quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sacramentos como Graça de Deus

Batismo recepção de novos membros na comunhão da Igreja

Depende unicamente da graça de Deus para que os homens encontrem o caminho da fé e para a comunidade cristã, a graça que antecede a toda ação humana e cria a possibilidade de receber a salvação. Essa salvação que está fundamentada na reconciliação em Cristo (2 Co 5.19-21) – e que liberta das cargas e cura das feridas do pecado pelo qual o homem foi afastado da comunhão com Deus – é oferecida a todos os homens no anúncio do Evangelho e apropriada pessoalmente no Batismo, pelo qual o homem é recebido na comunhão da nova vida com Deus, se exprime o aspecto objetivo e visível do evento da salvação. O fim do Batismo que a Igreja realiza por incumbência de Cristo, é tornar visível a justificação e aceitação dos que estavam separados de Deus, o que só se realiza pela graça. Deus que nos deu a vida terrena, quer dar-nos também a vida eterna, na aquisição da qual nossos próprios esforços não são necessários, nem teriam qualquer sentido. No Batismo o homem pecador é entregue como propriedade a Cristo crucificado e ressurreto e uma nova vida lhe é conferida pelo poder de Cristo e de seu Espírito.

Tal como a Ceia, o Batismo é “palavra visível de Deus”, sinal válido, instituído por Cristo, da nova comunhão, em que ele recebe os batizados. A esta recepção deve corresponder o sim da fé nos batizados, pelo qual se recebe a salvação de Deus. Batismo, fé e comunidade pertencem, portanto, objetivamente, um ao outro; nenhum dos três pode existir dentro da compreensão da tradição neo-testamentária, sem os dois outros.

O Batismo é “penhor e sinal eficaz de que a ação salvadora de Deus se aplica pessoalmente ao batizado”. Alem disso, ele deve ser respondido com o sim da fé do homem, o qual assim faz valer livremente para si o que Deus fez em seu favor. Assim ele afirma, ao mesmo tempo, a sua nova identidade de filho de Deus, que lhe foi conferida no Batismo. Juntamente com os nomes do Deus trino, é pronunciado o nome do batizando, com o que fica claro que pertence a Deus, que em sua fidelidade vai atrás do homem, e com amor paciente espera ser correspondido neste seu amor.

Na tradição metodista, neste conceito é vista a aliança de Deus que coloca o fundamento de uma comunhão renovada entre Deus e homens, tanto na aliança antiga com Israel como na aliança nova para todos os povos. O Batismo é o sinal dessa nova aliança da graça de Deus, da qual não são excluídas nem mesmo as crianças.

Já em seu tratado “Sobre Batismo”, Wesley chamara de “entrada da aliança de Deus” um dos efeitos do Batismo; mais tarde, em conexão com o “culto de renovação da aliança”, esta relação foi intensificada. Neste sentido, o culto (de renovação da aliança) com a Santa Ceia é entendido como certificação da graça do Batismo e como um novo compromisso de viver para Cristo e não para si mesmo.

O culto de renovação da aliança com Deus é para a atualização da palavra salvífica de Deus recebida no Batismo (das crianças) e para a renovação das promessas do Batismo, e ainda para a satisfação da necessidade dos cristãos, que receberam o Batismo infantil, de experimentarem a grande alegria nesta, como que, repetição do Batismo, pois aí se trata da integração, vivida pessoalmente, na salvação; tudo confessado publicamente numa reunião festiva da comunidade. Tal cerimônia é ainda hoje em dia, frutuosamente celebrada nas igrejas metodistas, e chamada de “renovação da aliança batismal” durante a qual jovens e adultos são batizados e recebidos na Igreja. Com isso se cria um remédio contra o perigo da desvalorização do Batismo, que surge na praxe batismal pouco diferenciada – o que, aliás freqüentemente é aduzido para um argumento de um segundo Batismo. Quando Batismo e fé, bem como a integração compromissada na comunidade, são tomados a sério – então o Batismo deixará de ser algo que não tem referência ao compromisso da fé.

Embora o Batismo faça parte da recepção na Igreja, não o consideramos necessário para a salvação. Quanto ao valor de salvação, atribuído a ele pela Palavra de Deus, este não depende de uma “correta” doutrina da fé, nem de determinadas concepções doutrinárias ou dogmáticas (que frequentemente restringem a fé através de intelectualizações).

O fundamento decisivo da salvação é o amor incondicional de Deus, que no Batismo é atribuído a cada indivíduo e que o crente (mais tarde) aceita livremente, e assim reconhece a sua natureza de filho de Deus.

Baseados nessa compreensão do Batismo – apesar das duas práticas de Batismo infantil e Batismo de adultos – podemos falar de um só Batismo, pois “o que Deus faz no Batismo não só se torna válido, só posteriormente, pela fé subjetiva, nem recebe caráter daí de verdadeiro”. Por isso podemos concordar com a observação de F. Herzog: as crianças não pertencem à Igreja porque seus pais são membros da mesma; mas, certamente foi uma “intuição correta” da Igreja compreender que a renovação do homem não depende do fato de que alguém é dono de razão desenvolvida, ou de capacidade madura de raciocínio; não é preciso ser adulto para participar naquilo que acontece no Batismo.

“Decisiva para o Batismo de crianças é somente a certeza de que mesmo a palavra divina não entendida age sobre a consciência – sobretudo no âmbito da comunidade cristã”.

Foi de maneira muito feliz que teólogos e leigos metodistas da França – depois de muitas conversações e diálogos sobre concepções concorrentes de Batismo – assim formularam o sentido a ser dado tanto no Batismo de crianças como de adultos:

“É certo que a fé é sempre a resposta à ação salvadora de Deus; mas o momento da resposta da fé pode ser adiada. Os que foram batizados como crianças dão a resposta no momento em que o Espírito de Deus lhes abre os olhos e o coração à salvação, que já lhes foi oferecida. Também os batizados na idade adulta devem, segundo Romanos 6, ser sempre de novo exortados a darem a sua resposta de fé em obediência. Não é necessário que a fé primeiro crie as bases sobre as quais Deus possa atuar, porque o fundamento foi posto em Jesus Cristo, de uma vez para sempre. Visto sobre este fundo, também o Batismo de crianças é Batismo no sentido bíblico. É evidente que os seus efeitos devem ser recebidos sempre de novo na fé”.

Esta conexão característica e polar entre a palavra de salvação (no anúncio do Evangelho e no Batismo) e aceitação de salvação (na fé e na confissão pessoal dos batizados), também aparece na estrutura da Igreja Metodista: a recepção na Igreja pressupõe não só o Batismo mas também a profissão de fé – o Batismo como afirmação visível e válida do amor de Deus; a profissão como amor audível e pessoal da resposta de fé do homem.

“O Batismo – afirmamos juntos com as outras Igrejas – é o fundamento irrenunciável para se tornar membro da Igreja; é conferido uma só vez e para sempre, sem repetição, assim como Cristo morreu uma só vez, e para sempre”.

Quem foi batizado em criança e se decidiu pela confissão pessoal da fé, está apto para a recepção na comunidade dos crentes; quem, sem ter sido batizado, encontra o caminho para a fé em Cristo, receberá o santo Batismo, como primeiro passo para entrar na Igreja.

“Por isso, Batismo e recepção como membro da Igreja constituem basicamente um só evento, mesmo quando separados pelo tempo, como no caso do Batismo infantil. O Batismo não pode, por si só, ser considerado suficiente, mas em união com fé, vida e anúncio, na comunidade”.

O sim da fé encontra a sua expressão visível e constatável na solenidade da recepção como membro da Igreja. Quem encontrou a Deus e a si mesmo novamente, agora encontra nos outros cristãos a comunidade daqueles que estão unidos na caminhada para chegar à meta de suas vidas, isto é, a comunhão plena e perfeita com Deus.

