetivo destacar as duas linhas teológicas: a teologia da libertação e a teologia integral. Primeiramente precisamos entender que a teologia estuda o discurso, a imagem sobre Deus, pois ela não pode discutir Deus porque quando se discute sobre Deus, obviamente está discutindo sobre algo e, se transformarmos Deus em algo, isto é idolatria. Portanto, a maioria das teologias cai na idolatria.

Para entender a teologia é preciso de três elementos: a revelação, fé e razão. A teologia nasce de uma prática concreta de fé. Isso é Teologia da Libertação. Para se entender essa teologia, é preciso enxergar, refletir e agir (VER, JULGAR e AGIR); é uma prática da vida real das pessoas. Não se desenvolve ou se faz teologia desconectado da vida real. Em outras palavras o teólogo tem que ter experiência e não discurso.

A Teologia da Missão Integral é a comunicação e presença do Evangelho. Queremos dizer com isso que, essa teologia correlaciona comunicação e presença, sem colocar um sinal de igualdade entre essas realidades. A comunicação na Teologia da Missão Integral, tem seus desdobramentos sociais porque convoca as pessoas e comunidades ao arrependimento e ao amor pelos outros em todas as áreas da vida, além de ver o compromisso social como comunicação e presença, ela é a proclamação da boa nova que se dá por meio do testemunho da graça de Deus.

Um de seus pilares é a diaconia, que em seu sentido cristão significa serviço ao próximo. Diante da alegria pelo que Deus tem feito, ao abençoar as vidas, a Missão Integral propõe como resposta a promoção da diaconia. Nesse sentido, Missão Integral e diaconia são expressões que não podem vir separadas.

Percebemos a diaconia nas primeiras comunidades cristãs, que reflete os testemunhos de fé por meio da vida solidária (At 2.44-45; 4.32-35), já que, como disse Paulo, "se um membro sofre todos sofrem com ele" (1Co 12.26). O fundamento dessa ação solidária repousa nos ensinos e prática de Jesus Cristo. Por isso, para a Missão Integral, o amor a Deus só é possível se este alcança o próximo (1Jo 4.20).

Na prática, amar ao próximo consiste em propiciar dignidade humana e reintegração na sociedade (Mt. 9.35ss). Por seu ministério e morte, Cristo assumiu a fraqueza humana e sofreu o poder de morte do mundo para, então, superá-los. Assim, a Teologia da Missão Integral desafia ao testemunho do amor de Deus, enquanto ação solidária.

Essas duas linhas teológicas nos ajudam a refletir sobre as realidades das igrejas locais que padecem por uma falta de originalidade e criatividade. Para se trabalhar e desenvolver propostas reais na comunidade, o pesquisador Richard Niebuhr detaca:

Ser responsável é ser capaz e ser requerido a prestar contas de alguma coisa a alguém. A idéia de responsabilidade, com a liberdade e a obrigação que ela implica, tem seu lugar no contexto das relações sociais. Ser responsável é ser um ser na presença de outros seres, em quem se está vinculado e para quem se é capaz de responder livremente; responsabilidade inclui serviço ou cuidado com as coisas que pertencem à vida comum dos seres.

O homem terá de prestar contas a Deus, tanto das coisas boas como das más (Rm 14.12). Por essa razão, é necessário incluir nos membros das igrejas a mentalidade que a igreja é responsável. Segundo o pensamento de Niebuhr a comunidade universal tem membros, e a igreja universal está dentro dessa comunidade que deve prestar contas a Deus. A igreja só é igreja porque é de Cristo. Niebuhr aponta os três tipos de igrejas: Mundana, Isolada e Apostólica ou Pioneira.

Desta descrição geral da responsabilidade da Igreja nós nos movemos agora para a consideração de sua prestação de contas da sociedade. A natureza da última deve ser iluminada para nós de alguma forma se nós consideramos, antes de tudo, os caminhos nos quais a Igreja tem sido e pode ser socialmente irresponsável. Dois tipos de tentações parecem prevalecer especialmente na história: a tentação do mundanismo e a do isolacionismo.

As igrejas Mundanas e Isoladas são aquelas que o autor as chama de irresponsáveis, que se isolam em seus mundos sem prestar contas à sociedade. A mundana é calada, muda e recebe benefícios para si próprios. O que ele chama de igreja responsável é a Apóstola, Pastora e Pioneira. Porque apóstola é enviada a falar a pessoas e grupos. Já pioneira é aquela que vai à frente mostrando ao mundo as coisas a cerca de Deus. E Pastora é a que vê e cuida dos sofrimentos da sociedade. Esse seria um modelo adequado de igreja na sociedade.