A institucionalização da recepção de cristãos adultos na Igreja é um aspecto essencial com que se auto-define a Igreja Evangélico- Metodista. Base para essa recepção não é submeter a sua fé à prova –coisa impossível a homens – mas manifestar a aceitação da salvação, dada em Cristo de forma visível no Batismo e audível na confissão de fé, para que sua credibilidade seja testemunhada pela comunidade.

Os que foram recebidos como membros da Igreja se comprometem a levar uma vida sob a condução do Espírito de Deus e a participar na vida e no serviço da Igreja. Os outros membros da Igreja se comprometem a aceitar os recém-professos como irmãos e irmãs e levá-los “a experimentar o amor e o companheirismo cristão, em comunhão cordial”. Cada batizado é assim responsabilizado

“a reconhecer e atestar, por toda a sua vida, a salvação atribuída no Batismo, de amar a Deus e conduzir-se como quem pertence a Cristo e à sua Igreja”.

A conclusão, por um culto divino, do processo de educação religiosa de crianças da idade de 12-14 anos – freqüentemente chamado “consagração” – não deve ser identificada com recepção como membros da Igreja, pois se trata de dois processos diferentes, embora festejados solenemente. Entretanto, no mesmo culto divino podem ser “consagrados” jovens que terminaram sua instrução religiosa e outros, homens e mulheres, jovens ou adultos, podem ser recebidos como membros plenos da Igreja, ficando assim claro a todos os participantes que quem recebe o diploma da instrução religiosa não é por isso, ainda, recebido na Igreja. Neste culto fica igualmente evidente que a comunidade cumpriu a promessa, feita por ocasião do Batismo das crianças, de instruí-las na fé cristã. Ao mesmo tempo, a comunidade espera em oração pela decisão pessoal e se prontifica a oferecer a esses jovens, em seu meio, espaço para viver e se desenvolver, até pedirem a sua recepção como membros plenos e responsáveis, por decisão livre pessoal. Desta forma, ficam satisfeitos os dois lados da ação salvadora de Deus: o amor incondicional, que em Cristo reconcilia todo o mundo com Deus e oferece salvação a todos os homens, bem como a capacitação e a plena e livre escolha dos crentes para um sim próprio e pessoal, em que fazem valer para si o amor de Deus e a aceitação sua como filhos e filhas amadas.


Bibliografia:

KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça de Deus: Um Compêndio de Teologia Metodista / Walter Klaiber e Manfred Marquardt; [Tradução: Helmuth Alfredo Simon]. São Bernardo do Campo, Editeo, 1999. pg. 353-357.
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terça-feira, 27 de abril de 2010

Pentateuco: sua história e formação

Pentateuco é o nome pelo qual, tradicionalmente, se conhece o grupo dos cinco primeiro livros do Antigo Testamento. Trata-se de uma palavra de origem grega que pode ser traduzida por “cinco estojos”, fazendo referência aos estojos (caixas ou vasilhas) onde, na Antigüidade, se guardavam e protegiam da deteriorização os rolos de papiro ou de pergaminho utilizados como material de escrita. Os judeus designam por sua vez, esses livros com o título de Torah, de fato, inclui o conceito de “lei” e, até com maior propriedade, os de “guiar”, “dirigir”, “instruir” ou “ensinar” (cf. Dt 31.9).

O Pentateuco, ainda que se apresente dividido nos referidos cinco primeiros livros da Bíblia, constitui na realidade, uma unidade essencial. A divisão corresponde a uma época já remota: encontra-se na tradução grega do Antigo Testamento, a chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta, que data do séc. III a.C. A causa da separação dos livros foi a dificuldade de dispor o texto completo de todos eles em um único rolo, o que seria impraticável por causa do volume excessivo.

Os nomes de origem grega adotado pela Igreja cristã greco-latina como títulos desses cinco livros são os mesmos com que foram designados na Septuaginta. Correspondem, respectivamente ao conteúdo de cada um dos textos e consideram cada caso ao destacar um determinado fato ou assunto; assim, Gênesis significa “origem”; Êxodo, “saída”; Levítico, “relativo aos Levitas”; Números, “conta” ou “censo”; Deuteronômio, “segunda Lei”. Quanto à tradição hebraica, limita-se em geral, à norma de intitular com alguma das suas palavras iniciais: ao primeiro chama de Bereshit (no princípio); ao segundo, Shemoth (nomes); ao terceiro, Wayiqrá (e Ele chamou); ao quarto, Bemidbar (no deserto) e, ao quinto, Debarim (palavras).


O Pentateuco e a história

A característica essencial do Pentateuco (ou Torah) é a alternância de seções narrativas com outras dedicadas a instruir o povo de Israel e a regulamentar a sua conduta, tanto na ordem ética pessoal e social como, muito especialmente, na religiosa.

Em uma primeira parte, que abarca todo o Gênesis e até o Cap. 19 de Êxodo, predomina o Gênero narrativo. Nessa seção, os relatos se enlaçam uns aos outros, somente interrompidos aqui e ali por algumas passagens de caráter normativo (p. ex. Gn 9.6; 17.9-14; Ex 12.1-20). De Êx 20 em diante prevalecem os textos destinados a estabelecer as normas e disposições na quais Deus revela o que quer e espera do seu povo. Dessa maneira, desde o impressionante pano de fundo de uma epopéia que vai da criação do mundo à morte de Moisés (Dt 34.12), o Pentateuco mostra-se como o depósito da vontade de Deus manifestada na forma de ensinamentos, mandamentos e leis, cujo objetivo primordial é configurar um povo santo, que seja portador fiel perante o resto da humanidade da oferta de salvação universal.


Formação do Pentateuco

Uma obra complexa, extensa e de grande valor religioso e cultural como o Pentateuco manifesta uma série de particularidades estilísticas, literárias e temáticas que se deve levar em consideração ao se estudar o processo da sua formação.

Em primeiro lugar, há certos textos bíblicos que revelam a existência de fontes anteriores ao próprio Pentateuco, como por exemplo, o chamado Livro das Guerras do Senhor, expressamente citado em Números 21.14.

Em segundo lugar achamo-nos diante de uma obra literária rica em conteúdo e complexa em composição, que frequentemente deixa perceber o eco de diversas etapas e distintos narradores. Assim ocorre com as variantes nos dois textos do Decálogo de grandes festas religiosas israelitas (Ex 20.1-17; Dt 5.1-21); ou com as quatro apresentações do catálogo de grandes festas religiosas (Ex 23; 34; Lv 23; Dt 16); ou com certas histórias como a despedida de Agar e Ismael (Gn 16; 21-8-21) ou com o ocultamento da condição de esposa nos casos de Sara e Rebeca (Gn 12.10-20; 20.1-18; 26.6-14). Cada uma dessas narrações oferece detalhes próprios, que a singularizam e a fazem aparecer como relato original e não como mera repetição de um texto paralelo.

Também com respeito ao vocabulário e estilo observam-se, no Pentateuco, numerosos matizes diferentes. Assim, por exemplo, em Gênesis, que começa com uma dupla apresentação do relato da criação (1.1 – 3.24): enquanto que na primeira o Criador é chamado de YHWH Elohim, expressão traduzida por “Senhor Deus”, na versão de João Ferreira de Almeida. A partir desses relatos e até o momento em que Deus se revela a Moisés no monte Horebe (Ex 3.1-15), a alternância dos nomes divinos mantém-se com relativa uniformidade.

Algumas passagens do Pentateuco caracterizam-se pelo seu frescor e espontaneidade, por exemplo, Gn 18.1-15; outras, como acontecem em Levítico, recorrem a uma linguagem jurídica de grande precisão, para tratar de temas legais ou relativos à prática do culto de Israel; e ainda a outras (como Deuteronômio) que introduzem cálidos acentos, mesmo ao proclamar a Lei e ao exortar o povo a obedecer-lhe em devida resposta ao amor de Deus. A análise dos indícios mencionados revela que o Pentateuco é o resultado de um processo lento e muito complexo, em cuja origem descobre-se a figura de Moisés, o grande libertador e legislador que, com a sua personalidade, marcou o espírito e a história do povo de Israel; um processo que se encerra com a coleção formada pelos cinco primeiros livros da Bíblia.

Na formação do Pentateuco há um importante trabalho inspirado, que compila, ordena e redige narrações, séries genealógicas e conjuntos de leis que, durante séculos, haviam sido transmitidas oralmente de uma geração para outra. Nele está contida a herança espiritual que Moisés legou ao povo de Israel, uma herança viva, fielmente transmitida e enriquecida com o passar dos séculos.

Os principais temas e as seções correspondentes do Pentateuco podem ser analisados segundo o esquema seguinte:

• Desde a criação do mundo até a genealogia de Abraão (Gn 1 – 11);

• A história dos Patriarcas (Gn 12 – 50);

• A saída do Egito (Ex 1 – 15);

• Desde o Egito até o Sinai (Ex 19 – Nm 10);

• Desde o Sinai até Moabe (Nm 10 – 36);

• O livro de Deuteronômio (Dt 1 – 34).

Em breve estarei postando uma pequena introdução de cada livro que compõe o Pentateuco. Aguardem!
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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ide, batizai, fazei discípulos e ensinai!

Conheça um pouco sobre a atuação missionária da Igreja Metodista

Essas ordens dadas por Jesus aos discípulos em Mateus 28 são chamadas de a Grande Comissão. Uma das preocupações da Igreja Metodista é fazer cumprir essa Missão, mas como e onde? Pode ser no país, no exterior, na igreja local, vizinhança... Em qualquer lugar se pode fazer missão!

O ministério de Evangelização ou Expansão Missionária da igreja local deve ter seu Plano de Ação definido no início do ano, ou seja, quais as estratégias evangelísticas para o ano vigente? Culto ao ar livre? Visitas? Evangelismo pessoal? Série de conferências missionárias? Existem várias alternativas para o desenvolvimento desse ministério: cadastro de visitantes nos cultos e um contato posterior agradecendo a presença, visitas em hospitais, asilos, presídios... até a abertura de um Ponto Missionário ou Congregação.

Embora a abertura de um ponto missionário ou congregação seja uma decisão da Igreja Local, é preciso estar atento para algumas questões. É preciso ter o parecer do Superintendente Distrital (SD) e ser regulamentado pelo Concílio Regional, que irá credenciar o seu funcionamento. Para que a igreja receba este credenciamento, de acordo com os Cânones (Art. 122), precisa obedecer a alguns critérios como, por exemplo, apresentar capacidade de exercer os atos de piedade e misericórdia; contar com atuantes ministérios de Administração, Ação Social e Trabalho com Crianças e, dispor de pessoas disponíveis e recursos financeiros para o seu funcionamento, incluindo remuneração pastoral e quotas orçamentárias.

Os chamados "Campos Missionários Regionais", ou seja, "todo trabalho que a Igreja Metodista realiza, por iniciativa da administração Distrital, Regional ou Geral" (Art.106 § 1º), são criados pelos Concílios Regionais ou por ele recebidos pelo Concílio Geral. Estes campos estão sob a responsabilidade das respectivas regiões. Portanto, cada região eclesiástica desenvolve um projeto missionário específico que visa cumprir a Missão designada por Jesus. Vejamos alguns projetos de algumas regiões: 


Projeto Três Dias para Jesus, da Rema: proclamação, louvor e ação social reunidos num único evento.
Uma das formas que Região Missionária da Amazônia (REMA) encontrou para fazer a missão foi o Projeto Missionário 3 Dias Pra Jesus que, realizou sua sétima edição no ano passado. Seu objetivo principal é anunciar as Boas Novas do Evangelho, colaborar na construção de templos, contribuir com a cidadania por meio dos cursos de capacitação, divulgar as atividades e presença metodista na comunidade em torno da Igreja Local, fortalecer a Igreja Local em sua Ação Missionária entre outras atividades na área da saúde.

Outro projeto administrado pela REMA é o Barco Hospital que realiza viagens missionárias ao longo do ano com o apoio de voluntários nacionais e internacionais que prestam atendimento comunitário na região dos Rios Madeira e Canumã, onde a Igreja mantém projetos comunitários através de convênio da AMAS - Manaus e a organização Visão Mundial.

Barco Hospital: atendimento médico e evangelização às populações ribeirinhas da Amazônia.
A REMNE também desenvolve vários projetos missionários, dentre eles, o Voluntários em Missão (VEM). O objetivo do VEM é que as pessoas possam compartilhar seus talentos e dons em atividades missionárias, como, por exemplo: construção e reformas de igrejas, espaços pedagógicos e educação cristã, atividades na área da saúde, educação cristã para adultos e crianças, entre outras atividades. Se você sente esse chamado de Deus em voluntariar-se com a Missão na Remne entre em contato pelo seguinte e-mail: vim_remne_brazil@yahoo.com.br ou acesse: www.remne.metodista.org.br para saber mais o dia-a-dia do VEM.

Evangemed e o projeto "Momento de Deus", prática de evangelização integral organizada por Jovens da I Região.
Um dos projetos missionários desenvolvidos na Primeira Região Eclesiástica é o Evangemed que é baseado no Instituto Central do Povo (ICP) em convênio com o Concilio Mundial Metodista. Este projeto é equipado com dois traillers especiais com equipamento médico e dentário para servirem de apoio às comunidades do Rio de Janeiro, além de outras clínicas fixas e parcerias de saúde. O objetivo do projeto é agir como uma agência facilitadora na área de saúde integral de acordo com os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Igreja Metodista. Para saber mais acesse o site http://expansaomissionaria.org.br/.

Na Segunda Região, o Projeto Missionário Regional já está em sua quinta edição. Ele acontece sempre no último final de semana de julho para coincidir com as férias. Este projeto que teve início na cidade de Rio Grande (Campo Missionário Regional) com cerca de quarenta pessoas e, a cada ano, o número de participantes cresce. Na última edição em Itaqui foram contabilizadas 105 pessoas de fora da cidade apoiando a missão. A próxima beneficiada será a cidade de Pelotas. O Projeto é desenvolvido como uma programação do MAE (Ministério de Apoio Episcopal) e realizado com o apoio dos Ministérios e Federações da 2ª Região. Segundo o Secretário Executivo da AIM - 2ªRE, Rev. Marcelo Montanha Haygertt, o projeto está caminhando para se tornar semelhante ao Uma Semana Para Jesus: "Temos procurado durante os projetos, unir ações comunitárias com trabalho evangelístico. Nas edições anteriores tivemos algumas atividades sociais durante o dia, enquanto equipes de evangelização realizavam seu trabalho. Este projeto sempre é orientado e supervisionado pelos SDs da Região (...) estamos na busca de uma fórmula que possa unir estes dois conceitos tão fundamentais para nós metodistas".

A Quarta Região desenvolve, entre outras atividades, o Projeto Missionário Passa à Macedônia, como o apoio das Sociedades de Mulheres e Homens, que em 2008 esteve no Campo Missionário de Medina. Foram mais de 400 pessoas reunidas com o intuito de levar às Boas Novas ao povo mineiro Medinense. Este não é somente um projeto missionário, mas de revitalização e consolidação de campos missionários regionais rumo ao seu auto-sustento, autogoverno e autoproclamação. Sua próxima edição acontecerá em Varginha, Campo Missionário do Sul de Minas.