Não podemos distorcer ou interpretar a missão da Igreja. Padilla trata questões em O Que É Missão Integral? Sobre o Evangelho de Jesus Cristo como sendo uma mensagem pessoal e, ao mesmo tempo, um Deus que se revela a cada indivíduo chamando-os pelo nome e um Deus com um propósito de abarcar todo o mundo. Existe uma falta de valorização das dimensões mais amplas do evangelho o que, de certa forma, tem gerado uma distorção da missão da igreja. O autor defende que “a obra de Deus em Cristo Jesus tem a ver diretamente com o mundo em sua totalidade, não meramente com indivíduo”.

Acreditamos que a ação social é o caminho e, o propósito da evangelização é conduzir o homem a uma reorientação de sua vida. E a salvação não é exclusivamente o perdão dos pecados, mas a transferência do domínio das trevas à esfera onde Jesus é reconhecido como Kyrios (Senhor) de todo o universo.

Temos percebido que essas atividades têm motivado os membros com atitudes concretas, pois não estamos indo à igreja somente para adorar a Deus, mas para promover a vida aqueles e aquelas que não tinham esperança. Isso é fazer teologia!


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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Acidente em Mina no Chile

Presidente do Chile reitera que irá investigar os responsáveis pelo acidente na mina
Essa foi uma semana histórica para todo o mundo. Os olhos da maioria estavam voltados para a história sobre os 33 mineiros que saíram vivos, depois de ficarem dois meses presos na mina de cobre e ouro, em São José, no Chile. Mesmo com o cenário positivo, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, reiterou que vai investigar o ocorrido. Segundo ele, é fundamental apurar o que houve e punir os responsáveis.

O acidente ocorreu no dia 5 de agosto, em uma mina localizada perto da cidade de Copiapó.Os mineiros trabalhavam a uma profundidade de cerca de 700 metros quando uma rocha desabou. Desde então, as autoridades chilenas não mediram esforços para resgatá-los, mesmo em meio a uma série de dificuldades geradas pelo terreno, pela vegetação e pelas condições climáticas da região.

Piñera fala dos próximos passos
Logo na primeira semana em que aconteceu o acidente o presidente Sebastián Piñera demitiu altas autoridades da agência reguladora do setor de mineração do Chile e prometeu uma grande reforma por causa do acidente na pequena mina de ouro e cobre, a 450 quilômetros da capital, Santiago.
Desde o início, Piñera deixou claro seu posicionamento: "Temos dito que, nesta matéria, não haverá impunidade, e eu quero enfatizar que as investigações, em matéria penal e civil já começaram, e nós vamos investigar as responsabilidades e punir os culpados", disse Piñera.
Segundo estatísticas, acidentes graves de mineração são raros no Chile, mas o governo disse que a mina de San José, que pertence à empresa privada local Compania Minera San Esteban Primera, já sofreu uma série de acidentes e 16 trabalhadores já morreram no local nos últimos anos.

Problemas
No início de agosto, a equipe técnica responsável pelo resgate dos mineiros já levantava  alguns questionamentos sobre o funcionamento da mina, que já tinha sido fechada três anos atrás por problemas de segurança.
Anton Hraste, ex-diretor regional do Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) --que fiscaliza o trabalho de mineração-- disse que a jazida "nunca devia ter sido reaberta", depois que seu fechamento foi determinado em 2007 após a morte de um trabalhador.Em 2006, outro mineiro já tinha morrido trabalhando e no começo deste ano um trabalhador sofreu um acidente grave no qual perdeu uma das pernas.
O promotor Sabas Chahuán ordenou uma investigação para esclarecer como aconteceu o desmoronamento que deixou os 33 mineiros presos.
Só este ano, morreram 31 pessoas em acidentes de mineração, segundo dados oficiais do Sernageomin. De janeiro do ano 2000 a julho de 2010, faleceram em acidentes 403 mineiros no Chile.