Na Quinta Região O Projeto Semana Pra Jesus, o pioneiro das "semanas" que acontecem em outras regiões, tornou-se instrumento de expansão missionária.Este projeto também é uma ótima oportunidade que os membros e clérigos encontram para fazer a missão através dos dons concedidos por Deus. As atividades variam desde cortes de cabelos, atendimento na área da saúde a construção de templos.

Na Área Geral da Igreja Metodista as campanhas nacionais de Oferta Missionária e de Evangelização são realizadas anualmente e organizadas pela Coordenação Nacional de Expansão Missionária (CNEM). Ambas desenvolvem um papel extremamente importante para o desenvolvimento missionário nas igrejas. Dentre outras atividades a CNEM também é responsável em oferecer suporte aos missionários que são selecionados das Regiões para projetos missionários no país e exterior; buscar parcerias com Igrejas no Brasil e fora dele para expansão missionária da Igreja Metodista.

Bispo Stanley Moraes e o missionário Cizi Manduca, na Aldeia Maruway, em Roraima.
O missionário indígena Cize Manduca é quem lidera a comunidade, onde vivem cerca de 150 índios da etnia macuxi.

A Igreja Metodista tem um trabalho de evangelização entre os macuxis há mais de 15 anos e tem procurado apoiá-los também em suas necessidades materiais: perfurou um poço artesiano de 132 metros de profundidade e construiu uma caixa d´água com 10 mil litros de capacidade que, através de um gerador, leva água encanada para todas as casas da aldeia. A Igreja Metodista também mantém os projetos indígenas Tapeporã e Eirunepé, entre outros. Estes projetos recebem apoio da Expansão Missionária da Área Geral, e são desenvolvidos por suas respectivas regiões.

Aqui você viu apenas alguns exemplos do imenso campo missionário que se estende no Brasil e exterior. E a sua igreja, que campos missionários ela está enxergando para este ano?

Pr. José Geraldo Magalhães Jr.
Fonte. Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão e www.metodista.org.br

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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Luxo e Justiça

Entre o Luxo e a Justiça: Qual espiritualidade vivemos?
"Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário do seu trabalho. Que diz: Edificarei para mim uma casa espaçosa, e aposentos largos; e que lhe abre janelas, forrando-a de cedro, e pintando-a de vermelhão. Porventura reinarás tu, porque rivalizas com outro em cedro? Acaso teu pai não comeu e bebeu, e não praticou o juízo e a justiça? Por isso lhe sucedeu bem. Julgou a causa do aflito e necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o SENHOR".(Jeremias 22. 13-16)

Devo confessar: até alguns dias atrás não tinha visto este texto de Jeremias. Por isso a Bíblia é maravilhosa, ela nos surpreende de maneira agradável e muitas vezes duramente. Situamos primeiramente o texto. Está no reinado de Jeoaquim, portanto, a profecia de Jeremias é direcionada a esse rei. Porém, o texto cita outro rei, esse mais elogiado que Jeoaquim: o bom rei Josias, pai do atual rei em questão. As palavras proferidas através do profeta para o rei Jeoaquim são duras. Uma critica ao seu governo e sua soberba luxuosa. Mas o que me chama a atenção é a comparação feita entre Jeoaquim e Josias, parece um embate entre o luxo e a justiça, entre a aparência e o conteúdo. Claro que Josias é elevado na condição de justo, portanto, um homem de Deus. Enquanto Jeoaquim é acusado de voltar os olhos para seu próprio umbigo. Ao lermos o texto podemos ambientar essa questão para nossa espiritualidade. Que tipo de espiritualidade vivemos? Baseada na justiça ou no luxo?

Jeremias, com voz profética, repreende Jeoaquim, questionando-o se com luxo e beleza física ele iria fortalecer seu reinado. Este é um tipo de referência muita perigosa para uma vida espiritual. O luxo de uma aparência espiritual é enganosa. Fazer cara de espiritual, fazer gestos de espiritual, vestir de espiritual é fazer como Jeoaquim: edificar casa espaçosa, e quartos largos e passar vermelhão para impressionar. Algumas vezes voltamos toda nossa vivência com Deus para algo que agrade os olhos e impressione pessoas. Pode-se aparentar uma postura de um "homem de Deus", da mesma forma que Jeoaquim quis aparentar ser um Rei poderoso através de construções, a ponto do profeta perguntar se queria competir com os outros para saber quem tinha mais cedros (madeira usada na construção antigamente)! Luxuosamente, temos o hábito de seguir as modas que aparecem para que todos vejam que somos tão espirituais quanto fulano e sicrano que hoje faz "sucesso". Aconselhamento pastoral hoje, está virando um apanhado de jargões evangélicos do tipo "você precisa orar mais" " Deus sabe de todas coisas"...palavras fáceis, que aparentam uma "espiritualidade de luxo". Nada adianta ter a aparência de um poder espiritual se a essência da vida é tosca e pobre.

E o Profeta lembra de Josias que não tinha luxo, não tinha aparência, mas nunca lhe faltou o que comer e beber e ainda assim, reinou alicerçado na Justiça. A verdadeira espiritualidade não é encontrada no exterior, mas nasce no interior do ser e reflete em atos de um verdadeiro convertido. Talvez estejamos direcionando nossas igrejas para o lado errado. Talvez nossa espiritualidade esteja mais no campo do "pareço ser crente" do que nossos atos fortalecidos na Justiça de Deus. Talvez estejamos mais para Jeoaquim do que para Josias. Creio que estejamos muito preocupados com o que aparentamos e negligentes com que acreditamos. E sabe o que é mais temeroso? Jeremias termina no verso 16 dizendo: Julgou a causa do aflito e necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o SENHOR.. Olha como se conhece o Senhor...Tenho aprendido nos meus poucos anos de ministérios que Deus só habita onde há Santidade, Unidade e Justiça. Santidade fortalecida na Verdade, Unidade baseada no Amor e Justiça que cresce na Compaixão. Afinal, que espiritualidade vivemos? Luxo ou Justiça?

Antônio Carlos Soares dos Santos , pastor em Altamira, PA

Publicado em.www.metodista.org.br
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Alimento do Espírito

... o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. (1 Coríntios 11.23-26)


Foi assim que Jesus nos convidou para um banquete que começou há mais de dois mil anos e continuará a ser celebrado até o dia em que só compete a Ele saber. Cerimônia instituída como um memorial de sua paixão e morte, a Ceia do Senhor é um momento de reverência e humildade, precedido por arrependimento e confissão de pecados. É, portanto, uma cerimônia solene, que a Igreja participa em atitude de oração. Mas não é uma cerimônia triste, pelo contrário! A Ceia do Senhor é também comunhão, sinal do amor de Cristo por nós e do amor que os cristãos e cristãs têm uns pelos outros.


Conheça um pouco mais sobre este sacramento, com base no Ritual da Igreja Metodista, na Carta Pastoral sobre os Sacramentos e na consultoria do pastor Ronan Boechat, coordenador do Conselho Editorial do Jornal Avante e do Ministério Regional de Missões e Evangelização da Primeira Região Eclesiástica da Igreja Metodista.


Sei que devo ir à Mesa do Senhor apenas quando estou com minha consciência tranqüila diante de Deus. Mas estou enfrentando uma fase difícil com meu filho. Muitas vezes durante a semana eu brigo com ele e, quando o pastor faz o convite não me sinto no direito de tomar a Ceia.


De fato, a Ceia deve ser tomada apenas após arrependimento e confissão de pecados. O apóstolo Paulo já dizia: "... aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice; pois o que come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si" (1 Co 11.27-29). Contudo, é necessário ressaltar um importante aspecto: a ceia não exclui os pecadores arrependidos. Somos seres humanos e cometemos falhas mesmo quando não desejamos, uma experiência que o apóstolo Paulo também vivenciou: "Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7.19). Por isso é que um importante momento da liturgia da Ceia do Senhor é a confissão dos pecados e a proclamação do perdão. Se o pecado nos acusa, o sangue de Jesus nos regenera: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; ele é a propiciação pelos nossos pecados..." (1 Jo 2.1-2).


Assim, antes de ir à Mesa da comunhão, busque a reconciliação com familiares, amigos (as), irmãos(as) da Igreja. Se isso não for possível naquele momento, presencialmente, faça as pazes, em oração, com os seus irmãos(ãs) e consigo mesmo(a) perante o Senhor. Afinal, se você, por seus próprios méritos, esperasse ter o "direito" de se aproximar da Mesa do Senhor, você jamais o faria, pois nunca seríamos capazes de chegar a Deus completamente isentos(as) de pecado; só o fazemos pela misericórdia divina. Por isso, a Ceia do Senhor não é um "direito" nosso: ela é tão somente um sinal da graça de Deus e ação de graças da Igreja pela morte e ressurreição de Jesus. Aceite essa dádiva com gratidão e humildade.


Não sou metodista, mas quando visito parentes metodistas em outra cidade costumo freqüentar os cultos. Eu posso tomar a Ceia na Igreja Metodista?
Nós metodistas entendemos que a Ceia é do Senhor Jesus e não da Igreja Metodista. Assim sendo, todas as pessoas batizadas em qualquer comunidade cristã em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, que estejam emcomunhão com suas igrejas e que a consciência não lhe acusar a existência de pecado não confessado, são bem vindas a participar da Ceia do Senhor na Igreja Metodista. Onde quer que a Ceia seja celebrada, Jesus está presente.A Ceia além de celebrar a vitória de Jesus sobre a morte, de afirmar a nossa fé em sua segunda vinda, é também o nosso testemunho de que nós cristãos somos um povo de um só Senhor. Um único e mesmo Salvador é também Senhor das denominações e seus pastores(as) e de seus ritos.


Assim, em nenhuma hipótese a celebração da Ceia do Senhor deve ser feita a portas fechadas, tampouco negada a qualquer visitante, seja qual for a origem cristã dele ou dela. Nós, metodistas, afirmamos que a Mesa é do Senhor da Igreja. Sendo assim, todos aqueles(as) que crerem em Jesus e estiverem arrependidos(a) de seus pecados estarão aptos(as) a participar da Mesa do Senhor.

A Carta Pastoral sobre os Sacramentos nos lembra que a Ceia do Senhor é um memorial da celebração da ceia da Páscoa que Jesus realizou com os discípulos (Lc 22.14-23). Na celebração da Páscoa judaica, o que iniciava o ritual era uma pergunta feita por uma criança: "... que ritual é este?" (Êxodo 12.25-27). Assim, era celebrada a Páscoa, família por família, recordando a libertação do jugo do Faraó. Ninguém era excluído, pelo contrário, se a família era pequena, devia convidar os vizinhos (Êx. 12.3-5). A experiência da Ceia do Senhor é, portanto, o momento em que obedecemos a ordem de Jesus de repetirmos a refeição da última Ceia de Páscoa num encontro de comunhão, amizade e inclusão.


Uma irmã de nossa Igreja está em pecado mas continua participando da celebração da Ceia. Está correto isto?
A Palavra de Deus afirma: "todo homem e mulher são pecadores e carecem da glória de Deus" (Rm 3:23; Rm 6:12). Ela nos aponta o caminho: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1Jo 1:9).

Participamos da Ceia não porque sejamos bons, mas confiados na multidão das misericórdias e no mérito exclusivo do nome do Senhor Jesus. Por isso a necessidade da confissão e quebrantamento antes da participação: "sou pecador(a)". Mas se não há arrependimento e mudança de atitude verdadeiros, não há perdão divino, pois o perdão é conseqüência da confissão. E o texto bíblico alerta: "aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si (2Co 5:27-29). O texto bíblico não diz que nós devemos ficar examinando uns aos outros, mas cada um deve examinar a si mesmo.

O livro do Ritual da Igreja Metodista é bem claro: o pastor ou pastora metodista não poderá negar a ceia do Senhor a qualquer pessoa que se aproximar da Mesa da Comunhão. A mesa é do Senhor, é Ele quem convida. Por isso, o pastor ou a pastora metodista, ou qualquer órgão da Igreja, também não poderá suspender da Ceia do Senhor qualquer membro da Igreja, a não ser através de processo disciplinar, como orientam os Cânones.

Voltemos à comparação com a Ceia da Páscoa judaica. No judaísmo dos tempos de Jesus, as exclusões eram freqüentes: eram considerados impuros os doentes, mulheres no período de menstruação, samaritanos, gentios e pessoas que exerciam certas profissões marginalizadas, como os cambistas e os curtidores, e até mesmo quem apenas tocava em qualquer impuro. Mas a Ceia instituída por Jesus trouxe a novidade da inclusão: dela podiam participar pessoas dos segmentos menos nobres da sociedade judaica, como eram os próprios discípulos. O momento da Ceia do Senhor tornou-se um espaço de todos que celebravam e criam em Jesus como Senhor e Salvador. Não havia ninguém para classificar quem era puro ou impuro, o critério de inclusão era pessoal, conforme instruiu o apóstolo Paulo: "cada um examine-se a si mesmo".

Mas, e se sabemos que há um irmão ou irmã vivendo deliberadamente em pecado? Então, devemos seguir o procedimento que Jesus nos ensinou em Mateus 18:15-17: "se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.Se ele não te ouvir, diz o texto bíblico, volte a buscar o diálogo levando um ou duas testemunhas e, se ainda, assim, o conflito não se resolver, busque a ajuda da congregação. E ore sempre pelos seus irmãos e irmãs.

Não acho certo que crianças tomem a Ceia. Elas ainda não entendem o sacrifício de Jesus, nem o significado dos símbolos e não têm reverência.
A Ceia do Senhor é uma refeição comunitária que celebra uma aliança com Deus. Você deixaria seu filho sem comer até que ele pudesse compreender a importância do alimento para a sua vida? Não, você o alimenta. Ele não sabe distinguir carboidrato de proteína, mas intui que o alimento é vital para sua sobrevivência e, mais ainda: ele pode sentir que este alimento está sendo oferecido com amor. Com o passar do tempo, ele aprenderá sobre a importância de cada nutriente. Contudo, a primeira lição ele já aprendeu: o filho sabe que é alimentado porque seus pais o amam. Ao redor da Mesa do Senhor, a criança também se sente acolhida pela comunidade de fé. No exemplo de Cristo que deu sua vida, e no exemplo da comunidade com quem ela partilha o pão, a criança aprende o significado do amor. Antes que compreendam o significado, as crianças aprendem pela vivência. Aprendem a falar ouvindo os pais falando. Aprendem gestos, vendo como os adultos gesticulam. Aprendem o que é comunhão pelo testemunho da Igreja.