Donos de mina no Chile vão responder a ação penal
A esposa de um dos 33 mineiros soterrados já anunciou que a família apresentará uma ação penal contra os donos do local e o organismo público que fiscaliza a segurança. "Não estou pensando na recompensa monetária, estou pensando nas pessoas responsáveis, não apenas os donos da mina, mas também as pessoas que não fizeram seu trabalho de fiscalizar", disse Carolina Narváez, esposa do mineiro Raúl Bustos, sobre as motivações do processo.
A demanda será apresentada contra dois sócios donos da empresa San Esteban, proprietária da jazida San José, onde no dia 5 de agosto um desabamento sepultou os trabalhadores vivos. Os empresários serão acusados de lesões, informou o advogado Remberto Valdés.
A ação judicial também inclui o Serviço Nacional de Mineração e Minas (Sernageomin), que autorizou a reabertura da mina um ano depois de um acidente com um trabalhador em 2007. O Sernageomin será acusado de prevaricação por "ter divulgado, em 2008, uma resolução injusta que significou a reabertura da mina San José", que havia sido fechada no ano anterior, disse Valdés.
Por Diana Gilli com informações da BBC News e Agência Brasil
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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Religião: chave para dialogar com o povo - Frei Betto

Uma das principais referências da teologia da libertação no Brasil e com larga trajetória de lutador social ocupa lugar privilegiado para versar sobre o tema. Não por acaso, seu livro "Fidel e a Religião" (1986) teve importante papel, segundo próprio bispo cubano, para "tirar o medo dos cristãos e o preconceito dos comunistas". Indubitavelmente, a reconciliação entre a Igreja Católica e o governo revolucionário cubano deve algo a Frei Betto.

No Brasil, militante dominicano desde sua juventude na época da ditadura (1964-1985), contribuiu para a realização de acontecimentos históricos. Entre eles a fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, governo do qual chegou a formar parte em seu início com a eleição de Lula a presidência da república, em 2002.

Política, religião e comunicação. Na entrevista que segue Frei Betto, recorre a esses três pilares para nos deixar sua impressão sobre o atual momento político por que passa a América Latina.

- Como frei dominicano e militante junto às bases populares na época da ditadura brasileira, como avalia a importância da Igreja Católica para as lutas sociais na América Latina, especialmente no combate às ditaduras que assolaram a região durante a década de 60? De lá para cá, mudou o perfil da atuação social da Igreja?

- Nos anos 1960 e 1980 a Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II e pela conferência episcopal latino-americana em Medellín (1968), teve papel preponderante nas lutas sociais na América Latina. Através das Comunidades Eclesiais de Base e do advento da Teologia da Libertação, decorrentes da "opção pelos pobres", muitos militantes foram formados pela Igreja segundo o método Paulo Freire. Em países sob ditadura, como Brasil e Nicarágua, essa formação resultou em opção revolucionária. Diria que, de certo modo, as eleições recentes de Lula, Correa, Evo, Funes e outros têm a ver com esse processo pastoral. Com o pontificado de João Paulo II e a queda do Muro de Berlim, iniciou-se a "vaticanização" da Igreja latino-americana. A Teologia da Libertação foi censurada; os bispos progressistas afastados; padres conservadores nomeados bispos etc. Hoje a Igreja Católica, embora abrigando grupos progressistas comprometidos com as causas populares, reflui na opção pelos pobres e busca situar-se numa suposta neutralidade frente aos conflitos sociais.

- Qual a ponte entre o cristianismo e a luta armada?
- Hoje, na América Latina, a luta armada só interessa a dois setores: fabricantes de armas e extrema direita. Governos como Lula, Chavez, Mujica etc demonstram ser possível realizar reformas estruturais pelas vias pacífica e democrática. Porém, a questão da relação cristianismo e luta armada está, em tese, equacionada desde o século XIII por meu confrade Tomás de Aquino. Em caso de opressão prolongada e sem outro recurso para se evitar um mal maior fora da resistência armada, então esta é justa e legítima. Nos anos 1960 e 80 isso se aplicava a países da América Latina sob ditaduras, o que explica os testemunhos de Frei Tito de Alencar Lima, Camilo Torres e tantos outros cristãos que participaram da luta armada. Esse mesmo princípio tomista levou João Paulo II a comemorar os 50 anos da vitória da resistência europeia contra o nazifascismo. E, como sabemos, a resistência atuou com armas.

- As lutas sociais latino-americanas incorporaram símbolos e princípios do catolicismo (como a Nossa Senhora de Guadalupe no México, as místicas do MST, etc.). É possível falar em alguma luta que seja genuinamente popular na América latina e que desconsidere a força do catolicismo e da religião?

- Que eu saiba não há nenhuma força política progressista na América Latina que apregoe o ateísmo e seja anti-religiosa. Desde que Fidel acentuou, na entrevista que lhe fiz em 1985 (livro "Fidel e a Religião") a importância da religião como fator de libertação, o preconceito praticamente terminou. Jamais haverá participação popular nos processos políticos latino-americanos sem incorporar a religiosidade do povo. Aqui a porta da razão é o coração e a chave do coração é a religião.