O pastor metodista norte-americano Zachary C. Beasly, no texto Preparando as crianças para a comunhão (publicado no caderno Nós e a Criança, produzido pelo Departamento de Crianças da I Região Eclesiástica) diz o seguinte:"Por menor que seja a criança, e por menor que seja sua capacidade de compreensão, o pastor/a ou responsáveis devem afirmar à criança quando ela for participar da Mesa do Senhor que "você está participando da Ceia do Senhor porque Deus ama muito a você e sua família".
A reverência é algo que adultos precisam praticar e que as crianças precisam aprender. Como na prática da circuncisão no Antigo Testamento, eram os pais (responsáveis legais e espirituais da criança) que deviam ter a fé em Deus, optar por participar da Aliança com Deus e buscar entender Sua vontade. A Bíblia diz: "educa a criança no caminho em que deve andar" (Pv 22:6). Ou seja: nós "lançamos a semente" e a regamos, mas quem dá o crescimento é Deus (1 Co 3:6-7).
No caso de crianças cujas famílias não participam da Igreja e/ou não são famílias cristãs o Pr. Zachary C. Beasly sugere que algumas famílias da Igreja sejam orientadas a "adotar" estas crianças durante a celebração da Ceia do Senhor "para irem juntos até ao altar e participar deste meio de graça tão importante". Afinal, a Igreja tem de assumir a responsabilidade pelo cuidado das crianças que fazem parte da comunidade da fé. Se Deus coloca as crianças no meio do povo de Deus, da família da fé, do rebanho do Senhor, a Igreja tem de amar, acolher, cuidar, educar.


Meu marido está de cama e não está participando dos cultos de Santa Ceia. Posso levar a Ceia para ele tomar em casa?
Peça ao pastor ou pastora que leve à Ceia até o seu marido. A ministração da Ceia do Senhor nos lares só poderá ser realizada com a presença do pastor, ou pastora, a quem cabe consagrar os elementos para a celebração. Além da presença do pastor(a) que vai visitar e cuidar da ovelha ferida em casa ou num hospital, é importante comer o pão e beber do cálice da Ceia do Senhor num ambiente de culto, ou seja a leitura bíblica, as orações e também a confissão de pecados. Segundo a Pastoral sobre os Sacramentos, escrita pelos nossos Bispos, em casos excepcionais, quando não for possível ao pastor ou pastora, leigos e leigas podem levar a Santa Ceia aos doentes e idosos que não possam ir ao templo, desde que os elementos da Ceia sejam consagrados pelo(a) ministro.

Já participei de celebração que usava outros elementos além de pão e vinho, como leite e frutas. Há algum problema nisso? A própria Igreja Metodista não usa vinho, mas suco de uva.

A ceia do Senhor instituída por Jesus tem dois elementos constitutivos: pão e vinho. São o trigo e a uva pisados e moídos, tal como aconteceu com o Senhor Jesus ao ser pisado e moído (assassinado) na Cruz do Calvário. Não devemos mudar esses símbolos biblicamente definidos e universalmente reconhecidos.

Eventualmente pastores(as) e igrejas celebram a ceia judaica, muito particularmente no período próximo da celebração da Páscoa, com todos aqueles elementos, entre os quais as plantas amargas, o mel, etc... Não há pecado em celebrar a ceia judaica, mas é preciso discernimento e bom senso, não substituir a ceia instituída por Jesus pela celebração da ceia da antiga Aliança e nem inventar moda de ficar adicionando outros elementos à Ceia que tire a sua mensagem simples, clara e espiritual.


É verdade que os cristãos num momento da história substituíram o vinho pelo suco de uva, eliminando o álcool da Ceia. Não podiam combater o vício e cuidar solidariamente dos dependentes químicos (alcoólicos) oferecendo bebida alcoólica no altar o Senhor, ainda que em pequenas doses. Para quem não sofre essa dependência talvez não faça diferença nem sentido, mas para o alcoólico faz toda diferença: evitar o primeiro gole. E no mais, o suco de uva, que ainda chamamos de vinho, continua sendo o produto da uva amassada e pisada. O pão também não é o mesmo: alguns usam pão caseiro, outros pão industrializado, outros pão sem fermento... mas o trigo e a uva estão na Ceia do Senhor.

Com que freqüência a Igreja deve celebrar a Santa Ceia?
A Ceia do Senhor no princípio era celebrada todos os domingos como uma espécie de "aniversário" da morte e ressurreição de Jesus. O nosso culto dominical como o conhecemos hoje nasceu a partir da celebração da Ceia do Senhor. Por isso na maior parte das igrejas há a mesa da comunhão bem no meio do altar. É como se toda a congregação estivesse reunida ao redor da mesa da Ceia, do Senhor Jesus. E pela fé Jesus está na cabeceira dessa Mesa, como anfitrião supremo.


Mas houve uma época em que não havia pastores e missionários para atender dominicalmente a todas as igrejas e congregações, de modo que os pastores tornaram-se itinerantes, viajando continuamente de um lugar ao outro para atender as muitas e longínquas congregações. A Ceia era celebrada só quandoo pastor estava presente na Congregação, e não mais dominicalmente. Via de regra a Ceia ficou sendo celebrada uma vez por mês, mas há igrejas que a celebração é quinzenal e em outras poucas a celebração é dominical. Os Cânones, o livro com as leis, orientações e principais documentos da Igreja Metodista, dizem que a Ceia pode ser ministrada, "a juízo do pastor e do Concílio Local, com a freqüência que, em conjunto, determinarem, visando sempre à edificação espiritual da Igreja" (p.64). A Carta Pastoral sobre Sacramentos orienta que a Ceia do Senhor seja realizada pelo menos uma vez por mês. "Em nenhuma hipótese a comunidade de fé abandonará a experiência profunda da participação da Mesa do Senhor".


Já vi leigos e até crianças distribuindo os elementos da Ceia. Este trabalho não caberia a um ministro?
Cabe ao ministro o ritual da consagração dos elementos da Ceia. Mas, no contexto de Dons e Ministérios, o pastor ou pastora deverá convidar membros leigos e leigas para ajudar na ministração dos elementos, ou seja, na distribuição do pão suco de uva. Tais convites devem ser feitos com antecedência, tendo-se o cuidado de escolher entre os membros de comprovada idoneidade cristã, preferencialmente de ambos os sexos.

Publicado originalmente em www.metodista.org.br
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Gaditas: eles são pela guerra

Várias igrejas evangélicas, inclusive algumas metodistas, têm destacado textos bíblicos que citam a antiga tribo dos gaditas como inspiração para a espiritualidade dos dias de hoje. É importante, no entanto, conhecer a história da tradição dessa tribo.



O adjetivo gadita vem do nome Gad, uma palavra semítica ocidental. No Antigo Testamento, a raiz gd foi usada com dois significados:



1) Como nome próprio: Gad era um dos filhos de Jacó e Zelfa (Gn 30,10-11), que viria a dar o nome da tribo de Gad, que se estabeleceu a oeste do rio Jordão, cuja extensão ia do rio Arnon até ao sul do lago Quinerete (Tibérias). Localizada fora de Canaã, essa tribo estava em constante conflito com os povos fronteiriços. Daí as suas qualidades guerreiras, exaltadas nas bênçãos de Jacó (Gn 49,19) e de Moisés (Dt 33,20-21).



2) Gad também tinha o significado de "fortuna" ou "sorte". Alguns estudiosos sugerem que o termo gad tem seu significado nas palavras de Lia: E disse Lia: bagad, Afortunada! E chamou o seu nome Gad (Gn 30,11; conforme Is 65,11).



O uso da palavra gad com o sentido de afortunado era, provavelmente, o mais corrente. No âmbito secular, a palavra gad é usada como uma interjeição, ou seja, uma expressão para demonstrar um sentimento, como "Que sorte!", conforme Gn 30.11. O autor deste texto fornece um valioso testemunho que pode apontar p ara o significado mais correto e original desta palavra que é sorte. Nesse caso, a palavra gad perde toda a força teológica. A sorte, segundo a Bíblia, não tem muito a ver com a ação de Deus.




Uso religioso da palavra Gad.
Gad é um deus cananita. O livro de Isaías menciona o nome gad referindo-se a uma divindade. Mas quanto a vós que abandonais a Javé, que vos esqueceis do meu monte santo, que preparais uma mesa para gad, que ofereceis misturas em taças cheias a Meni (Is 65,11).



Gad era também o nome de um profeta. Antes de se tornar rei de Israel, um profeta com o nome de Gad atuou condenando o censo do povo (2Sm 24,10-17; 1Cr 21,7-17), recomendando a construção de um altar (2Sm 24,18-25; 1Cr 21,18-32) e participando da organização do culto levita (2Cr 29,25-29).


O significado teológico de Gad
Há, possivelmente, duas possíveis vertentes do significado de gad que passaram para a história bíblica. Provavelmente, a palavra gad ganhou relevância em vista do seu significado, sorte. É sabido que o conceito de prosperidade, como sucesso financeiro, trouxe preocupação aos profetas bíblicos. Essa idéia exerceu uma forte pressão na teologia bíblica, conforme as preocupações do profeta Jeremias (12,1-6) e do salmista (Sl 49). Vivendo entre povos que acreditavam na manipulação dos deuses, para obter sucesso e prosperidade na vida, os líderes israelitas tiveram grandes dificuldades para instruir o povo sobre a inutilida de dessa crença, entre os israelitas.
Entretanto, o significado de guerreiro é, certamente, a caracterização que mais exerceu pressão junto ao povo, no período pós-exílico. Essa caracterização tem sua base na "bênção de Jacó" (Gn 49,19). Todavia, na "bênção de Moisés", a fama de tribo "guerreira" deixa de ser, assim, caracterizada, e passa a ser "forte e destemida" como uma leoa: E para Gad ele diz: Bendito aquele que dá espaço a Gad! Como uma leoa, ele habitará; E destroçará o braço e o alto da cabeça. E ele verá as primícias para si. Eis que! Lá estava escondida a porção do legislador, E ele veio a ser cabeças do povo, A justiça de Javé ele fará, E os seus julgamentos (para) com Israel (Dt 33,20-21). Na "bênção de Moisés", a tribo de Gad perde o nome de guerreira, mas não deixa de ser valente na defesa dos seus interesses. Sua luta tem a ver com a justiça do Senhor, isto é, ação de Deus que salva e traz bem-estar para o povo.




A re-significação do nome Gad no período grego
Apesar da tribo de Gad ter desaparecido, a tradição gadita renasceu no período pós-exílico, na Obra Historiográfica do Cronista, que reúne os seguintes livros: 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias. Esta é uma obra de redação tardia que dá elevado destaque a Davi. Vivendo num cenário totalmente desfavorável - seja político e econômico ou social e religioso - os judeus concentravam os seus sonhos no messias forte e guerreiro para superar todas as adversidades impostas pelos gregos. Davi é "homem de Deus" (2Cr 8,14), modelo de fidelidade (2Cr 7,17).



Carecendo de valores materiais e força espiritual para superar as limitações, o Cronista re-escreveu a história de Israel até os dias de Esdras. É tempo de buscar e valorizar os grandes nomes do passado: a figura de Aarão é resgatada e transformada em símbolo dos sacerdotes e Davi é transformado no ideal do homem piedoso. Isso incentivou os defensores da guerra a buscarem, no passado, a indomável figura dos guerreiros gaditas. Partidário dessa idéia, o cronista assim escreveu: Eram heróis valorosos, homens de guerra prontos para combater que sabiam manejar o escudo e a lança. Tinham o aspecto de leões e, quanto à agilidade, pareciam gazelas das montanhas... Esses eram filhos de Gad, chefes de batalhão; um correspondia a cem, se fosse pequeno; a mil se fosse grande... (1Cr 12,9-16).



Conclusão
Na literatura do Antigo Testamento (e também no Novo Testamento), a tribo de Gad não desempenhou um papel significativo na história e na teologia bíblica. Apesar de ser qualificada como uma tribo guerreira (Gn 49, 19), Gad foi derrotada pelos amonitas, em meados do século IX AC, desaparecendo-se do cenário histórico.

A razão pela qual o Historiador Cronista resgatou a figura dos gaditas pode ser vista de vários ângulos. No período pós-exílico também foi recuperada a figura de Aarão. Seus descendentes assumiram o controle do Segundo Templo. Contudo, é fundamental que o intérprete da Bíblia leve em consideração pelo menos dois detalhes esclarecedores: (a) A editoração da Obra Historiográfica do Cronista deu-se, provavelmente, no século III aC. (b) Dentro de sua hermenêutica, a vitória do povo de Deus viria somente através de uma batalha que incluía, entre outros elementos, a força espiritual. É sabido que Israel não mais se ergueu como nação.



Destaco que nessa mesma época um crente javista escreveu uma poesia que se transformou num hino dos peregrinos que iam periodicamente às festas, em Jerusalém. Há muito que habito com o que odeia a paz. Eu sou pela paz.... Eles são pela guerra (Sl 120,6-7). Diante da opção pela volta dos guerreiros, como os gaditas, o livro de Salmos registra esta opinião contrária: Eu sou pela paz.... Eles são pela guerra.



A sociedade e parte das comunidades evangélicas estão produzindo nos jovens uma mentalidade de sucesso a todo custo, com forte incentivo à violência. Será que a idéia dos "guerreiros gaditas" é o melhor modelo de espiritualidade para os dias de hoje? Os evangelhos silenciam sobre a opção "gadita".



Texto adaptado da pesquisa feita pelo pastor Tércio M. Siqueira, professor da área de Bíblia, da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo.



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sexta-feira, 16 de abril de 2010

O serão dos animais

Memória

Bispo Scilla Franco (1930-1989)

O serão dos animais

Caía a tarde na granja, o Sol com seus raios dardejantes rasgava o firmamento que sangrava, tingindo-o de vermelho. O cavalo há tempo descansado coçava o queixo na lasca do chiqueiro onde o porco de barriga cheia roncava como um porco. O burro chega do trabalho, rola no chão (é a maneira dos burros espreguiçarem), vai lamber um pouco de sal no cocho, donde pode ver a TV a cores do granjeiro, e o cavalo inicia o diálogo.

-- Muito trabalho, compadre burro?
-- Coisinha à toa. É o maldito progresso que não respeita nem o sítio. Veja lá a TV a cores. Que desperdício! A máquina faz tudo, somos cada vez mais expectadores.
-- Isto é bom, -- atalhou o cavalo, -- vai chegar o dia em que não faremos além de correr pelos prados.
-- Bem se percebe a estreiteza de sua cavalar sabedoria. Os donos das máquinas entre os humanóides, querem todos a seu serviço e quando não mais servem...
-- Que ocorre? -- interrompe o cavalo assustado.
-- Até pareces que não acompanhas o noticiário... o desemprego, nunca ouviu falar nesse fantasma?
-- Confesso nada entender do assunto.
-- Pois é, eu explico: quando a sede do lucro não quer produzir mais dividendos para a classe patronal, duas são as medidas: achatamento salarial e automatização que permita dispensar os trabalhadores.
-- Não vejo mal algum. Afinal é o preço do progresso.
-- Bem se vê que és pouco maduro nas questões sociais. Milhares de trabalhadores sem emprego significa outros milhares de mulheres sem pão, sem leite, sem moradia decente... e convulsão social, meu amigo. E como conseqüência imediata vêm os ladrões, os mendigos, as doenças, a morte...
-- Cruz credo, -- interjecta o cavalo, -- ainda bem que não nos atinge! Não acha grande burrice que os homens fazem?
-- Burrice não, -- corrigiu o burro, --"homisse", isso sim. Não esteja tão tranqüilo, pois o nosso destino é virar mortadela quando essa situação chegar às fazendas. Isso é muito mais desonroso, porque o primeiro rótulo eles põem obrigatoriamente "produto feito com carne de cavalo". Ora, não sou cavalo, depois sempre tem os vivaldinos que colocam sobre o rótulo o aviso "com carne de vaca". Não é humilhante?
-- E eu que pensava que enquanto houvesse capim pelos campos eu pudesse correr livremente por eles...
-- Infelizmente, você não está só nesse pensamento. Há muita gente boa pensando assim e só se apercebam disso quando estão virando mortadela.