- Considerando essas questões, como interpretar o caso da revolução cubana? Como avalia a situação por que passa o país hoje?

- A Revolução cubana incorporou os valores religiosos do povo, tanto que teve líderes assumidamente cristãos, como Frank Pais e José Antonio Echeverría, bem como capelão, o padre Guillermo Sardiñas, que após a vitória mereceu o título de Comandante da Revolução. Hoje Cuba passa por um período de excelentes relações entre Igreja e Estado, a ponto deste permitir que a Igreja Católica faça a mediação que possibilita a libertação de presos de consciência.

- Que papel os movimentos sociais desempenham hoje na política latinoamericana? No Brasil, pode-se dizer que foram a maior herança de resistência e organização da época da ditadura?

- Sem os movimentos sociais a América Latina não estaria vivendo essa primavera democrática representada por Lula, Chávez, Funes, Mujica, Evo, Correa, Lugo etc. No entanto, ocorre hoje um refluxo dos movimentos sociais, muitas vezes porque suas lideranças foram cooptadas para aqueles governos. A queda do Muro de Berlim, a influência do neoliberalismo e das novas tecnologias, o advento da pós-modernidade, são alguns dos fatores que explicam a desmobilização dos movimentos sociais, embora alguns permaneçam ativos, como o movimento indígena e, no caso do Brasil, o MST. O movimento indígena, graças à eleição de Evo Morales, o primeiro indígena presidente, ganha autoestima e, devido ao tema ambiental estar em pauta, também relevância, sobretudo na proposta do BEM VIVER, nos ensinando que devemos aprender a considerar o necessário como suficiente.


- Quanto aos governos com origem na esquerda partidária e nos movimentos sociais que vêm se consolidando no cenário latinoamericano, é possível classificá-los como governos de esquerda?

- Não, são governos progressistas e, alguns, como é o caso da Venezuela, até explicitam o socialismo como projeto político. Mas também estão longe de serem governos de direita ou conservadores. Dentro de possibilidades reais, e não ideais, atuam em favor dos mais pobres e, sobretudo, desarticulam o poder político das oligarquias tradicionais, embora elas prossigam com muito poder econômico.

- Tendo acompanhado o partido e colaborado com o PT desde sua fundação, como o senhor avalia os 8 anos de governo Lula em relação à proposta inicial do partido? Como o senhor define sua relação atualmente com o PT e com Lula?

- Lula fez o melhor governo de toda a história republicana do Brasil. Permitiu que 19 milhões de pessoas saíssem da miséria. Estabilizou a economia. Mas não fez nenhum reforma estrutural e nem qualificou a saúde e a educação. Escrevi dois livros de avaliação do governo Lula: A MOSCA AZUL e CALENDÁRIO DO PODER (editora Rocco). Apesar das limitações, penso que é importante dar continuidade do governo do PT.

- Como jornalista e escritor, qual o papel da comunicação para a transformação social? A comunicação ainda é o Quarto Poder? Como enfrentar esse poder?

- A comunicação não é mais o quarto poder, é o primeiro. Vide o papel do marketing eleitoral nas campanhas políticas. Ocorre que os grandes veículos de comunicação se encontram em mãos da elite conservadora. Um dos desafios a serem enfrentados pelos setores progressistas é o de encontrar alternativas à comunicação controlada pelos monopólios poderosos.

- Esteve preso por 4 anos. Como essa experiência interferiu na sua vontade de lutar contra a ditadura e as injustiças sociais?

- Ao contrário, foi a minha militância por justiça social e contra a ditadura que me levou à prisão. Esta apenas reforçou minha decisão de estar sempre ao lado dos oprimidos, ainda que aparentemente eles não tenham razão.

- O senhor já escreveu mais de 50 livros, em quantas línguas já foi traduzido? Qual dos seus livros recomenda para nossos leitores que queiram conhecer melhor o Frei Betto?

- Minhas obras já foram traduzidas em 32 idiomas e 23 países. Para o leitor latinoamericano sugiro obras em espanhol editadas em Cuba: Fidel y la religión; La obra del artista - una visión holística del Universo; Un hambre llamado Jesús (novela). E deve sair em breve La mosca azul.

(Publicado em Brasil de Fato, Edição 394 - de 16 a 22 de setembro 2010)
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