Houve silêncio entre os dois. O burro assumiu ares de filósofo. O cavalo apreensivo perguntou.

-- Mas... e os cristãos que aos domingos eu levo de charrete até a igreja? Eles vão cantando, nem parecem preocupados com este assunto.
-- Esse é o mal, -- lembrou o burro, -- há várias espécies deles: espiritualistas autênticos, coniventes e indiferentes, além de muitos outros.
-- Confesso que fiquei na mesma, -- afirmou o cavalo.
-- Os espiritualistas fazem jejuns e orações a favor dos oprimidos, mas nem sequer pagam salários às empregadas domésticas e muito menos lhes concedem o direito de um descanso semanal remunerado. Os autênticos também jejuam e oram, mas procuram identificar-se com os oprimidos, por isso, muitos acabam crucificados como seu Mestre, ou marginalizados dentro da própria igreja. Os esquerdistas acusam os direitistas e vice-versa. Quando não lhes conseguem colocar uma mordaça, fazem ouvidos moucos e eles continuam como jumento a zurrar nos ouvidos do profeta. Os coniventes procuram tirar proveito da situação e manter a posição social, tendo sempre alguns foguetes de reserva para soltar ao vencedor. Os indiferentes são como você. Não se preocupam enquanto houver o pasto. Ia me esquecendo... há também os festivos. Esses fazem manifestos e mandam telegramas às autoridades constituídas. Dizem-se solidários com os favelados, mas nunca pregaram uma tábua num barraco, são amigos dos índios, mas nunca enviaram a eles um quilo de semente. Existem outras espécies como aqueles que só fazem denúncias.
-- Pelo visto são poucos os chamados "cristãos", -- suspirou desesperançado o cavalo.
-- É, sempre foram poucos, meu caro! Do dilúvio sobraram oito, de destruição de Sodoma e Gomorra restaram três, da urna de fogo da Caldéia sobreviveu um, dos espias de Jericó ficaram dois. O próprio Cristo escolheu doze apóstolos e um o traiu.
O cavalo quedou-se preocupado como quem procura uma saída num jogo de xadrez. Enquanto isso, concentrava-se no vídeo.
-- Mas domingo quando voltávamos da igreja ouvi dizer que os metodistas vão chegar a 100 mil...
-- Silêncio, -- disse o burro. -- Vai começar outra novela.

Bispo Scilla Franco
Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão, 2ª quinzena de junho de 1979.

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Graça consumatória

A Graça Consumatória
Parece estranho ler algo sobre a Graça Consumatória, pois estamos acostumados a ler e ouvir, segundo João Wesley, a respeito da Graça Preveniente, Graça Justificadora e Graça Santificadora.

Geralmente ao falar-se em Graça Preveniente, a ligamos ao Pai. Quando nos referimos à Graça Justificadora nos centramos na pessoa de Jesus Cristo. Ao pensamos na Perfeição Cristã ou Santificação, logo vem à nossa mente a pessoa do Espírito Santo.

O que seria Graça Consumatória?

É a Graça, através da Trindade, que faz possível à pessoa, à família e à Igreja levar avante a fé, a vida cristã, consumando-a na vida. É Graça que leva-nos avante à Consumação Final de todas as coisas em Deus.

Dependemos totalmente da Graça. Essa é uma mensagem bíblica e um fundamento do movimento Wesleyano. A vida cristã somente é possível pela graça. Não são as leis, a ética e a moral, as doutrinas ou a liturgia, nem mesmo a Igreja, como uma instituição, que faz possível vivenciar-se a fé cristã e sua conseqüente vida plena.

Temos tido muitas frustrações em nossa vivência cristã ao confiarmos em nosso ativismo, nos planejamentos e programas das igrejas, em nossas formas litúrgicas ou na ausência delas; em nosso esforço pessoal, familiar e social buscando vivenciar os princípios básicos de nossa fé e esperança.

Muitos, hoje, estão buscando uma “nova unção”, nova forma de revelação ou profecia, nova estruturação dinâmica da Igreja visando um crescimento acelerado. Muitas dessas coisas têm o seu lugar na vida cristã; outras são invenções de nossos tempos, de líderes que estão centralizando a fé no seu carisma pessoal ou comunitário. Há uma grande ênfase voltada para o Antigo Testamento, fundamentada isoladamente do seu contexto e de sua centralidade em Jesus Cristo.

Nada disso nos leva a uma vida plena centrada em Cristo. Quem leva à consumação da vida cristã, à missão da Igreja, ao propósito divino na vida da família, aos relacionamentos humanos em todas as suas áreas e níveis é a Graça Divina, que aqui a chamamos de “Consumatória”.

Não adianta inventarmos ou reinventarmos a “roda”, “os modismos”, as “prosperidades”, as “dependências em líderes apostólicos modernos”. O centro básico de nossa Fé e Vida Cristã, pessoal e comunitária, é a Graça. Somente ela consuma em nós as “fiéis e verdadeiras promessas bíblicas e divinas”.

Vivendo sem a Graça estamos “caindo na des-Graça”, vivendo “sem-Graça”, criando um estado de individualismo na fé, de personalismo na Igreja, de egocentrismo em nossos fundamentos de fé.

Podemos usar a Bíblia à nossa maneira, citando-a fartamente, mas sem a Graça, ela se torna um “ídolo”, ”uma filosofia de vida”, “forma de pensar e viver”, um instrumento de apologia cristã sem contudo ser a VIDA PLENA que Deus em Cristo trouxe-nos ao se tornar ser humano, identificando-se conosco, vivendo a nossa fragilidade, tornando-se Servo Sofredor, assumindo a Cruz e a Morte.Contudo, a Graça divina tornou a trazê-Lo à vida, colocando-o acima de todo o nome, autoridade, poderes, potestades, enfermidade, dor, morte e mal.

Não há outro caminho – só há o caminho da Graça, onde Ele, Cristo, nos leva a Deus, o Caminho que traz Deus a nós, vive Deus em nós, entre nós e conosco e, através de nós.

O Deus da Graça anseia agir em nosso tempo “consumando em nossa História” a Sua presença Salvadora e Redentora. A Graça Consumatória está ativa através da ação da Trindade visando amar ao ser humano, a sociedade e a natureza, redimindo-os para Si.

É claro que a Graça é Graça, cuja natureza e fonte é divina e nós, para entendê-la, a dividimos em fases, ou etapas, como Wesley fez. Na verdade, somos chamados a “pela graça sermos salvos”, através da fé (nossa confiança, acolhimento, entrega a Cristo), santificados, vivendo no presente século de forma justa, sensata e piedosamente e a esperarmos a plenitude da concretização do Reino através da vinda do Senhor Jesus. Tudo o mais... é tentativa humana... é resto...e não provém de Deus, mas de “obras humanas”; não é fruto da fé, pois nos gloriamos naquilo que somos e fazemos.

Ainda bem que Deus é tudo em tudo e que dependemos da Graça para que a nossa glória esteja nEle e não em nos mesmos, nem em nenhuma instituição, revelação, profecia, sonho ou estruturação eclesial.

É na cruz e ressurreição que eu me glorio. Isso é Graça! Aleluia!

Nelson Luiz Campos Leite
- Bispo Honorário da Igreja Metodista
Publicado originalmente no Jornal Expositor Cristão edição de abril/2010
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